Você está deprimido, ansioso ou estressado.
Quer melhorar seus relacionamentos.
Você sofre de ataques de pânico, vive com distúrbios alimentares, sofre alguma perda ou luto, está confuso sobre sua sexualidade.
Quando sua vida parece sem significado.
Quando você quer desenvolver seu potencial.
Quando você sofre de pensamentos obsessivos.
Quando você se sente travado pela raiva inadequada ou falta de confiança.
Quando você sofre problemas físicos sem causa física clara.
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
domingo, 30 de dezembro de 2012
“Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender...”
Os
gregos antigos perceberam que todo ser vivo, inclusive os animais, necessita de
algo, e que a necessidade se impõe, indistinta e soberanamente, a todos como
uma deusa. Todas as necessidades, de natureza interna ou externa, dos
relacionamentos pessoais, familiares e de afinidades com o próximo, tudo que
envolve a sobrevivência e permanência das espécies era denominada, Ananke.
Ananke passou a
ser compreendida, mais tarde, em outras culturas e religiões como “espírito
guia”, “santo protetor”, “gênio” ou “anjo da guarda”, conforme o pastor
anglicano e analista junguiano norte-americano John A. Sanford (1929-2005), em
seu “Destino, amor e êxtase: a sabedoria das deusas gregas menos conhecidas”
(São Paulo: Paulus, 1999).
Como deusa,
Ananke exige cooperação. Quer dizer, quaisquer que sejam as nossas necessidades
desafiam-nos a nos envolvermos pessoalmente, como que dizendo-nos: “Que você
fará comigo? Posso contar com você para me resolver?”
Entretanto, na
maioria das vezes, preferimos atendê-las da maneira mais simples possível, com
o mínimo esforço, acreditando que alguém possa nos socorrer e assumir as
responsabilidades pelas consequências. Desse modo, resistimos a cooperar com
Ananke, levando a um agravamento das situações, às vezes, insolúvel.
A letra da
cantiga presente na grande maioria das celebrações de fim de ano - “Adeus ano
velho! Feliz ano novo! Que tudo se realize no ano que vai nascer! Muito
dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender!” – exemplifica nossa resistência à
Ananke.
Não queremos
sentir necessidade de coisa alguma. “Muito dinheiro no bolso” – para nos
livrarmos das obrigações com o trabalho, e nos entregarmos aos prazeres do
lazer; “saúde pra dar e vender” – para que nada nos impeça no desfrute dos
prazeres advindos do dinheiro.
Objetamos
qualquer tipo de necessidade, porque nos são impostas exigências não desejadas,
não planejadas, que precisam ser atendidas; porque acreditamos que não podemos
precisar de coisa alguma, afinal, “bons” egocêntricos sabem o que quer fazer da
vida; porque necessidades geram queixas, e não queremos que ninguém se queixe
perto de nós, para não “perdermos tempo” os interesses alheios; porque
subentende pobreza, doença, tristeza, falta de realizações.
É necessário ter
necessidades. Precisar é tão preciso quanto viver não é preciso, parafraseando
Fernando Pessoa (1888-1935). A recusa de cooperar (operar junto), como se
pudéssemos nos livrar das necessidades, faz surgir outras necessidades que
podem nos ameaçar, inclusive, a saúde mental e a disposição geral em viver a
vida. Mas, alguém vive sem precisar de nada? Você já percebeu que sempre tem
alguém, em algum lugar do mundo, muitas vezes bem perto, que possui muito mais
do que você mesmo?
Como
afirma Sanford: “Ananke significa que existem repressões e limites interiores
que precisamos experimentar. Em nossa cultura atual, temos a tendência de
esquecer que existem limites legítimos que precisam ser observados” (p. 51).
Verifique: as necessidades,
efetivamente, supridas durante o ano de 2012, não foram aquelas que você mais
se envolveu? Desejo que você seja mais bem sucedido durante os dias de 2013, em
suas necessidades!
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
O arquétipo do Natal
A cena do presépio é perseguida como
ideal de família. Pais zelosos, apesar das adversidades. Mas, poucos pensam na
psique de cada personagem representada. Não se trata de aplicar-se num
exercício de imaginação, mas de refletir nas experiências que o relato bíblico
registrou, sem a intenção de provar a existência de cada uma das figuras humanas
que o marcam, mas para demonstrar que a vida de todos nós passa pelos mesmos
contornos dramáticos, senão externos, especialmente, internos.
Encantados
pela correria, à procura dos presentes, vivenciamos mais a esfera mercantil do
Natal, identificada com um projeto machista de vida, que defende a ideologia do
mais forte e da aparência exterior, nos afastando, repetidamente, do seu
sentido emocional e espiritual, mais próximas do feminino que estimula a
harmonia, a solidariedade, o afeto, resultando em compreensões equivocadas da
mensagem do Cristo, levando as Igrejas cristãs parecer um túmulo de Deus.
A
causa primeira para esta situação é a identificação com o Arquétipo que a data
propõe celebrar. Apesar de o Arquétipo ser irrepresentável, suas ideias e imagens,
porém, seduzem pela sua grandeza instintual, por isso mesmo, muito fácil de nos
deixarmos ser absorvidos por ele, a ponto de se crer que não há distinção entre
o humano e o divino, levando indivíduos a um autoconceito de importância acima
do que se é, pois se vê como alguém abraçado, no caso do Natal, a uma pessoa e
a uma causa, que lhe dão a chance de possuir uma “razão de ser” ou um “modo de
ser”, crendo ser acessível somente aos “eleitos”. De acordo com C. G. Jung
(1875-1961): “Psicologicamente, porém, como imagem do instinto, o arquétipo é
um alvo espiritual para o qual tende toda a natureza do homem; é o mar em
direção ao qual todos os rios percorrem seus acidentados caminhos; é o prêmio
que o herói conquista em sua luta com o dragão” (A natureza da psique.
Petrópolis: Vozes, 2000, p. 149).
Infelizmente,
esta realidade é demonstrada pelo jornalista Arnaldo Jabor (1940-), quando
afirma: “Um mundo opaco gerará uma fome pavorosa de transcendência. Haverá um
ressurgimento das religiões e da fé, provocando grandes “Woodstocks” de
absoluto, já visíveis hoje nos showmícios evangélicos e nos rituais
fundamentalistas (...) – igrejas já são supermercados de esperança e vão virar
partidos políticos” (A utopia da distopia. O Estado de São Paulo. 18.12.12, D10).
Vivenciar
o Arquétipo do Natal, “um menino nos nasceu, e o seu nome será Deus
conosco...”, como uma sentença dogmática, um material lendário e fantasioso, e
mais, modernamente, como um espetáculo midiático, é fazer coro a uma coletivização
de uma fé que massifica o indivíduo, portanto, sem benefício algum, à vida
pessoal.
Todos
nós estamos no presépio, e precisamos refletir quanto à afirmação de Johann
Scheffler (1624-1667), poeta, místico, médico e teólogo alemão: “O ‘Deus te
salve’ de Gabriel não traz nenhum bem, a não ser que essa saudação seja dita a
mim também” (citado por Edward F. Edinger. O arquétipo cristão: um comentário
junguiano sobre a vida de Cristo. São Paulo: Cultrix, 1990).
A festa do Natal
só tem sentido para aqueles que rumam para o mar (inconsciente coletivo e
pessoal), avança sobre os obstáculos a serem superados (sombra coletiva e
pessoal) e, cotidianamente, luta contra o dragão (ego).
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Que raiva?
Por que a emoção da raiva ou do ódio nos
faz sentir mal?
Odiamos a raiva/ódio
porque é a emoção que nos dá a percepção de que somos ambíguos; que não somos a
pessoa que gostaríamos de ser.
Porque sentimos
aversão a todo mau comportamento.
Aprendemos a
amar o amor, e a odiar a raiva/ódio.
Segundo o
filósofo grego Aristóteles (384-322 A.C.): “É fácil entregar-se a uma paixão –
qualquer um pode fazer isso. Mas ficar zangado com a pessoa certa, na medida
certa e no momento certo, pelo motivo certo e da maneira certa – não é fácil, e
nem todos são capazes disso” (Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural,
1978).
Conforme a
psicanalista Jane G. Goldberg, em seu “Tenho raiva: o papel positivo das
emoções negativas nos relacionamentos” (São Paulo: Mercuryo, 2000), ao lidar
com a raiva/ódio tentamos contê-la, expulsá-la e tememo-la, por cairmos nas
garras da agressividade.
Para Goldberg:
“Odiar nosso ódio é odiar parte de nós mesmos, uma parte que nos fornece
informações inestimáveis sobre quem somos, sobre o mundo ao redor e sobre a
interseção entre os dois” (p. 61).
Então, a
raiva/ódio existe, seja ou não permitida/o; é uma emoção da qual não temos como
nos livrar, assim como o tigre não se livra de suas listras. O problema é que
não sabemos lidar com a raiva/ódio. Mas, a boa notícia: podemos aprender.
“A energia que a
irritação põe à disposição afasta o medo e a sensação de impotência. As emoções
voltam nossa atenção para o problema a ser resolvido. Assim, em vez de “Ora,
não se irrite”, deveríamos dizer: “Trate de se irritar, sim – mas com
moderação” (Thomas Hülshoff. Louco de raiva. Revista Mente&Cérebro. São
Paulo: Duetto Editorial, Nº 140, 2004, p. 73).
Podemos
manifestar nossa raiva/ódio sem ter de recorrer à violência física, e quanto
mais nos exercitarmos, mais evitaremos ou diminuiremos os efeitos negativos da
irritação. Para isso, precisamos nos responsabilizar pela irritação, raiva/ódio
que provocamos em outras pessoas e no ambiente que participamos.
Podemos
expressar nossa própria irritação, e assim gerar respeito por nossos limites,
até conseguirmos algum acordo para com os nossos interesses, mas isto quer
dizer: cabe-nos respeitar os limites e os interesses dos outros, inevitavelmente.
Segundo Hülshoff,
professor titular das cadeiras de medicinal social e de fundamentos médicos de
pedagogia terapêutica na Escola Superior Católica NW, de Mümster, Alemanha: “Da
próxima vez que você se irritar porque alguém quer passar à sua frente na fila,
basta que você expresse essa irritação. Mas sinalize também ao outro sua
disposição conciliatória. Se fizer isso, terá boas chances de esclarecer de
forma sensata o conflito e de resolvê-lo. A irritação, é de se supor, vai
desaparecer – ela já terá cumprido sua função” (Louco de raiva. Revista
Mente&Cérebro. São Paulo: Duetto Editorial, Nº 140, 2004, p. 73).
Nestes
últimos dias do ano de 2012 reserve um tempo para refletir quanto ao que você
pode fazer quanto à emoção da raiva ou do ódio. Procure por medidas práticas,
não agressivas, para que você tire bom proveito de qualquer coisa que o/a
irrite.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
‘Tá nervoso?’ Fale, não se cale!
Não é novidade
para ninguém que a depressão a que os professores estão sujeitos, muitas vezes
causada pela irritação vivenciada no exercício do magistério, é uma realidade
que precisa ser enfrentada com todas as nossas energias, ao menos para ser
compreendida em sua exata medida, como também, o seu devido tratamento.
Lamentavelmente,
estranha-se, contudo, que há aqueles que não admitem que a irritação seja uma
das fontes geradoras do transtorno depressivo. Isto se verifica entre os
responsáveis pela administração do processo de ensino-aprendizagem, quer de escolas
públicas ou privadas, pois muitos de seus programas, resoluções e portarias se
ocupam de meras questões burocráticas e, mais graves, pelas descabidas omissões,
revelando uma verdadeira sabotagem ao próprio sistema de educação, gerando prejuízos
não somente humanos, aos professores e funcionários das escolas, aos alunos a
quem os programas se dirigem, em alguns casos irreversíveis, pois não são insignificantes
os casos de suicídio, como também, financeiros, devido aos altos índices de absenteísmo
e licenças médicas, a quem têm direito os pacientes.
Sabemos que não
é possível viver sem que absolutamente nada nos irrite, mas participar de um
ambiente no qual a irritação é constante, durante horas, pode tornar enfadonho
a realização de qualquer trabalho, e em especial aquele que envolve uma relação
interpessoal tão intensa, como o de ensinar.
Mas, como compreender
quando a irritação chega à agressão física e/ou verbal entre os alunos e seus
colegas, ou entre os mestres e alunos, de tal modo a prejudicar a relação aluno-aluno
e professor-aluno, como a imprensa veicula com certa frequência, a ponto de
provocar um distanciamento físico e emocional, porque ambos os lados ficam
dominados pelo sentimento da raiva?
É preciso, antes
de tudo, verificar os motivos, às vezes, inconscientes, que levam a esta
situação.
Conforme o professor
titular das cadeiras de medicina social e de fundamentos médicos de pedagogia
terapêutica na Escola Superior Católica NW, de Münster (Alemanha), Thomas
Hülshoff: “Do ponto de vista psicológico nos irritamos sempre que não
conseguimos atingir um objetivo, satisfazer um desejo ou quando nossa
autoestima é atacada” (Louco de raiva. Revista Viver Mente&Cérebro. São
Paulo: Duetto Editorial, Nº 140, 2004, p. 68).
Quer dizer, por
que nos agredimos: porque vemos frustradas as expectativas pessoais, ou as que
foram estabelecidas pelos burocráticos; por que sentimos ameaçado o poder que
presunçosamente acreditamos possuir sobre o conteúdo das aulas ou sobre as
próprias pessoas; ou, por que queremos restabelecer a nossa autoestima, movidos
por vingança?
Entretanto,
Hülshoff adverte: quanto mais claro comunicarmos que estamos irritados com
alguma coisa, menores as chances para os conflitos agressivos e/ou violentos.
Além de cumprir
as demais obrigações, cabe aos professores mais esta tarefa: para não ficarmos
deprimidos, precisamos ajudar aos alunos, aos colegas e, quem sabe, até aos
responsáveis pelo cumprimento das obrigações burocráticas, e por fim, a nós mesmos, a comunicar se estão irritados.
‘Tá nervoso?’ Fale, não se cale!
domingo, 2 de dezembro de 2012
Irritação deprime (2)
As
pesquisas mais atualizadas confirmam: a duração da felicidade pode ser um pouco
mais de vinte horas; o medo leva alguns segundos ou no máximo uma hora, para
passar; a raiva, não ultrapassa mais do que algumas horas; mas, a tristeza pode
durar mais do que um dia inteiro. Portanto, a tristeza que faz fundo à
depressão, é a emoção que mais experimentamos por mais tempo. Caso permaneçamos
tristes por mais de duas semanas, como a perda de um ente querido, separação ou
divórcio, por exemplo, entre outras situações, faz-se necessário considerar a
possibilidade de estarmos em depressão.
Na
semana passada afirmamos que a depressão entre professores pode estar associada
à constante irritabilidade a que estão sujeitos no exercício profissional,
entretanto, para se mostrarem pessoas simpáticas, e às vezes, por temerem algum
tipo de punição não verbalizam quanto ao motivo que os deixa irritados,
entretanto, demonstram em sua expressão gestual, nos mal-entendidos e
perturbações que causam ao ambiente de trabalho, que estão em grave perigo, e
ainda, com o passar do tempo, ficam ainda mais, irritados e raivosos. E,
perguntamos: O que fazer?
O biólogo,
educador ambiental, doutor em Meio Ambiente pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ) e professor das redes municipais de educação do Rio de
Janeiro e de Niterói/RJ, Declev Dib-Ferreira, faz um sincero e aberto desabafo:
“Morreram dois (alunos de uma escola pública do Rio de Janeiro). Coisa
estúpida. Escola de luto. Eu que já não estou bem, fico pior. O que sinto é um
imenso, grande, enorme, incomensurável vazio. Uma sensação de frustração além de minha capacidade de entender. Uma
vontade de chorar e me enrolar feito um bebê – ou de beber e chorar até me
enrolar. Me pergunto o por quê de tudo isso, se o que eu faço vale a pena, se o
que eu sofro tem sentido. (...) Não nos dão o direito de surtar, não podemos
ficar doentes, não podemos ter nossos próprios problemas, não podemos gritar,
não podemos sair de nós, não podemos ter uma crise!!!” (http://www.diariodoprofessor.com).
O
professor Dib-Ferreira nos ajuda a trazer a irritação para um nível mais
“administrável”, e como ele podemos tomar algumas decisões: admitir que manter
velada a irritação não é a melhor maneira de tratá-la; reconhecer que a
irritação e a raiva podem servir para melhorar os relacionamentos
interpessoais, pois através destas emoções podemos delimitar até mesmo espaços
físicos a serem ocupados no ambiente social que queremos ocupar, isto é,
passamos a evitar os lugares onde as fontes de irritação são presentes, podendo
até mesmo, melhorá-los; estabelecer opiniões próprias acerca das circunstâncias
que nos irritam para que os outros nos conheçam e nos respeitem, pois assim assumimos
nossa própria identidade e encaramos as situações com a verdade da coragem; considerar
que ficar irritado não implica em ser agressivo nem ficar com raiva, pois o que
mais importa é que as situações que motivaram a irritação sejam discutidas para
se encontrar as suas soluções.
Como afirma a
presidente da Associação Internacional de Psicologia Analítica, professora na
Universidade de Zurique, Suíça, e psicóloga junguiana Verena Kast (1943-):
“Quem se permite ficar irritado acredita que a vida ainda pode mudar. Quem não
se permite já não acredita nisso – a irritação nos mostra que algo não vai bem
e nos ajuda a modificar relações que julgamos insuportáveis, ou ao menos
difíceis de suportar. A raiva e a irritação nos dão a energia necessária para
efetuar essas modificações” (Revista Viver Mente&Cérebro. São Paulo: Duetto
Editorial, Nº 140, 2004, p. 72).
domingo, 25 de novembro de 2012
Irritação deprime
País a fora professores têm se
manifestado acerca da realidade a que estão submetidos, muitas vezes por
sobrevivência, mas sujeitos a toda sorte de doenças psicológicas e biológicas.
Uma
destas manifestações é a da pedagoga, arte terapeuta e psicóloga junguiana, do
Rio de Janeiro, Regina Milone. Ao referir-se às
condições em que exerce o magistério ela afirma: “Os profissionais, pelas
péssimas condições de trabalho e pelos baixos salários, acabam pedindo licenças
médicas consecutivas, muitos estão com Síndrome de Burnout, deprimidos,
estressados, tristes e irritados. Convivendo com o que eles têm que conviver dentro
das escolas, passamos a ver quantos motivos realmente eles têm para isso e é
muito triste, pois uma profissão tão importante e fundamental como a de
professor anda cada dia sendo mais desrespeitada e desvalorizada. Como
encontrar ânimo para continuar assim?!” (www.diariodoprofessor.
com/2012/10/26/escola-publica-hoje-relatando-e-refletindo-um-pouco-mais/).
Ela, entre tantos outros professores que sofrem as mesmas
condições aponta-nos para alguns fatores sociais e emocionais, que se não bem
administrados, interferem na qualidade de vida de qualquer pessoa e geram
doenças. E,
a depressão é uma delas. Por quê? A
resposta a esta questão não é simples. Primeiro
porque depressão é diferente de tristeza.
Para o psicólogo
e psicanalista Eduardo A. Furtado Leite, a depressão é inimiga da tristeza,
pois leva o indivíduo a viver uma forte indiferença aos seus afetos, inclusive
à própria tristeza. Em “Tristeza”, Leite afirma: “A tristeza é a última
sentinela contra a depressão, a derradeira emoção”, que pode deter o avanço da
depressão e ajudar na compreensão mental da doença (São Paulo: Duetto
Editorial, 2010, p. 61). É como se a tristeza fosse a “febre” da depressão, mas
a tristeza, em si mesma, não é depressão.
Há dois sintomas
que são bem característicos da depressão: sensação predominante de tristeza,
com duração maior do que duas semanas, e irritabilidade.
Pensemos hoje,
um pouco sobre a irritação que nos acomete a todos, mas de maneira especial aos
professores.
A irritação é
uma das emoções básicas que mais nos desagrada, porque nos sentimos provocados
a tomar a alguma atitude, na tentativa de alterar as situações que nos deixa
contrariados, mas que em muitas vezes não nos é possível. São variados os
motivos pelos quais nos irritar: as decisões dos políticos, os buracos nas
ruas, a programação dos canais de TV, determinados ruídos dos locais onde estamos,
os amigos e familiares, os alunos e os professores, etc.
Algumas
pessoas conseguem reagir adequadamente a estas situações, entretanto, na
opinião da psicóloga clínica Natasa Jokic Begic: “As pessoas depressivas se
irritam com muita facilidade e costumam ficar bem mais mal-humoradas diante de
certas situações, sentindo-se culpadas pelo modo como agiram frente à situação
que as irritou” (A vida não é um mar de rosas. Programa da TVEscola: Servos e
Mestres, Nov. 2012).
A
depressão entre professores pode estar associada à constante irritabilidade a
que estão sujeitos no exercício profissional, entretanto, para se mostrarem
pessoas simpáticas, às vezes com o medo de sofrerem algum tipo de punição ou
pelo sentimento de culpa, como citado acima, não verbalizam o que estão
sofrendo. A irritação os corrói por dentro, silenciosamente, mas demonstram em
sua expressão gestual, nos mal-entendidos e perturbações que causam ao ambiente
de trabalho, que estão em grave perigo, e ainda, com o passar do tempo, ficam
ainda mais, irritados e raivosos.
O que fazer?
Fica para a próxima semana, se Deus quiser. Até lá.
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Depressão e religião
Segundo Tákis Athanássios Cordás,
Professor de Pós-Graduação do Departamento de Psiquiatria e do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (IPQ-HCFMUSP), a depressão na Idade Média era denominada “acídia”,
termo grego para “falta de cuidado”, introduzido nos estudos teológicos sobre a
condição de vida dos pecadores pelo monge Ioannes Cassianus (360-435), fora incluída
na lista dos sete pecados capitais pelo Papa Gregório, Magno (540-604),
identificada como “preguiça”, compreendida como indolência quanto às obrigações
religiosas, e ainda: “estava inserida na demonologia da época” (Depressão: da
Bile Negra aos neurotransmissores, uma introdução histórica. São Paulo: Lemos
Editorial, 2002, p.33).
Conforme Antônio
Máspoli de Araújo Gomes, Professor Titular da Universidade Presbiteriana
Mackenzie de São Paulo e psicólogo junguiano, isto ocorria por que: “Nas
sociedades primitivas não havia separação entre sofrimento mental, físico ou
espiritual, como não havia separação entre medicina, magia e religião” (Eclipse
da alma. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, p. 137).
Apesar da
passagem de mais de 1500 anos, esta visão ainda persiste entre os religiosos
cristãos, daí os rituais de exorcismos, como tentativa de controlar o
sofrimento humano.
Isto nos leva a
considerar, sem generalizar, caso algum adepto desta visão sofra de depressão,
pode ser levado a recalcar o seu rebaixado estado de humor, empenhando-se numa
vida de aparente felicidade e a envolver-se em atividades religiosas pessoais,
como reuniões públicas de “oração e louvor” devido a uma crença mal formulada e
nutrir uma falsa esperança de cura, o que contribui para um sério agravamento do
transtorno e gerar graves dificuldades ao seu tratamento.
Nestes casos, os
“adoradores” reproduzem os rituais religiosos, na intenção de imitá-los e
repeti-los, como que “macaqueando” sem, contudo, refletir no significado
simbólico para si mesmo, tornando-os atitudes automáticas, mecânicas e
artificiais de uma experiência que não pode mais ser repetida, gerando um tédio
que fortalece o sentimento da depressão, mesmo que o que se deseja é se libertar
dela.
Segundo o Dr.
Máspoli: “Quando o rito perde o seu efeito ou não mais cumpre o seu propósito
expiatório, o sofrimento psíquico, a doença e a depressão ocupam o lugar do
sacrifício. A depressão sacrifica a libido, a energia do próprio indivíduo no
ritual psicológico de expiação de uma culpa cujas causas são desconhecidas. O deprimido
aqui é ao mesmo tempo a culpa e o rito expiatório. O sujeito é o sacrificador e
o sacrificado de si mesmo. Todo sofrimento vivenciado na depressão equivale ao
sofrimento da vítima sacrificial. O deprimido acredita que rompeu a sua ordem
cósmica por um ato real ou imaginário. Acredita também que seu sofrimento é
necessário para restabelecer o “nomos” (espírito de normalidade das coisas). No
entanto, quanto mais sofre, mais sente culpa e aumenta a vontade de sofrer um
sacrifício do ego, em um ritual sadomasoquista auto infligido. O sujeito
permanece, desse modo, aprisionado num círculo fechado de culpa e sofrimento,
sofrimento e culpa (Eclipse da alma. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, pp.
145-146).
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Por que ficamos deprimidos?
Classificada na categoria dos
transtornos do humor na CID-10 (Classificação Internacional das Doenças
Mentais), a depressão deve ser considerada uma doença que se caracteriza com
frequentes recaídas.
Para a maioria
das pessoas a depressão é sentida como um “fracasso moral”, quer dizer, sentir
que não consegue manter um estado de ânimo otimista e feliz na realização das
tarefas que os papéis sociais nos cobram, independentemente do esforço empreendido.
Esta experiência corrói a autoestima.
O
deprimido sente-se “imprestável” diante dos desafios que têm à sua frente. No caso dos professores, este sentimento é
experimentado devido à avaliação profissional a que está submetido diante dos
alunos, dos outros colegas e dos diretores da escola. O problema se agrava se
se levar em conta as elevadas expectativas dos seus familiares, vizinhos e
amigos quanto à sua adaptação social.
Dos
casos que relata em “Os pantanais da alma: nova vida em lugares sombrios” (São
Paulo: Paulus), James Hollis nos ajuda a compreender que a depressão pode ter
um significado diferente para cada um de nós, dependendo das circunstâncias histórico-pessoais,
vivenciadas desde a infância.
As
circunstâncias da nossa vida, em especial aquelas que envolvem nossa família
original, segundo Hollis, como que determinam as crenças que construímos acerca
de nós mesmos, dos outros e dos nossos relacionamentos. Tais conceitos podem
levar-nos a um tipo de depressão, e que geralmente, são desconsiderados no
tratamento do transtorno.
O
autor aponta para as seguintes circunstâncias que conduzem à depressão,
fenômeno que surge normalmente por volta dos 35-40 anos de idade: esforçar-se
para “merecer” o amor, admiração e carinho dos pais; e, assumir deveres
familiares, sociais e até profissionais, contrários ou antagônicos aos desejos
da alma, isto é, manter reprimidas as vontades pessoais no atendimento das
expectativas de terceiros.
Conforme
o diretor executivo do Jung Educational Center of Houston, seja qual for a
condição geradora da depressão temos de encontrar, integrar e viver
corajosamente os desejos da alma, ainda que isto gere alguma ansiedade. Para
ele, a ansiedade, neste caso, pode nos levar a um crescimento pessoal, enquanto
a depressão nos manterá presos ao sentimento de derrota.
Para acabar com a depressão
precisamos enfrentar com força as circunstâncias que nos trouxeram a ela, e
suportar a tensão entre os nossos deveres e os desejos de nossa alma. Isto
significa que os medicamentos e as distrações, tão largamente recomendados, nos
afastam dos significados que a depressão tem para nos comunicar: que não é
possível “comprar” o amor, o carinho e a atenção de quem quer que seja, e
aprender a amar e afirmar a si mesmo independentemente da opinião alheia.
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Depressão entre professores
Sem levar em consideração a
imprescindível necessidade e a importância de um correto diagnóstico médico
e/ou psicológico da depressão, aliás, uma das tarefas mais complexas e
desafiadoras que tanto a psiquiatria quanto a psicologia enfrentam, o tema faz
parte do cotidiano de nossas vidas: das famílias às empresas, dos pobres aos
ricos, dos crentes aos incrédulos, da infância à velhice.
Os
professores não são exceção. Numa recente pesquisa o Sindicato dos Professores
do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) aponta que 29% dos
professores sofrem de algum tipo de depressão, responsável pelo afastamento
temporário ou definitivo do trabalho, e 59% deles não fazem acompanhamento
médico, porque o governo estadual limitou o número de vezes que o profissional
pode realizar alguma consulta médica, podendo ser este um dos fatores que tem
contribuído para tantos professores sofrerem de depressão, o que agrava ainda
mais a situação (http:// www.apeoesp.org.br/noticias/noticias/estresse-depressao-e-ansiedade-os-inimigos-do-professor-da-rede-publica-de-sp/).
Os
fatores sociais e pessoais que determinam o surgimento da depressão são variados,
e os professores estão sujeitos aos mesmos, ainda que alguns sejam gerados no
exercício da própria profissão.
Conforme
o Prof. Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes, professor titular da Universidade
Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e psicólogo junguiano em São Paulo, a
depressão destrói a paz interior, o amor próprio e a segurança pessoal, a
confiança de que alguém pode ajudar, aliás, o deprimido não acredita, não
suporta nem aceita a ideia de que existe ajuda.
“O deprimido é
irritadiço. Neurastênico mesmo. Não tem domínio sobre as próprias emoções. Não
tem paciência. Perde a cabeça com facilidade. Explode à toa” não sabe a origem
da própria irritação e nem precisa. Está sempre irritado, e isso basta! (...) A
vida não tem sentido. O trabalho não tem sentido. (...) Sente-se fracassado o
tempo todo. Acaricia o fracasso como a um amigo íntimo. (...) O deprimido troca
o dia pela noite. (...) Quando consegue dormir, não quer mais acordar. (...) O
deprimido não consegue se concentrar nas atividades mais simples da vida
cotidiana. (...) Sua vontade é frouxa. (...) O interesse pelo sexo praticamente
desaparece. Quando a vontade ressurge, contudo, é exagerada, sem limites. O
deprimido geralmente oscila entre dois extremos: da pureza a libertinagem. O
deprimido come. Não por sentir fome, mas para preencher o vazio da alma. (...)
Acredita que a morte pode acabar com tudo que está errado de uma só vez. O
risco de suicídio não deve ser subestimado. (...) A ansiedade às vezes
generalizada esconde uma depressão, escamoteia um luto. As crises de ansiedade
da síndrome de pânico obnubilam geralmente um quadro depressivo grave” (Antônio
Máspoli de Araújo Gomes (Org.) Eclipse da alma. São Paulo: Fonte Editorial,
2010, pp. 158-160).
Nos próximos
artigos, continuaremos a refletir sobre a depressão entre os professores.
Contudo, é bom salientar: depressão tem tratamento, e seus efeitos podem ser
amenizados, e em alguns casos, podem ser superados.
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
A lição de Cronos aos professores
Segundo Hesíodo, em “Teogonia: a origem
dos deuses” (750 a. C.), Cronos assassina o pai Urano e devora seus próprios
filhos, por temer a perda do trono. Sua irmã e esposa Reia, o leva para a ilha
misteriosa de Lictos depois de perder o trono para um de seus filhos, Zeus, o
qual se safa da ira paterna o constitui rei dos bem-aventurados, onde reina com
sabedoria, justiça e amor proporcionando abundância, harmonia e felicidade.
Cronos,
um dos vários arquétipos do espírito humano, revela-se num deus devorador de
todas as novidades que seus filhos podiam trazer ao mundo, e mais tarde em um
deus sábio, proativo e mentor de novas perspectivas de vida.
Se
aplicado à realidade dos professores, o mito grego nos faz considerar: o
professor que se identifica com o deus devorador não facilita a discussão de
novas ideias, inibe as iniciativas dos alunos na busca por conhecimentos,
centraliza-se como detentor do saber, e exige a submissão dos mesmos aos seus
padrões de pensamento e de comportamento.
Ao
aluno fica a certeza de que não passa de objeto indesejável, com consequências
desastrosas ao seu aprendizado, podendo gerar atitudes de violência contra este
estado de coisas a que está submetido, se sentindo à margem do processo do
ensino.
Quanto
ao relacionamento com seus colegas de magistério o professor “devorador”, por
exemplo, vê-se superior aos iniciantes na carreira e/ou competem entre si,
estabelece no ambiente de trabalho a inveja, a rivalidade e cobranças estranhas
ao processo de ensino-aprendizagem. Estas e outras situações são as causas de
estresse, falta de motivação para o trabalho, e problemas psicossomáticos, situações
que confirmam os dados da pesquisa realizada pelo Sindicato dos Professores do
Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOSP), citados no artigo anterior
(Quando o professor é forte – disponível no blog referido abaixo).
Contudo,
Cronos se mostra líder de uma era de avanços culturais, econômicos e sociais ao
povo de Lictos, graças à sua sabedoria, justiça, benevolência e paciência,
valores que são encontrados quando há uma alteração na direção da vida, para o
espírito.
É
preciso recuperar o sentido das palavras do pai da administração moderna Peter
Drucker (1909-2005): “Nosso desafio é tornar novamente o conhecimento um meio
para o desenvolvimento humano, é ir além do conhecimento como ferramenta e
recuperar a educação como o caminho para a sabedoria” (Drucker na Ásia. São
Paulo: Pioneira, 1997, citado por Robson Santarém, no artigo “Puer e Senex nas
relações de trabalho”, em Puer-Senex: dinâmicas relacionais. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2008, p. 183).
Se continuarmos
a negligenciar quanto a alteração pela qual precisamos passar, por nos
recusarmos a tomar ética e moralmente esta decisão, continuaremos sofrendo as
tristes realidades a que estão submetidos os professores. Segundo C. G. Jung
(1875-1961): “O arquétipo do espírito é certamente caracterizado como sendo
capaz de efeitos tão bons quanto maus, mas depende da decisão livre, isto é,
consciente da criatura humana, que o bem não se deteriore em algo satânico. Seu
pior pecado é a inconsciência, mas a ela se entregam com a maior devoção até
mesmo aqueles que deveriam ser mestres e modelos para os outros” (Os arquétipos
e o inconsciente coletivo. 2ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p. 247).
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Lançamento do livro: Trabalho e estranhamento: saúde e precarização do homem que trabalha
O livro “TRABALHO E ESTRANHAMENTO: Saúde e Precarização do Homem-que-Trabalha” (Editora LTr, 2012), organizado por Giovanni Alves (UNESP/RET), André Luís Vizzaccaro-Amaral (UEL/RET) e Daniel Pestana Mota (ADESAT/RET), será lançado, entre os dias 05 e 09/11/2012, no Congresso Internacional da Asociación Latinoamericana de Abogados Laboralistas (ALAL: http://www.alal.com.br/ materia.asp?cod_noticia=6098), em Salvador-BA, Brasil.
A obra, constituída coletivamente, conta com a colaboração de protagonistas e de novos pesquisadores dos campos das ciências sociais e humanas, jurídicas e da saúde relacionadas ao mundo do Trabalho, como Giovanni Alves (UNESP), Luiz Salvador (ALAL), Ricardo Antunes (UNICAMP), Edith Seligmann-Silva (USP-Aposentada), Jorge Luiz Souto Maior (USP/TRT-15), José Roberto Montes Heloani (UNICAMP), Maria Elizabeth Antunes Lima (UFMG), Margarida Barreto (PUC-SP/FCM-SANTA CASA-SP), Francisco José Trillo Párraga (UNIVERSIDAD DE CASTILLA-LA MANCHA-ESPAÑA), Renata Paparelli (PUC-SP), Sergio Augusto Vizzaccaro-Amaral (RET), José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva (TRT-15), Sandra Fogaça Rosa Ribeiro (UNOESTE), André Luís Vizzaccaro-Amaral (UEL), Daniel Pestana Mota (RET), Olímpio Paulo Filho (Advocacia Trabalhista e Previdenciária), Sandro Eduardo Sardá (MPT-12) e Heiler Ivens de Souza Natali (MPT-09).
Em breve o livro estará disponível nas principais livrarias do país.
Giovanni Alves (UNESP/RET/ADESAT/GPEG-UNESP)
André Luís Vizzaccaro-Amaral (UEL/RET/ADESAT/GPEG-UNESP)
Daniel Pestana Mota (RET/ADESAT)
Organizadores
Quando o professor é forte
Recentemente a APEOSP (Sindicato dos Professores do Ensino
Oficial do Estado de São Paulo) publicou os seguintes resultados de uma
pesquisa acerca da saúde do professor na rede estadual de ensino: “18% dos professores
têm depressão e 57% deles acabam se afastando das aulas. Outros 23% sofrem de
ansiedade ou síndrome do pânico. A hipertensão arterial atinge mais de 30% da
categoria na rede estadual” (http://www.apeoesp.org.br/noticias/noticias/as-licoes-da-professora-janete-para-sobre-viver-na-profissao/). Infelizmente, não difere muito na rede
municipal de ensino.
Os motivos apontados são: baixa
remuneração salarial, precárias condições de trabalho, superlotação das salas
de aula, situações de ameaça e violência praticadas por parte de alguns alunos.
Por estas e outras razões, a profissão é cada vez mais relegada na lista de
preferência de emprego.
É importante registrar outro fator
que contribui para esta condição a que o professor está submetido: a imagem do
professor, nem sempre positiva, que os meios de comunicação apresentam à
sociedade.
"Muitos jornalistas acreditam que o professor é um
profissional que nunca está pronto, que precisa de uma melhor formação e que,
por isso mesmo, não serve muito como fonte confiável de informação para as reportagens.
O efeito mais nefasto dessa imagem é a crença por parte dos educadores de que
eles são mesmo despreparados para lidar com os alunos, com os conteúdos e com
os contextos socioeconômicos. E, se o professor não acredita em si, despreza o
próprio trabalho e entra em classe inseguro, o ensino e a aprendizagem fatalmente
não terão um bom desempenho”, conforme afirma a jornalista Kátia Zanvettor
Ferreira, em tese de doutorado – “Quando o professor é notícia: imagens do
professor e imagens do jornalismo” – apresentada na Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo, no último mês de julho (http://www.apeoesp.
org.br/teses-e-dissertacoes/jornalista-apresenta-doutorado-na-usp-sobre-a-imagem-dos-professores-na-midia/).
Acreditar e esperar por medidas que
alterem a realidade biopsicossocial dos professores por parte das autoridades
que respondem pelo sistema educacional brasileiro, é no mínimo, ser ingênuo.
O pleno exercício de nosso direito e o cumprimento de nossos
deveres chama-nos à resiliência. Se os problemas são inevitáveis, apesar de
criarmos alguns, admitamos, podemos nos fazer fortes através de atitudes, como
por exemplo: maturidade, nos afastando do comodismo de buscar os culpados por
tudo que acontece de errado conosco; individualidade e não egoísmo individualista,
se quisermos que nos respeitem na condição de pessoas que procuram integrar à
personalidade todos os elementos necessários para uma vida de realizações;
criatividade em tomar iniciativas inovadoras, elemento inerente à profissão,
sem temer os desafios que podem nos trazer, ao contrário, investir em novas
potencialidades, bem como naquelas já conquistadas muitas vezes às duras penas,
visando garantir o futuro próprio e da profissão; espontaneidade, quer dizer,
estarmos abertos para o novo, mesmo que isto signifique sermos menos rígidos
com os alunos, com os colegas e com nós mesmos, se quisermos nos livrar da
depressão, por exemplo; e, autonomia, permanecendo de pé pelas próprias forças,
sem perder a ternura com os outros e o amor a nós mesmos.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Com e sob o poder
Não é possível nos livrarmos da ideia de
que o poder tem um lado humano e subjetivo, apesar de normalmente procurarmos
chamá-lo de autoridade, comando, lugar ou centro de tomada de decisão. Estes
sinônimos são usados para camuflar a realidade de que o poder exerce forte
influência sobre nossas vidas, seja por aqueles que o detém ou pelos que se
submetem a ele. Preferimos os sinônimos técnicos a encarar a face humana do
poder. Por isso os subalternos têm olhos baixos ao cruzar com os poderosos, evitam
o olho-no-olho. Mas, numa sociedade comunitária, na qual estamos inseridos,
isto não favorece a prática de privilégios e a manutenção de cidadãos de
segunda classe?
Desde
os primeiros tempos, o poder é experimentado na vida familiar, onde o pai é considerado
o representante da lei - aquele que determina os limites daquilo que é ou não
permitido. Mais do que o pai individual, é a dinâmica paterna, isto é, o
predomínio do pensamento racional sobre a subjetividade em nosso dia a dia, que
estabelece forte tensão entre o conceito e a relação com o poder, conforme
Thaís A. Máximo, doutora em psicologia social pela Universidade Federal da
Paraíba (O poder e suas faces. Associação Brasileira de Psicologia Social. Belo
Horizonte, MG, 2010).
O
que nos diferencia enquanto pessoas e grupos é a detenção do poder: os que o têm
em suas mãos, e aqueles que se submetem.
Por isso, a
sociedade precisa sempre questionar as decisões que beneficiam a alguns, e
prejudicam os interesses da maioria. Quanto maior a rigidez do uso do poder,
maiores serão as barreiras sociais a serem superadas. Quanto menos importância
for dada às opiniões contrárias, menos significado terá o indivíduo e a possibilidade
de ouvi-lo. E, o mais grave, quanto mais o indivíduo considerar-se impotente
frente ao poder, até mesmo pelos seus representantes, menos será reconhecido
como protagonista dos fatos que envolvem a sua vida e a de seus pares.
Na vivência
social o poder está, inseparavelmente, ligado à personalidade do líder e à sua
competência, podendo dar ou não coesão e sustentação aos que representa.
No caso da
democracia, o poder precisa buscar legitimidade dos meios de controle que
aplica em seu exercício, para haver um verdadeiro desenvolvimento de todos. Daí
a necessidade de ficarmos atentos à manipulação daqueles que se encontram à
frente da coletividade.
Como observou
Zygmunt Bauman (1925-), sociólogo polonês: “Quanto maior a minha margem de
manobra, maior o meu poder. Quanto menos liberdade de escolha tenho, mais
fracas são minhas chances na luta pelo poder” (A sociedade individualizada:
vidas contadas e histórias vividas. Rio de Janeiro, Zahar, 2008, p. 47).
C. G. Jung
(1875-1961), tratando do caos que o abuso do poder trouxe ao mundo por ocasião
da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), aconselha a percebermos em nós mesmos a
tensão que a relação com o poder gera, com o propósito de adquirir consciência
acerca de quem somos. Não basta os protestos, que pouco contribuem para uma
real transformação das condições sociais negativas que o uso do poder provoca
em toda a sociedade, como também, até mesmo as autoridades espirituais podem
estar distantes da alma, e como hoje, afinadas ao discurso dos poderosos
(Aspectos do drama contemporâneo. Petrópolis, Vozes, 1988).
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
XVIII InterQuinta_Jung – Debate -" Rango"
Secretaria Municipal da Cultura e
Centro de Estudos Junguianos de
Marília
Convidam:
XVIII InterQuinta_Jung – Debate
Exibirá o filme: “Rango”, seguido de
debate.
Sinopse:
Rango
é um camaleão da cidade grande que vai parar, após um acidente, em pleno velho
oeste, na cidade de Poeira no deserto do Mojave, na Califórnia. De uma hora para
outra, sua rotina de animal de estimação mudou radicalmente e agora ele precisa
deixar a vida "camuflada" para enfrentar os perigos existentes no mundo real,
fazendo com que ele vivencie a experiência de fazer amigos, conhecer inimigos e
até, quem sabe, se tornar um herói.
Informações
Técnicas
Título
no Brasil: Rango
Direção: Gore Verbinski
País
de Origem: EUA
Ano de
Lançamento: 2011
Gênero: Animação
Recomendação: 10 anos
Duração: 107 Minutos
Vozes da versão
original: Johnny Deep; Isla Fisher; Abigail Breslin; Ned Beatty; Alfred Molina;
Bill Nighy
Data da
Exibição:
27/09/2012
Horário: 20h00
Local: Sala de
Projeção Municipal, piso superior da Biblioteca Municipal. Entrada pela Av. Rio
Branco.
Comentários:
Gilson Cardoso
- Formado em
Psicologia pela Unimar, com Pós Graduação em Psicopedagogia Clínica e
Institucional pelo INDEP. Atua como Psicólogo na Secretaria da Educação e também
atuação clínica.
Entrada Franca- Vagas
Limitadas
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
A “isca” das promessas dos políticos
Nestes dias de campanha
eleitoral-partidária uma questão precisa ser respondida tanto pelos candidatos
quanto pelos eleitores: O que leva as pessoas a almejarem uma cadeira no
executivo ou no legislativo? Por que tais posições são tão importantes?
Talvez,
a resposta vai além de, simplesmente, ser um direito assegurado pela
democracia, ou pelas vantagens que são oferecidas aos seus ocupantes.
Porém,
se formos mais conscientes, vamos verificar que se trata de uma questão muito
mais profunda: entregamos ao poder a capacidade de nos gerenciar e esvaziamos a
fé de que o amor, a beleza e os sonhos podem nos dar dias melhores.
Nicolas
Berdyaev (1874-1948) cristão ortodoxo russo, escreveu: “o político e o
sargento, o banqueiro e o advogado, são mais fortes que o poeta e o filósofo, o
profeta e o santo”. A força deles se mede pelo poder que têm nas mãos, mesmo
quando lhe é concedido pelo voto, pelas ordens dos superiores, pelas
promissórias ou pela procuração. Estes, como também, os homens de negócios,
nunca falam sobre amor e, se o fazem, é difícil acreditar. Segundo Rubem Alves
é porque “o amor não é nunca a fonte e o objetivo do que fazem. O amor é sempre
um meio para o poder. A isca de amor tem sempre um anzol escondido no seu
interior”.
A
“isca” das promessas de campanha, apresentadas como declaração de amor pela
população, fisga muita gente, pelo anzol do poder. É o poder disfarçado de amor
que vence, apresentado pelas mãos que dizem produzir e apresentar resultados. Assim
as mãos sufocam o coração, de onde nascem o amor, os sonhos, a beleza. O poder
vence o amor porque se acredita ser, a única razão de existir, pois ficou
determinado, sabe-se lá por quem, que é o meio para alcançar os objetivos.
Assim, o amor, a beleza e os sonhos, ingredientes do mistério da existência
humana, são compreendidos como inexistentes, fantasiosos e mentirosos. Para o
poder, não há mistério.
Pode-se,
ainda, citar outro filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), para quem o Estado
é “o mais frio de todos os monstros”. Diz ele: “Vejam como o Estado os engana –
os muitos – e como ele os devora, mastiga, rumina. ‘Sobre a terra nada existe
maior do que eu: eu sou o dedo legislador de Deus’ – assim ruge o monstro. Não
são apenas os de vista curta e orelhas compridas que caem de joelhos. Também a
vós, homens de inteligência, ele segreda suas mentiras tenebrosas. Vós vos
cansastes de lutar, e agora o vosso cansaço também serve o novo ídolo. Com
heróis e homens de honra ele se cerca, o novo ídolo! Ele vos dará tudo se o
adorardes, este novo ídolo: e é assim que ele compra o esplendor das vossas
virtudes e o brilho orgulhoso do vosso olhar. E ele os usaria como isca para
apanhar os muitos... Estado é o lugar onde todos bebem veneno. Estado, ali onde
o vagaroso suicídio de todos é chamado de vida”.
Para
Rubem Alves “não são os homens que jogam o jogo do poder; é o poder que joga
com os homens”. E, por que? Porque, para o poder, é crime acreditar que amar,
ser verdadeiro e realizar o que é belo torna a vida mais feliz.
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