segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Psicoterapia pode ajudar quando ...

Você está deprimido, ansioso ou estressado.
Quer melhorar seus relacionamentos.
Você sofre de ataques de pânico, vive com distúrbios alimentares, sofre alguma perda ou luto, está confuso sobre sua sexualidade.
Quando sua vida parece sem significado.
Quando você quer desenvolver seu potencial.
Quando você sofre de pensamentos obsessivos.
Quando você se sente travado pela raiva inadequada ou falta de confiança.
Quando você sofre problemas físicos sem causa física clara.

domingo, 30 de dezembro de 2012

“Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender...”


            Os gregos antigos perceberam que todo ser vivo, inclusive os animais, necessita de algo, e que a necessidade se impõe, indistinta e soberanamente, a todos como uma deusa. Todas as necessidades, de natureza interna ou externa, dos relacionamentos pessoais, familiares e de afinidades com o próximo, tudo que envolve a sobrevivência e permanência das espécies era denominada, Ananke.
Ananke passou a ser compreendida, mais tarde, em outras culturas e religiões como “espírito guia”, “santo protetor”, “gênio” ou “anjo da guarda”, conforme o pastor anglicano e analista junguiano norte-americano John A. Sanford (1929-2005), em seu “Destino, amor e êxtase: a sabedoria das deusas gregas menos conhecidas” (São Paulo: Paulus, 1999).
Como deusa, Ananke exige cooperação. Quer dizer, quaisquer que sejam as nossas necessidades desafiam-nos a nos envolvermos pessoalmente, como que dizendo-nos: “Que você fará comigo? Posso contar com você para me resolver?”
Entretanto, na maioria das vezes, preferimos atendê-las da maneira mais simples possível, com o mínimo esforço, acreditando que alguém possa nos socorrer e assumir as responsabilidades pelas consequências. Desse modo, resistimos a cooperar com Ananke, levando a um agravamento das situações, às vezes, insolúvel.
A letra da cantiga presente na grande maioria das celebrações de fim de ano - “Adeus ano velho! Feliz ano novo! Que tudo se realize no ano que vai nascer! Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender!” – exemplifica nossa resistência à Ananke.
Não queremos sentir necessidade de coisa alguma. “Muito dinheiro no bolso” – para nos livrarmos das obrigações com o trabalho, e nos entregarmos aos prazeres do lazer; “saúde pra dar e vender” – para que nada nos impeça no desfrute dos prazeres advindos do dinheiro.
            Objetamos qualquer tipo de necessidade, porque nos são impostas exigências não desejadas, não planejadas, que precisam ser atendidas; porque acreditamos que não podemos precisar de coisa alguma, afinal, “bons” egocêntricos sabem o que quer fazer da vida; porque necessidades geram queixas, e não queremos que ninguém se queixe perto de nós, para não “perdermos tempo” os interesses alheios; porque subentende pobreza, doença, tristeza, falta de realizações.
É necessário ter necessidades. Precisar é tão preciso quanto viver não é preciso, parafraseando Fernando Pessoa (1888-1935). A recusa de cooperar (operar junto), como se pudéssemos nos livrar das necessidades, faz surgir outras necessidades que podem nos ameaçar, inclusive, a saúde mental e a disposição geral em viver a vida. Mas, alguém vive sem precisar de nada? Você já percebeu que sempre tem alguém, em algum lugar do mundo, muitas vezes bem perto, que possui muito mais do que você mesmo?
            Como afirma Sanford: “Ananke significa que existem repressões e limites interiores que precisamos experimentar. Em nossa cultura atual, temos a tendência de esquecer que existem limites legítimos que precisam ser observados” (p. 51).
            Verifique: as necessidades, efetivamente, supridas durante o ano de 2012, não foram aquelas que você mais se envolveu? Desejo que você seja mais bem sucedido durante os dias de 2013, em suas necessidades!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O arquétipo do Natal


            A cena do presépio é perseguida como ideal de família. Pais zelosos, apesar das adversidades. Mas, poucos pensam na psique de cada personagem representada. Não se trata de aplicar-se num exercício de imaginação, mas de refletir nas experiências que o relato bíblico registrou, sem a intenção de provar a existência de cada uma das figuras humanas que o marcam, mas para demonstrar que a vida de todos nós passa pelos mesmos contornos dramáticos, senão externos, especialmente, internos.
            Encantados pela correria, à procura dos presentes, vivenciamos mais a esfera mercantil do Natal, identificada com um projeto machista de vida, que defende a ideologia do mais forte e da aparência exterior, nos afastando, repetidamente, do seu sentido emocional e espiritual, mais próximas do feminino que estimula a harmonia, a solidariedade, o afeto, resultando em compreensões equivocadas da mensagem do Cristo, levando as Igrejas cristãs parecer um túmulo de Deus.
            A causa primeira para esta situação é a identificação com o Arquétipo que a data propõe celebrar. Apesar de o Arquétipo ser irrepresentável, suas ideias e imagens, porém, seduzem pela sua grandeza instintual, por isso mesmo, muito fácil de nos deixarmos ser absorvidos por ele, a ponto de se crer que não há distinção entre o humano e o divino, levando indivíduos a um autoconceito de importância acima do que se é, pois se vê como alguém abraçado, no caso do Natal, a uma pessoa e a uma causa, que lhe dão a chance de possuir uma “razão de ser” ou um “modo de ser”, crendo ser acessível somente aos “eleitos”. De acordo com C. G. Jung (1875-1961): “Psicologicamente, porém, como imagem do instinto, o arquétipo é um alvo espiritual para o qual tende toda a natureza do homem; é o mar em direção ao qual todos os rios percorrem seus acidentados caminhos; é o prêmio que o herói conquista em sua luta com o dragão” (A natureza da psique. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 149).
Infelizmente, esta realidade é demonstrada pelo jornalista Arnaldo Jabor (1940-), quando afirma: “Um mundo opaco gerará uma fome pavorosa de transcendência. Haverá um ressurgimento das religiões e da fé, provocando grandes “Woodstocks” de absoluto, já visíveis hoje nos showmícios evangélicos e nos rituais fundamentalistas (...) – igrejas já são supermercados de esperança e vão virar partidos políticos” (A utopia da distopia. O Estado de São Paulo. 18.12.12, D10).
            Vivenciar o Arquétipo do Natal, “um menino nos nasceu, e o seu nome será Deus conosco...”, como uma sentença dogmática, um material lendário e fantasioso, e mais, modernamente, como um espetáculo midiático, é fazer coro a uma coletivização de uma fé que massifica o indivíduo, portanto, sem benefício algum, à vida pessoal.
            Todos nós estamos no presépio, e precisamos refletir quanto à afirmação de Johann Scheffler (1624-1667), poeta, místico, médico e teólogo alemão: “O ‘Deus te salve’ de Gabriel não traz nenhum bem, a não ser que essa saudação seja dita a mim também” (citado por Edward F. Edinger. O arquétipo cristão: um comentário junguiano sobre a vida de Cristo. São Paulo: Cultrix, 1990).
A festa do Natal só tem sentido para aqueles que rumam para o mar (inconsciente coletivo e pessoal), avança sobre os obstáculos a serem superados (sombra coletiva e pessoal) e, cotidianamente, luta contra o dragão (ego).

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Que raiva?


            Por que a emoção da raiva ou do ódio nos faz sentir mal?
Odiamos a raiva/ódio porque é a emoção que nos dá a percepção de que somos ambíguos; que não somos a pessoa que gostaríamos de ser.
Porque sentimos aversão a todo mau comportamento.
Aprendemos a amar o amor, e a odiar a raiva/ódio.
Segundo o filósofo grego Aristóteles (384-322 A.C.): “É fácil entregar-se a uma paixão – qualquer um pode fazer isso. Mas ficar zangado com a pessoa certa, na medida certa e no momento certo, pelo motivo certo e da maneira certa – não é fácil, e nem todos são capazes disso” (Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978).
Conforme a psicanalista Jane G. Goldberg, em seu “Tenho raiva: o papel positivo das emoções negativas nos relacionamentos” (São Paulo: Mercuryo, 2000), ao lidar com a raiva/ódio tentamos contê-la, expulsá-la e tememo-la, por cairmos nas garras da agressividade.
Para Goldberg: “Odiar nosso ódio é odiar parte de nós mesmos, uma parte que nos fornece informações inestimáveis sobre quem somos, sobre o mundo ao redor e sobre a interseção entre os dois” (p. 61).
Então, a raiva/ódio existe, seja ou não permitida/o; é uma emoção da qual não temos como nos livrar, assim como o tigre não se livra de suas listras. O problema é que não sabemos lidar com a raiva/ódio. Mas, a boa notícia: podemos aprender.
“A energia que a irritação põe à disposição afasta o medo e a sensação de impotência. As emoções voltam nossa atenção para o problema a ser resolvido. Assim, em vez de “Ora, não se irrite”, deveríamos dizer: “Trate de se irritar, sim – mas com moderação” (Thomas Hülshoff. Louco de raiva. Revista Mente&Cérebro. São Paulo: Duetto Editorial, Nº 140, 2004, p. 73).
Podemos manifestar nossa raiva/ódio sem ter de recorrer à violência física, e quanto mais nos exercitarmos, mais evitaremos ou diminuiremos os efeitos negativos da irritação. Para isso, precisamos nos responsabilizar pela irritação, raiva/ódio que provocamos em outras pessoas e no ambiente que participamos.
Podemos expressar nossa própria irritação, e assim gerar respeito por nossos limites, até conseguirmos algum acordo para com os nossos interesses, mas isto quer dizer: cabe-nos respeitar os limites e os interesses dos outros, inevitavelmente.
Segundo Hülshoff, professor titular das cadeiras de medicinal social e de fundamentos médicos de pedagogia terapêutica na Escola Superior Católica NW, de Mümster, Alemanha: “Da próxima vez que você se irritar porque alguém quer passar à sua frente na fila, basta que você expresse essa irritação. Mas sinalize também ao outro sua disposição conciliatória. Se fizer isso, terá boas chances de esclarecer de forma sensata o conflito e de resolvê-lo. A irritação, é de se supor, vai desaparecer – ela já terá cumprido sua função” (Louco de raiva. Revista Mente&Cérebro. São Paulo: Duetto Editorial, Nº 140, 2004, p. 73).
            Nestes últimos dias do ano de 2012 reserve um tempo para refletir quanto ao que você pode fazer quanto à emoção da raiva ou do ódio. Procure por medidas práticas, não agressivas, para que você tire bom proveito de qualquer coisa que o/a irrite.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

‘Tá nervoso?’ Fale, não se cale!


Não é novidade para ninguém que a depressão a que os professores estão sujeitos, muitas vezes causada pela irritação vivenciada no exercício do magistério, é uma realidade que precisa ser enfrentada com todas as nossas energias, ao menos para ser compreendida em sua exata medida, como também, o seu devido tratamento.
Lamentavelmente, estranha-se, contudo, que há aqueles que não admitem que a irritação seja uma das fontes geradoras do transtorno depressivo. Isto se verifica entre os responsáveis pela administração do processo de ensino-aprendizagem, quer de escolas públicas ou privadas, pois muitos de seus programas, resoluções e portarias se ocupam de meras questões burocráticas e, mais graves, pelas descabidas omissões, revelando uma verdadeira sabotagem ao próprio sistema de educação, gerando prejuízos não somente humanos, aos professores e funcionários das escolas, aos alunos a quem os programas se dirigem, em alguns casos irreversíveis, pois não são insignificantes os casos de suicídio, como também, financeiros, devido aos altos índices de absenteísmo e licenças médicas, a quem têm direito os pacientes.
Sabemos que não é possível viver sem que absolutamente nada nos irrite, mas participar de um ambiente no qual a irritação é constante, durante horas, pode tornar enfadonho a realização de qualquer trabalho, e em especial aquele que envolve uma relação interpessoal tão intensa, como o de ensinar.
Mas, como compreender quando a irritação chega à agressão física e/ou verbal entre os alunos e seus colegas, ou entre os mestres e alunos, de tal modo a prejudicar a relação aluno-aluno e professor-aluno, como a imprensa veicula com certa frequência, a ponto de provocar um distanciamento físico e emocional, porque ambos os lados ficam dominados pelo sentimento da raiva?
É preciso, antes de tudo, verificar os motivos, às vezes, inconscientes, que levam a esta situação.
Conforme o professor titular das cadeiras de medicina social e de fundamentos médicos de pedagogia terapêutica na Escola Superior Católica NW, de Münster (Alemanha), Thomas Hülshoff: “Do ponto de vista psicológico nos irritamos sempre que não conseguimos atingir um objetivo, satisfazer um desejo ou quando nossa autoestima é atacada” (Louco de raiva. Revista Viver Mente&Cérebro. São Paulo: Duetto Editorial, Nº 140, 2004, p. 68).
Quer dizer, por que nos agredimos: porque vemos frustradas as expectativas pessoais, ou as que foram estabelecidas pelos burocráticos; por que sentimos ameaçado o poder que presunçosamente acreditamos possuir sobre o conteúdo das aulas ou sobre as próprias pessoas; ou, por que queremos restabelecer a nossa autoestima, movidos por vingança?
Entretanto, Hülshoff adverte: quanto mais claro comunicarmos que estamos irritados com alguma coisa, menores as chances para os conflitos agressivos e/ou violentos.
Além de cumprir as demais obrigações, cabe aos professores mais esta tarefa: para não ficarmos deprimidos, precisamos ajudar aos alunos, aos colegas e, quem sabe, até aos responsáveis pelo cumprimento das obrigações burocráticas, e por fim, a  nós mesmos, a comunicar se estão irritados. ‘Tá nervoso?’ Fale, não se cale!

domingo, 2 de dezembro de 2012

Irritação deprime (2)


            As pesquisas mais atualizadas confirmam: a duração da felicidade pode ser um pouco mais de vinte horas; o medo leva alguns segundos ou no máximo uma hora, para passar; a raiva, não ultrapassa mais do que algumas horas; mas, a tristeza pode durar mais do que um dia inteiro. Portanto, a tristeza que faz fundo à depressão, é a emoção que mais experimentamos por mais tempo. Caso permaneçamos tristes por mais de duas semanas, como a perda de um ente querido, separação ou divórcio, por exemplo, entre outras situações, faz-se necessário considerar a possibilidade de estarmos em depressão.
            Na semana passada afirmamos que a depressão entre professores pode estar associada à constante irritabilidade a que estão sujeitos no exercício profissional, entretanto, para se mostrarem pessoas simpáticas, e às vezes, por temerem algum tipo de punição não verbalizam quanto ao motivo que os deixa irritados, entretanto, demonstram em sua expressão gestual, nos mal-entendidos e perturbações que causam ao ambiente de trabalho, que estão em grave perigo, e ainda, com o passar do tempo, ficam ainda mais, irritados e raivosos. E, perguntamos: O que fazer?
O biólogo, educador ambiental, doutor em Meio Ambiente pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e professor das redes municipais de educação do Rio de Janeiro e de Niterói/RJ, Declev Dib-Ferreira, faz um sincero e aberto desabafo: “Morreram dois (alunos de uma escola pública do Rio de Janeiro). Coisa estúpida. Escola de luto. Eu que já não estou bem, fico pior. O que sinto é um imenso, grande, enorme, incomensurável vazio. Uma sensação de frustração além de minha capacidade de entender. Uma vontade de chorar e me enrolar feito um bebê – ou de beber e chorar até me enrolar. Me pergunto o por quê de tudo isso, se o que eu faço vale a pena, se o que eu sofro tem sentido. (...) Não nos dão o direito de surtar, não podemos ficar doentes, não podemos ter nossos próprios problemas, não podemos gritar, não podemos sair de nós, não podemos ter uma crise!!!” (http://www.diariodoprofessor.com).
            O professor Dib-Ferreira nos ajuda a trazer a irritação para um nível mais “administrável”, e como ele podemos tomar algumas decisões: admitir que manter velada a irritação não é a melhor maneira de tratá-la; reconhecer que a irritação e a raiva podem servir para melhorar os relacionamentos interpessoais, pois através destas emoções podemos delimitar até mesmo espaços físicos a serem ocupados no ambiente social que queremos ocupar, isto é, passamos a evitar os lugares onde as fontes de irritação são presentes, podendo até mesmo, melhorá-los; estabelecer opiniões próprias acerca das circunstâncias que nos irritam para que os outros nos conheçam e nos respeitem, pois assim assumimos nossa própria identidade e encaramos as situações com a verdade da coragem; considerar que ficar irritado não implica em ser agressivo nem ficar com raiva, pois o que mais importa é que as situações que motivaram a irritação sejam discutidas para se encontrar as suas soluções.
               Como afirma a presidente da Associação Internacional de Psicologia Analítica, professora na Universidade de Zurique, Suíça, e psicóloga junguiana Verena Kast (1943-): “Quem se permite ficar irritado acredita que a vida ainda pode mudar. Quem não se permite já não acredita nisso – a irritação nos mostra que algo não vai bem e nos ajuda a modificar relações que julgamos insuportáveis, ou ao menos difíceis de suportar. A raiva e a irritação nos dão a energia necessária para efetuar essas modificações” (Revista Viver Mente&Cérebro. São Paulo: Duetto Editorial, Nº 140, 2004, p. 72).

domingo, 25 de novembro de 2012

Irritação deprime


           País a fora professores têm se manifestado acerca da realidade a que estão submetidos, muitas vezes por sobrevivência, mas sujeitos a toda sorte de doenças psicológicas e biológicas.
            Uma destas manifestações é a da pedagoga, arte terapeuta e psicóloga junguiana, do Rio de Janeiro, Regina Milone. Ao referir-se às condições em que exerce o magistério ela afirma: “Os profissionais, pelas péssimas condições de trabalho e pelos baixos salários, acabam pedindo licenças médicas consecutivas, muitos estão com Síndrome de Burnout, deprimidos, estressados, tristes e irritados. Convivendo com o que eles têm que conviver dentro das escolas, passamos a ver quantos motivos realmente eles têm para isso e é muito triste, pois uma profissão tão importante e fundamental como a de professor anda cada dia sendo mais desrespeitada e desvalorizada. Como encontrar ânimo para continuar assim?!” (www.diariodoprofessor. com/2012/10/26/escola-publica-hoje-relatando-e-refletindo-um-pouco-mais/).
            Ela, entre tantos outros professores que sofrem as mesmas condições aponta-nos para alguns fatores sociais e emocionais, que se não bem administrados, interferem na qualidade de vida de qualquer pessoa e geram doenças. E, a depressão é uma delas. Por quê? A resposta a esta questão não é simples. Primeiro porque depressão é diferente de tristeza.
Para o psicólogo e psicanalista Eduardo A. Furtado Leite, a depressão é inimiga da tristeza, pois leva o indivíduo a viver uma forte indiferença aos seus afetos, inclusive à própria tristeza. Em “Tristeza”, Leite afirma: “A tristeza é a última sentinela contra a depressão, a derradeira emoção”, que pode deter o avanço da depressão e ajudar na compreensão mental da doença (São Paulo: Duetto Editorial, 2010, p. 61). É como se a tristeza fosse a “febre” da depressão, mas a tristeza, em si mesma, não é depressão.
Há dois sintomas que são bem característicos da depressão: sensação predominante de tristeza, com duração maior do que duas semanas, e irritabilidade.
Pensemos hoje, um pouco sobre a irritação que nos acomete a todos, mas de maneira especial aos professores.
A irritação é uma das emoções básicas que mais nos desagrada, porque nos sentimos provocados a tomar a alguma atitude, na tentativa de alterar as situações que nos deixa contrariados, mas que em muitas vezes não nos é possível. São variados os motivos pelos quais nos irritar: as decisões dos políticos, os buracos nas ruas, a programação dos canais de TV, determinados ruídos dos locais onde estamos, os amigos e familiares, os alunos e os professores, etc.
            Algumas pessoas conseguem reagir adequadamente a estas situações, entretanto, na opinião da psicóloga clínica Natasa Jokic Begic: “As pessoas depressivas se irritam com muita facilidade e costumam ficar bem mais mal-humoradas diante de certas situações, sentindo-se culpadas pelo modo como agiram frente à situação que as irritou” (A vida não é um mar de rosas. Programa da TVEscola: Servos e Mestres, Nov. 2012).
            A depressão entre professores pode estar associada à constante irritabilidade a que estão sujeitos no exercício profissional, entretanto, para se mostrarem pessoas simpáticas, às vezes com o medo de sofrerem algum tipo de punição ou pelo sentimento de culpa, como citado acima, não verbalizam o que estão sofrendo. A irritação os corrói por dentro, silenciosamente, mas demonstram em sua expressão gestual, nos mal-entendidos e perturbações que causam ao ambiente de trabalho, que estão em grave perigo, e ainda, com o passar do tempo, ficam ainda mais, irritados e raivosos.
O que fazer? Fica para a próxima semana, se Deus quiser. Até lá.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Lançamento do livro: Religião e Psique: Psicologia Social


Depressão e religião


          Segundo Tákis Athanássios Cordás, Professor de Pós-Graduação do Departamento de Psiquiatria e do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HCFMUSP), a depressão na Idade Média era denominada “acídia”, termo grego para “falta de cuidado”, introduzido nos estudos teológicos sobre a condição de vida dos pecadores pelo monge Ioannes Cassianus (360-435), fora incluída na lista dos sete pecados capitais pelo Papa Gregório, Magno (540-604), identificada como “preguiça”, compreendida como indolência quanto às obrigações religiosas, e ainda: “estava inserida na demonologia da época” (Depressão: da Bile Negra aos neurotransmissores, uma introdução histórica. São Paulo: Lemos Editorial, 2002, p.33).
Conforme Antônio Máspoli de Araújo Gomes, Professor Titular da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e psicólogo junguiano, isto ocorria por que: “Nas sociedades primitivas não havia separação entre sofrimento mental, físico ou espiritual, como não havia separação entre medicina, magia e religião” (Eclipse da alma. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, p. 137).
Apesar da passagem de mais de 1500 anos, esta visão ainda persiste entre os religiosos cristãos, daí os rituais de exorcismos, como tentativa de controlar o sofrimento humano.
Isto nos leva a considerar, sem generalizar, caso algum adepto desta visão sofra de depressão, pode ser levado a recalcar o seu rebaixado estado de humor, empenhando-se numa vida de aparente felicidade e a envolver-se em atividades religiosas pessoais, como reuniões públicas de “oração e louvor” devido a uma crença mal formulada e nutrir uma falsa esperança de cura, o que contribui para um sério agravamento do transtorno e gerar graves dificuldades ao seu tratamento.
Nestes casos, os “adoradores” reproduzem os rituais religiosos, na intenção de imitá-los e repeti-los, como que “macaqueando” sem, contudo, refletir no significado simbólico para si mesmo, tornando-os atitudes automáticas, mecânicas e artificiais de uma experiência que não pode mais ser repetida, gerando um tédio que fortalece o sentimento da depressão, mesmo que o que se deseja é se libertar dela.
Segundo o Dr. Máspoli: “Quando o rito perde o seu efeito ou não mais cumpre o seu propósito expiatório, o sofrimento psíquico, a doença e a depressão ocupam o lugar do sacrifício. A depressão sacrifica a libido, a energia do próprio indivíduo no ritual psicológico de expiação de uma culpa cujas causas são desconhecidas. O deprimido aqui é ao mesmo tempo a culpa e o rito expiatório. O sujeito é o sacrificador e o sacrificado de si mesmo. Todo sofrimento vivenciado na depressão equivale ao sofrimento da vítima sacrificial. O deprimido acredita que rompeu a sua ordem cósmica por um ato real ou imaginário. Acredita também que seu sofrimento é necessário para restabelecer o “nomos” (espírito de normalidade das coisas). No entanto, quanto mais sofre, mais sente culpa e aumenta a vontade de sofrer um sacrifício do ego, em um ritual sadomasoquista auto infligido. O sujeito permanece, desse modo, aprisionado num círculo fechado de culpa e sofrimento, sofrimento e culpa (Eclipse da alma. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, pp. 145-146).

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Por que ficamos deprimidos?

           Classificada na categoria dos transtornos do humor na CID-10 (Classificação Internacional das Doenças Mentais), a depressão deve ser considerada uma doença que se caracteriza com frequentes recaídas.
Para a maioria das pessoas a depressão é sentida como um “fracasso moral”, quer dizer, sentir que não consegue manter um estado de ânimo otimista e feliz na realização das tarefas que os papéis sociais nos cobram, independentemente do esforço empreendido. Esta experiência corrói a autoestima.
            O deprimido sente-se “imprestável” diante dos desafios que têm à sua frente.  No caso dos professores, este sentimento é experimentado devido à avaliação profissional a que está submetido diante dos alunos, dos outros colegas e dos diretores da escola. O problema se agrava se se levar em conta as elevadas expectativas dos seus familiares, vizinhos e amigos quanto à sua adaptação social.
            Dos casos que relata em “Os pantanais da alma: nova vida em lugares sombrios” (São Paulo: Paulus), James Hollis nos ajuda a compreender que a depressão pode ter um significado diferente para cada um de nós, dependendo das circunstâncias histórico-pessoais, vivenciadas desde a infância.
As circunstâncias da nossa vida, em especial aquelas que envolvem nossa família original, segundo Hollis, como que determinam as crenças que construímos acerca de nós mesmos, dos outros e dos nossos relacionamentos. Tais conceitos podem levar-nos a um tipo de depressão, e que geralmente, são desconsiderados no tratamento do transtorno.
            O autor aponta para as seguintes circunstâncias que conduzem à depressão, fenômeno que surge normalmente por volta dos 35-40 anos de idade: esforçar-se para “merecer” o amor, admiração e carinho dos pais; e, assumir deveres familiares, sociais e até profissionais, contrários ou antagônicos aos desejos da alma, isto é, manter reprimidas as vontades pessoais no atendimento das expectativas de terceiros.
            Conforme o diretor executivo do Jung Educational Center of Houston, seja qual for a condição geradora da depressão temos de encontrar, integrar e viver corajosamente os desejos da alma, ainda que isto gere alguma ansiedade. Para ele, a ansiedade, neste caso, pode nos levar a um crescimento pessoal, enquanto a depressão nos manterá presos ao sentimento de derrota.
            Para acabar com a depressão precisamos enfrentar com força as circunstâncias que nos trouxeram a ela, e suportar a tensão entre os nossos deveres e os desejos de nossa alma. Isto significa que os medicamentos e as distrações, tão largamente recomendados, nos afastam dos significados que a depressão tem para nos comunicar: que não é possível “comprar” o amor, o carinho e a atenção de quem quer que seja, e aprender a amar e afirmar a si mesmo independentemente da opinião alheia.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Depressão entre professores


            Sem levar em consideração a imprescindível necessidade e a importância de um correto diagnóstico médico e/ou psicológico da depressão, aliás, uma das tarefas mais complexas e desafiadoras que tanto a psiquiatria quanto a psicologia enfrentam, o tema faz parte do cotidiano de nossas vidas: das famílias às empresas, dos pobres aos ricos, dos crentes aos incrédulos, da infância à velhice.
            Os professores não são exceção. Numa recente pesquisa o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) aponta que 29% dos professores sofrem de algum tipo de depressão, responsável pelo afastamento temporário ou definitivo do trabalho, e 59% deles não fazem acompanhamento médico, porque o governo estadual limitou o número de vezes que o profissional pode realizar alguma consulta médica, podendo ser este um dos fatores que tem contribuído para tantos professores sofrerem de depressão, o que agrava ainda mais a situação (http:// www.apeoesp.org.br/noticias/noticias/estresse-depressao-e-ansiedade-os-inimigos-do-professor-da-rede-publica-de-sp/).
            Os fatores sociais e pessoais que determinam o surgimento da depressão são variados, e os professores estão sujeitos aos mesmos, ainda que alguns sejam gerados no exercício da própria profissão.
            Conforme o Prof. Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes, professor titular da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e psicólogo junguiano em São Paulo, a depressão destrói a paz interior, o amor próprio e a segurança pessoal, a confiança de que alguém pode ajudar, aliás, o deprimido não acredita, não suporta nem aceita a ideia de que existe ajuda.
“O deprimido é irritadiço. Neurastênico mesmo. Não tem domínio sobre as próprias emoções. Não tem paciência. Perde a cabeça com facilidade. Explode à toa” não sabe a origem da própria irritação e nem precisa. Está sempre irritado, e isso basta! (...) A vida não tem sentido. O trabalho não tem sentido. (...) Sente-se fracassado o tempo todo. Acaricia o fracasso como a um amigo íntimo. (...) O deprimido troca o dia pela noite. (...) Quando consegue dormir, não quer mais acordar. (...) O deprimido não consegue se concentrar nas atividades mais simples da vida cotidiana. (...) Sua vontade é frouxa. (...) O interesse pelo sexo praticamente desaparece. Quando a vontade ressurge, contudo, é exagerada, sem limites. O deprimido geralmente oscila entre dois extremos: da pureza a libertinagem. O deprimido come. Não por sentir fome, mas para preencher o vazio da alma. (...) Acredita que a morte pode acabar com tudo que está errado de uma só vez. O risco de suicídio não deve ser subestimado. (...) A ansiedade às vezes generalizada esconde uma depressão, escamoteia um luto. As crises de ansiedade da síndrome de pânico obnubilam geralmente um quadro depressivo grave” (Antônio Máspoli de Araújo Gomes (Org.) Eclipse da alma. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, pp. 158-160).
Nos próximos artigos, continuaremos a refletir sobre a depressão entre os professores. Contudo, é bom salientar: depressão tem tratamento, e seus efeitos podem ser amenizados, e em alguns casos, podem ser superados.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A lição de Cronos aos professores


             Segundo Hesíodo, em “Teogonia: a origem dos deuses” (750 a. C.), Cronos assassina o pai Urano e devora seus próprios filhos, por temer a perda do trono. Sua irmã e esposa Reia, o leva para a ilha misteriosa de Lictos depois de perder o trono para um de seus filhos, Zeus, o qual se safa da ira paterna o constitui rei dos bem-aventurados, onde reina com sabedoria, justiça e amor proporcionando abundância, harmonia e felicidade.
            Cronos, um dos vários arquétipos do espírito humano, revela-se num deus devorador de todas as novidades que seus filhos podiam trazer ao mundo, e mais tarde em um deus sábio, proativo e mentor de novas perspectivas de vida.
            Se aplicado à realidade dos professores, o mito grego nos faz considerar: o professor que se identifica com o deus devorador não facilita a discussão de novas ideias, inibe as iniciativas dos alunos na busca por conhecimentos, centraliza-se como detentor do saber, e exige a submissão dos mesmos aos seus padrões de pensamento e de comportamento.
            Ao aluno fica a certeza de que não passa de objeto indesejável, com consequências desastrosas ao seu aprendizado, podendo gerar atitudes de violência contra este estado de coisas a que está submetido, se sentindo à margem do processo do ensino.
            Quanto ao relacionamento com seus colegas de magistério o professor “devorador”, por exemplo, vê-se superior aos iniciantes na carreira e/ou competem entre si, estabelece no ambiente de trabalho a inveja, a rivalidade e cobranças estranhas ao processo de ensino-aprendizagem. Estas e outras situações são as causas de estresse, falta de motivação para o trabalho, e problemas psicossomáticos, situações que confirmam os dados da pesquisa realizada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOSP), citados no artigo anterior (Quando o professor é forte – disponível no blog referido abaixo).
            Contudo, Cronos se mostra líder de uma era de avanços culturais, econômicos e sociais ao povo de Lictos, graças à sua sabedoria, justiça, benevolência e paciência, valores que são encontrados quando há uma alteração na direção da vida, para o espírito.
            É preciso recuperar o sentido das palavras do pai da administração moderna Peter Drucker (1909-2005): “Nosso desafio é tornar novamente o conhecimento um meio para o desenvolvimento humano, é ir além do conhecimento como ferramenta e recuperar a educação como o caminho para a sabedoria” (Drucker na Ásia. São Paulo: Pioneira, 1997, citado por Robson Santarém, no artigo “Puer e Senex nas relações de trabalho”, em Puer-Senex: dinâmicas relacionais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, p. 183).
Se continuarmos a negligenciar quanto a alteração pela qual precisamos passar, por nos recusarmos a tomar ética e moralmente esta decisão, continuaremos sofrendo as tristes realidades a que estão submetidos os professores. Segundo C. G. Jung (1875-1961): “O arquétipo do espírito é certamente caracterizado como sendo capaz de efeitos tão bons quanto maus, mas depende da decisão livre, isto é, consciente da criatura humana, que o bem não se deteriore em algo satânico. Seu pior pecado é a inconsciência, mas a ela se entregam com a maior devoção até mesmo aqueles que deveriam ser mestres e modelos para os outros” (Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 2ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p. 247).

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Lançamento do livro: Trabalho e estranhamento: saúde e precarização do homem que trabalha


O livro “TRABALHO E ESTRANHAMENTO: Saúde e Precarização do Homem-que-Trabalha” (Editora LTr, 2012), organizado por Giovanni Alves (UNESP/RET), André Luís Vizzaccaro-Amaral (UEL/RET) e Daniel Pestana Mota (ADESAT/RET), será lançado, entre os dias 05 e 09/11/2012, no Congresso Internacional da Asociación Latinoamericana de Abogados Laboralistas (ALAL: http://www.alal.com.br/materia.asp?cod_noticia=6098), em Salvador-BA, Brasil.
A obra, constituída coletivamente, conta com a colaboração de protagonistas e de novos pesquisadores dos campos das ciências sociais e humanas, jurídicas e da saúde relacionadas ao mundo do Trabalho, como Giovanni Alves (UNESP), Luiz Salvador (ALAL), Ricardo Antunes (UNICAMP), Edith Seligmann-Silva (USP-Aposentada), Jorge Luiz Souto Maior (USP/TRT-15), José Roberto Montes Heloani (UNICAMP), Maria Elizabeth Antunes Lima (UFMG), Margarida Barreto (PUC-SP/FCM-SANTA CASA-SP), Francisco José Trillo Párraga (UNIVERSIDAD DE CASTILLA-LA MANCHA-ESPAÑA), Renata Paparelli (PUC-SP), Sergio Augusto Vizzaccaro-Amaral (RET), José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva (TRT-15), Sandra Fogaça Rosa Ribeiro (UNOESTE), André Luís Vizzaccaro-Amaral (UEL), Daniel Pestana Mota (RET), Olímpio Paulo Filho (Advocacia Trabalhista e Previdenciária), Sandro Eduardo Sardá (MPT-12) e Heiler Ivens de Souza Natali (MPT-09).
Em breve o livro estará disponível nas principais livrarias do país.

Giovanni Alves (UNESP/RET/ADESAT/GPEG-UNESP)
André Luís Vizzaccaro-Amaral (UEL/RET/ADESAT/GPEG-UNESP)
Daniel Pestana Mota (RET/ADESAT)
Organizadores

Quando o professor é forte

       Recentemente a APEOSP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) publicou os seguintes resultados de uma pesquisa acerca da saúde do professor na rede estadual de ensino: “18% dos professores têm depressão e 57% deles acabam se afastando das aulas. Outros 23% sofrem de ansiedade ou síndrome do pânico. A hipertensão arterial atinge mais de 30% da categoria na rede estadual” (http://www.apeoesp.org.br/noticias/noticias/as-licoes-da-professora-janete-para-sobre-viver-na-profissao/). Infelizmente, não difere muito na rede municipal de ensino.
          Os motivos apontados são: baixa remuneração salarial, precárias condições de trabalho, superlotação das salas de aula, situações de ameaça e violência praticadas por parte de alguns alunos. Por estas e outras razões, a profissão é cada vez mais relegada na lista de preferência de emprego.
            É importante registrar outro fator que contribui para esta condição a que o professor está submetido: a imagem do professor, nem sempre positiva, que os meios de comunicação apresentam à sociedade.
"Muitos jornalistas acreditam que o professor é um profissional que nunca está pronto, que precisa de uma melhor formação e que, por isso mesmo, não serve muito como fonte confiável de informação para as reportagens. O efeito mais nefasto dessa imagem é a crença por parte dos educadores de que eles são mesmo despreparados para lidar com os alunos, com os conteúdos e com os contextos socioeconômicos. E, se o professor não acredita em si, despreza o próprio trabalho e entra em classe inseguro, o ensino e a aprendizagem fatalmente não terão um bom desempenho”, conforme afirma a jornalista Kátia Zanvettor Ferreira, em tese de doutorado – “Quando o professor é notícia: imagens do professor e imagens do jornalismo” – apresentada na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, no último mês de julho (http://www.apeoesp. org.br/teses-e-dissertacoes/jornalista-apresenta-doutorado-na-usp-sobre-a-imagem-dos-professores-na-midia/).
            Acreditar e esperar por medidas que alterem a realidade biopsicossocial dos professores por parte das autoridades que respondem pelo sistema educacional brasileiro, é no mínimo, ser ingênuo.
O pleno exercício de nosso direito e o cumprimento de nossos deveres chama-nos à resiliência. Se os problemas são inevitáveis, apesar de criarmos alguns, admitamos, podemos nos fazer fortes através de atitudes, como por exemplo: maturidade, nos afastando do comodismo de buscar os culpados por tudo que acontece de errado conosco; individualidade e não egoísmo individualista, se quisermos que nos respeitem na condição de pessoas que procuram integrar à personalidade todos os elementos necessários para uma vida de realizações; criatividade em tomar iniciativas inovadoras, elemento inerente à profissão, sem temer os desafios que podem nos trazer, ao contrário, investir em novas potencialidades, bem como naquelas já conquistadas muitas vezes às duras penas, visando garantir o futuro próprio e da profissão; espontaneidade, quer dizer, estarmos abertos para o novo, mesmo que isto signifique sermos menos rígidos com os alunos, com os colegas e com nós mesmos, se quisermos nos livrar da depressão, por exemplo; e, autonomia, permanecendo de pé pelas próprias forças, sem perder a ternura com os outros e o amor a nós mesmos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Com e sob o poder



             Não é possível nos livrarmos da ideia de que o poder tem um lado humano e subjetivo, apesar de normalmente procurarmos chamá-lo de autoridade, comando, lugar ou centro de tomada de decisão. Estes sinônimos são usados para camuflar a realidade de que o poder exerce forte influência sobre nossas vidas, seja por aqueles que o detém ou pelos que se submetem a ele. Preferimos os sinônimos técnicos a encarar a face humana do poder. Por isso os subalternos têm olhos baixos ao cruzar com os poderosos, evitam o olho-no-olho. Mas, numa sociedade comunitária, na qual estamos inseridos, isto não favorece a prática de privilégios e a manutenção de cidadãos de segunda classe?
            Desde os primeiros tempos, o poder é experimentado na vida familiar, onde o pai é considerado o representante da lei - aquele que determina os limites daquilo que é ou não permitido. Mais do que o pai individual, é a dinâmica paterna, isto é, o predomínio do pensamento racional sobre a subjetividade em nosso dia a dia, que estabelece forte tensão entre o conceito e a relação com o poder, conforme Thaís A. Máximo, doutora em psicologia social pela Universidade Federal da Paraíba (O poder e suas faces. Associação Brasileira de Psicologia Social. Belo Horizonte, MG, 2010).
            O que nos diferencia enquanto pessoas e grupos é a detenção do poder: os que o têm em suas mãos, e aqueles que se submetem.
Por isso, a sociedade precisa sempre questionar as decisões que beneficiam a alguns, e prejudicam os interesses da maioria. Quanto maior a rigidez do uso do poder, maiores serão as barreiras sociais a serem superadas. Quanto menos importância for dada às opiniões contrárias, menos significado terá o indivíduo e a possibilidade de ouvi-lo. E, o mais grave, quanto mais o indivíduo considerar-se impotente frente ao poder, até mesmo pelos seus representantes, menos será reconhecido como protagonista dos fatos que envolvem a sua vida e a de seus pares.
Na vivência social o poder está, inseparavelmente, ligado à personalidade do líder e à sua competência, podendo dar ou não coesão e sustentação aos que representa.
No caso da democracia, o poder precisa buscar legitimidade dos meios de controle que aplica em seu exercício, para haver um verdadeiro desenvolvimento de todos. Daí a necessidade de ficarmos atentos à manipulação daqueles que se encontram à frente da coletividade.
Como observou Zygmunt Bauman (1925-), sociólogo polonês: “Quanto maior a minha margem de manobra, maior o meu poder. Quanto menos liberdade de escolha tenho, mais fracas são minhas chances na luta pelo poder” (A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas. Rio de Janeiro, Zahar, 2008, p. 47).
C. G. Jung (1875-1961), tratando do caos que o abuso do poder trouxe ao mundo por ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), aconselha a percebermos em nós mesmos a tensão que a relação com o poder gera, com o propósito de adquirir consciência acerca de quem somos. Não basta os protestos, que pouco contribuem para uma real transformação das condições sociais negativas que o uso do poder provoca em toda a sociedade, como também, até mesmo as autoridades espirituais podem estar distantes da alma, e como hoje, afinadas ao discurso dos poderosos (Aspectos do drama contemporâneo. Petrópolis, Vozes, 1988).

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

XVIII InterQuinta_Jung – Debate -" Rango"

Secretaria Municipal da Cultura e
Centro de Estudos Junguianos de Marília

Convidam:
XVIII InterQuinta_Jung – Debate

         Exibirá o filme: “Rango”, seguido de debate.

Sinopse: Rango é um camaleão da cidade grande que vai parar, após um acidente, em pleno velho oeste, na cidade de Poeira no deserto do Mojave, na Califórnia. De uma hora para outra, sua rotina de animal de estimação mudou radicalmente e agora ele precisa deixar a vida "camuflada" para enfrentar os perigos existentes no mundo real, fazendo com que ele vivencie a experiência de fazer amigos, conhecer inimigos e até, quem sabe, se tornar um herói.
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Informações Técnicas
Título no Brasil: Rango
Direção: Gore Verbinski
País de Origem:  EUA
Ano de Lançamento: 2011
Gênero:  Animação
Recomendação: 10 anos
Duração: 107 Minutos



Vozes da versão original: Johnny Deep; Isla Fisher; Abigail Breslin; Ned Beatty; Alfred Molina; Bill Nighy

Data da Exibição: 27/09/2012
Horário: 20h00      
Local: Sala de Projeção Municipal, piso superior da Biblioteca Municipal. Entrada pela Av. Rio Branco.

Comentários:

Gilson Cardoso - Formado em Psicologia pela Unimar, com Pós Graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo INDEP. Atua como Psicólogo na Secretaria da Educação e também atuação clínica.

Entrada Franca- Vagas Limitadas

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A “isca” das promessas dos políticos


Nestes dias de campanha eleitoral-partidária uma questão precisa ser respondida tanto pelos candidatos quanto pelos eleitores: O que leva as pessoas a almejarem uma cadeira no executivo ou no legislativo? Por que tais posições são tão importantes?

            Talvez, a resposta vai além de, simplesmente, ser um direito assegurado pela democracia, ou pelas vantagens que são oferecidas aos seus ocupantes.

            Porém, se formos mais conscientes, vamos verificar que se trata de uma questão muito mais profunda: entregamos ao poder a capacidade de nos gerenciar e esvaziamos a fé de que o amor, a beleza e os sonhos podem nos dar dias melhores.

            Nicolas Berdyaev (1874-1948) cristão ortodoxo russo, escreveu: “o político e o sargento, o banqueiro e o advogado, são mais fortes que o poeta e o filósofo, o profeta e o santo”. A força deles se mede pelo poder que têm nas mãos, mesmo quando lhe é concedido pelo voto, pelas ordens dos superiores, pelas promissórias ou pela procuração. Estes, como também, os homens de negócios, nunca falam sobre amor e, se o fazem, é difícil acreditar. Segundo Rubem Alves é porque “o amor não é nunca a fonte e o objetivo do que fazem. O amor é sempre um meio para o poder. A isca de amor tem sempre um anzol escondido no seu interior”.

            A “isca” das promessas de campanha, apresentadas como declaração de amor pela população, fisga muita gente, pelo anzol do poder. É o poder disfarçado de amor que vence, apresentado pelas mãos que dizem produzir e apresentar resultados. Assim as mãos sufocam o coração, de onde nascem o amor, os sonhos, a beleza. O poder vence o amor porque se acredita ser, a única razão de existir, pois ficou determinado, sabe-se lá por quem, que é o meio para alcançar os objetivos. Assim, o amor, a beleza e os sonhos, ingredientes do mistério da existência humana, são compreendidos como inexistentes, fantasiosos e mentirosos. Para o poder, não há mistério.

            Pode-se, ainda, citar outro filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), para quem o Estado é “o mais frio de todos os monstros”. Diz ele: “Vejam como o Estado os engana – os muitos – e como ele os devora, mastiga, rumina. ‘Sobre a terra nada existe maior do que eu: eu sou o dedo legislador de Deus’ – assim ruge o monstro. Não são apenas os de vista curta e orelhas compridas que caem de joelhos. Também a vós, homens de inteligência, ele segreda suas mentiras tenebrosas. Vós vos cansastes de lutar, e agora o vosso cansaço também serve o novo ídolo. Com heróis e homens de honra ele se cerca, o novo ídolo! Ele vos dará tudo se o adorardes, este novo ídolo: e é assim que ele compra o esplendor das vossas virtudes e o brilho orgulhoso do vosso olhar. E ele os usaria como isca para apanhar os muitos... Estado é o lugar onde todos bebem veneno. Estado, ali onde o vagaroso suicídio de todos é chamado de vida”.

            Para Rubem Alves “não são os homens que jogam o jogo do poder; é o poder que joga com os homens”. E, por que? Porque, para o poder, é crime acreditar que amar, ser verdadeiro e realizar o que é belo torna a vida mais feliz.