segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Sobre a alma


“Hoje conhecemos muito sobre a mente e pouco sobre a alma, muito sobre o pensamento crítico e pouco sobre a imaginação, muito sobre lógica e pouco sobre paixão. Do jardim da infância à universidade fomos treinados para questionar, argumentar, analisar, criticar e debater. Em suma: pensar, pensar e pensar! Enquanto isso, nossa alma está morrendo. E quando a alma morre, ela o faz de maneira tão serena e impassível que mal percebemos. Não há barulho, lamento, funeral, nem lágrimas pela alma. Quase como se nada tivesse acontecido, o corpo continua a comer, beber, dormir e trabalhar. E também a mente, como uma máquina sem espírito, continua a estalar, zunir e fazer seu trabalho. Mas a alma morreu e a paixão se foi. [...] Numa cultura obcecada pelo que a mente é e pelo que ela pensa, temos de seguir a via menos percorrida e aprender o que o coração é e o que ele pensa” (ELKINS, D. N. Além da religião. Pensamento: São Paulo, 2005, p. 47).
            Parece que somente as pessoas que sofrem com algum transtorno mental ou as crianças vivenciam experiências que advém da alma, da imaginação e da paixão. Constata-se isto em seus desenhos, poemas, pinturas e/ou esculturas, enfim, toda a sua produção artística, sem nos esquecermos de algumas contribuições científicas.
            Contudo, na opinião de David Elkins, presidente da Divisão de Psicologia Humanística da American Psychological Association, é possível a todos, psicóticos e neuróticos, restaurar o lugar que a alma deve ter em nossas vidas. Porém, tememos os mistérios a que nossa alma pode nos conduzir, caso abrimos mão de nossa “venerável” capacidade racional.
            Psique ou anima, seja em grego ou latim, seu significado não é exclusivamente religiosa; “alma” refere-se a todas as forças que nos movem profundamente, presente em todas as experiências. É ela que nos leva a sentir experiências.
            Os critérios racionais são inválidos em defini-la, porque ela invalida nossos processos mentais lógicos e racionais. Não pode ser definida, mas sentida porque nos toca. Sentimos a sua presença, principalmente, quando passamos por uma experiência que nos provoca certa incompreensão. E, cada um de nós a percebe à sua maneira.
A alma habita o mundo dos mitos, das artes, e da religião. Só sabemos que estamos diante dela quando algo nos é revelado: quando um amigo nos diz algo que nos põe num novo nível de relação com ele e/ou com o mundo; quando ouvimos uma música e nos ajuda a superar uma dificuldade; quando sentimos saudade de um tempo que não pode mais retornar, mas que nos ajuda a melhorar os dias que estamos vivendo; quando caímos em desespero devido a alguma tragédia; quando uma palavra nos humilha e nos desorienta quanto aos melhores caminhos que poderiam ser tomados; quando um sentimento nos abate e nos leva para baixo e nos entristece por um longo período de tempo, apesar de nos esforçarmos para sair daquele estado; quando uma enfermidade se instala, frustrando até mesmo o tratamento mais eficaz; quando um acontecimento, ainda que previsto, abrevia a chegada do fracasso financeiro, e/ou o abandono social; quando as lágrimas escorrem e o riso se torna difícil; ou até mesmo, quando a morte vence a vida.

Desfile de nós mesmos


A festa do Carnaval nos reapresenta as estruturas psíquicas arquetípicas, isto é, uma mente que mantém o lado primitivo praticamente intocado, como se não tivesse havido evoluções biológicas, culturais, sociais, tecnológicas e até religiosas.
As fantasias que os foliões desfilam e dançam diante dos nossos olhos não são meras recordações saudosistas, mas expressões contemporâneas da rudeza arcaica que nos constitui como humanos. Animais e celebridades são retratados por máscaras que ressaltam características deformadas, como se ainda estivéssemos em eras pré-históricas. Danças e músicas conservam os ritmos dos povos desconhecidos que habitam as florestas mais longínquas. Os costumes e as leis sociais são subvertidos para facilitar a adaptação das pessoas à folia. As roupas, ou a sua ausência, como se não tivéssemos avanços tecnológicos capazes de nos vestir convenientemente. E o fator religioso pode ser observado no grande ritual do “carnevale” – adeus carne, em italiano, como as festas promovidas pela Igreja Cristã desde a Antiguidade, que eram denominadas Saturnalia, com danças e cantos de crianças lideradas por sacerdotes embriagados. “No meio da missa, pessoas fantasiadas com máscaras grotescas ou de mulher, de leões ou de atores apresentavam suas danças, cantavam no coro canções indecentes, comiam comidas gordurosas num canto do altar” (JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Vozes: Petrópolis, 2003, p. 253, apud Du Cange, Glossarium mediae et infimae latinitatis, p. 481).
A diversão e o prazer proporcionados pela festa encobrem o seu real significado. E há quem prefira viver o tempo todo como num ininterrupto carnaval, sem perceber que a vida é feita de pares de opostos: puerilidade e sabedoria, profano e sagrado, morte e vida, amor e ódio, lealdade e traição, tristeza e alegria, palavras e ações ridículas e bom senso, e muitos outros, não sendo possível um excluir o outro. Somos feitos de ambivalências, inclusive quando estamos em festa.
Vivenciamos em nosso dia a dia esta cisão de personalidade. Ora nossas decisões são coerentemente civilizadas, ora não. Ora agimos como se não fossemos nós mesmos, ora queremos e forçamos que as normas sejam mais frouxas. Ora preferimos nos ocupar com coisas inferiores, como fofoca, por exemplo, daí o sucesso das telenovelas e reality-show que estimulam a curiosidade acerca da vida alheia, como se não tivéssemos de nos ocupar com nós mesmos. Ora a vaidade nos força a estratificar a ordem social e nos sentimos orgulhosos por pertencer a uma delas, ora nos envolvemos em movimentos de solidariedade humana. Ora erigimos tradições eclesiásticas rígidas e rituais inflexíveis, ora não toleramos solenidade.
O desfile de rua apresenta a constituição interna coletiva e a realidade interna de cada um de nós, apesar de na maioria das vezes não assumirmos com responsabilidade livre e voluntária esta realidade. Os desfiles coletivos revelam a falha nacional; os foliões e os não-foliões, seus defeitos pessoais.
Seria bom que aproveitássemos esta festa para conhecermos mais e melhor a nós mesmos. A máscara exterior e os adereços usados nos bailes, ou até mesmo a necessidade que alguns sentem de se manterem afastados, em retiros religiosos, falam a respeito de quem somos interiormente. Desfilamos a nós mesmos a todo tempo.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Desapego (4)


“Será que nos tornamos de tal modo uma sociedade do bem-estar que não conseguimos tolerar as vicissitudes normais da emoção humana? Como pensamos que será quando deixarmos aquilo que acreditávamos ser? Como podemos conhecer a verdade a respeito da vida, se não suportamos olhar claramente e sem a proteção das nossas ilusões?” (BREHONY, K. A. Despertando na meia idade: tomando consciência do seu potencial de conhecimento e mudança. São Paulo: Paulus, 1999, p. 178).
            Para a psicoterapeuta junguiana Kathleen A. Brehony (1949-), estamos sujeitos a experiências desagradáveis, mesmo que sejamos pessoas corretas e honestas; que as contrariedades são elementos naturais da vida, simplesmente apontam para a realidade de quem somos, e ninguém está protegido delas. Daí, a necessidade do desapego de tudo e de todos, inclusive de nós mesmos, exatamente, do sentimento de grandeza que damos a nós, e a todos e/ou tudo que nos rodeia.
            O desapego nos prepara para enfrentar a realidade do mundo humano, fazendo-nos mais versáteis, hábeis e adaptados, pois como sobreviventes de um evento que preferíamos se não tivesse dado, não é mais possível recompor a vida às condições, talvez mais suaves, vividas anteriormente, ou porque não somos mais a mesma pessoa.
            O desapego nos leva a perceber a relação existente entre dois ou mais acontecimentos, até então impossível de vinculação de causa e efeito, porque não seguiam os processos lógicos e racionais do pensamento, mas se forem apurados em comparação aos tempos anteriores, podem não só estarem relacionados, como guardar um valor emocional que não nos era permitido perceber, numa vida possuída por regras rotineiras e “normais”.
            O desapego nos requisita a realizar um trabalho semelhante ao dos alquimistas, isto é, transformar chumbo em ouro. Quer dizer, somos desafiados a transformar o lado escuro da vida como a inveja, a mentira, o roubo, a dissimulação, e todo sofrimento que isto nos causa, em algo mais produtivo como: sabedoria, produtividade, alegria, honestidade, paciência e paz.
            É verdade, aos jovens é difícil aprender esta lição. O desapego é para ser empreendido, segundo Brehony, a partir da meia idade, depois dos 35-40 anos de idade, quando a busca de significado e propósito da vida passa a ser interessante. Para a mesma autora: “Propósito é o resultado de viver cada minuto da vida com autenticidade e profundidade” (p. 205). Quanto mais autêntica e profundamente nos conhecermos como somos realmente, nossa vida perceberá qual o seu propósito na existência.
O desapego contribui com novas formas para a nossa comunidade e para o mundo, transformando o que é tido como algo “natural” em conhecimento cultural que, talvez altere a vida de todos; o que é puro instinto em espírito; o que é um simples “ponto de vista” em algo que pode colaborar para um mundo melhor.
O desapego desenvolve em nós um caráter e uma graça, até então, desconhecidos, isto é, o trato com os outros passa a ser dominado por um profundo sentimento de empatia, e abrimos mão da nossa necessidade de julgamentos negativos e de exigência de perfeição, ficamos mais delicados e ternos.
Oxalá, alcancemos este estado de graça que o desapego nos propõe.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

XI InterQuinta Jung - Debate do filme: O Som do Coração


Secretaria Municipal da Cultura e
Centro de Estudos Junguiano de Marília

Convidam:
XI InterQuinta_Jung – Debate

            Exibirá o filme: “O Som do Coração”, seguido de debate.

Sinopse: Evan, garoto criado em um orfanato, possui um dom musical impressionante. Ele é o fruto do encontro apaixonado da violoncelista Lyla e do roqueiro Louis, que foram tragicamente separados pelo pai de Lyla. Cada um seguiu seu caminho, sem saber que Evan estava vivo, e com a única certeza de que haviam sido feitos um para o outro. Evan, em seu coração, nunca perdeu a esperança de encontrar seus pais. Em sua incrível busca, ele foge para Nova York, onde recebe a ajuda do "Mago", um empresário de rua. O Som do coração é uma história comovente, sobre a magia da música e o poder do amor.

Data da Exibição: 23/02/2012
Horário: 20h00      
Local: Sala de Projeção Municipal, piso superior da Biblioteca Municipal. Entrada pela Av. Rio Branco.

Comentários:

Milene Fontanelli: Psicóloga Clínica e Organizacional.
Site: www.pensarbem.blog.com

Rogério Plaza: Músico, Produtor Musical, Arranjador.

Entrada Franca- Vagas Limitadas