Nestes dias de campanha
eleitoral-partidária uma questão precisa ser respondida tanto pelos candidatos
quanto pelos eleitores: O que leva as pessoas a almejarem uma cadeira no
executivo ou no legislativo? Por que tais posições são tão importantes?
Talvez,
a resposta vai além de, simplesmente, ser um direito assegurado pela
democracia, ou pelas vantagens que são oferecidas aos seus ocupantes.
Porém,
se formos mais conscientes, vamos verificar que se trata de uma questão muito
mais profunda: entregamos ao poder a capacidade de nos gerenciar e esvaziamos a
fé de que o amor, a beleza e os sonhos podem nos dar dias melhores.
Nicolas
Berdyaev (1874-1948) cristão ortodoxo russo, escreveu: “o político e o
sargento, o banqueiro e o advogado, são mais fortes que o poeta e o filósofo, o
profeta e o santo”. A força deles se mede pelo poder que têm nas mãos, mesmo
quando lhe é concedido pelo voto, pelas ordens dos superiores, pelas
promissórias ou pela procuração. Estes, como também, os homens de negócios,
nunca falam sobre amor e, se o fazem, é difícil acreditar. Segundo Rubem Alves
é porque “o amor não é nunca a fonte e o objetivo do que fazem. O amor é sempre
um meio para o poder. A isca de amor tem sempre um anzol escondido no seu
interior”.
A
“isca” das promessas de campanha, apresentadas como declaração de amor pela
população, fisga muita gente, pelo anzol do poder. É o poder disfarçado de amor
que vence, apresentado pelas mãos que dizem produzir e apresentar resultados. Assim
as mãos sufocam o coração, de onde nascem o amor, os sonhos, a beleza. O poder
vence o amor porque se acredita ser, a única razão de existir, pois ficou
determinado, sabe-se lá por quem, que é o meio para alcançar os objetivos.
Assim, o amor, a beleza e os sonhos, ingredientes do mistério da existência
humana, são compreendidos como inexistentes, fantasiosos e mentirosos. Para o
poder, não há mistério.
Pode-se,
ainda, citar outro filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), para quem o Estado
é “o mais frio de todos os monstros”. Diz ele: “Vejam como o Estado os engana –
os muitos – e como ele os devora, mastiga, rumina. ‘Sobre a terra nada existe
maior do que eu: eu sou o dedo legislador de Deus’ – assim ruge o monstro. Não
são apenas os de vista curta e orelhas compridas que caem de joelhos. Também a
vós, homens de inteligência, ele segreda suas mentiras tenebrosas. Vós vos
cansastes de lutar, e agora o vosso cansaço também serve o novo ídolo. Com
heróis e homens de honra ele se cerca, o novo ídolo! Ele vos dará tudo se o
adorardes, este novo ídolo: e é assim que ele compra o esplendor das vossas
virtudes e o brilho orgulhoso do vosso olhar. E ele os usaria como isca para
apanhar os muitos... Estado é o lugar onde todos bebem veneno. Estado, ali onde
o vagaroso suicídio de todos é chamado de vida”.
Para
Rubem Alves “não são os homens que jogam o jogo do poder; é o poder que joga
com os homens”. E, por que? Porque, para o poder, é crime acreditar que amar,
ser verdadeiro e realizar o que é belo torna a vida mais feliz.