domingo, 20 de setembro de 2015

Qual a “face” do País que te identifica?

            Não é difícil perceber o retorno de bandeiras comuns das organizações anticomunistas brasileiras de grupos radicais de direita, que foram agitadas durante os anos 1960. Formadas, na maioria, por estudantes, políticos, policiais e intelectuais, tais agremiações faziam denúncias e atacavam diretamente pessoas e entidades que se opunham às forças militares que governavam o País.
            Em nome do medo do avanço da esquerda no Brasil, universitários ligados a Universidade Mackenzie, Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, formavam: a Associação Anticomunista Brasileira, Frente Anticomunista e Movimento Anticomunista. Hoje, com espaço nas redes sociais, essas organizações adotam outros nomes com os mesmos objetivos: Brasil sem Comunismo, Por um Brasil Melhor, Movimento Brasil Livre, Fora PT, etc.
            Apesar de tudo, a alma do cantor e compositor Belchior (1946-), descreveu a dimensão social e humana que o País vivia nos anos 60-70, em “Como nossos pais”: “Cuidado, meu bem / Há perigo na esquina / Eles venceram e o sinal / Está fechado pra nós, / Que somos jovens / Minha dor é perceber / Que apesar de termos / Feito tudo o que fizemos / Ainda somos os mesmos / E vivemos / Como os nossos pais”.
Os lados opostos com projetos de vida opostos se opõem. De um lado, o grupo que pretendia enfrentar o pensamento conservador; suscitar e desenvolver a consciência política; tomar a opção pelo povo como protagonista de sua história; lutar com as ideias e não com as armas. De outro lado, aqueles que preferiram repressão, intervenção, ultimatos, censuras, defesa de interesses, fechamento do Congresso Nacional, mas, que revelam faces diferentes de um mesmo País.
            A atmosfera social e política brasileira, como há mais de 50 anos, hoje, aguarda uma resposta de cada um de nós, ao questionamento: Qual projeto de  vida merece a minha participação, o meu envolvimento, a minha defesa? Com qual das “faces” de País me identifico, como brasileiro: tolerante às divergências, responsabilidade para assumir as potências de viver; ou, a que se identificava com a suspeita, o policiamento e vigilância ideológica, intolerância às diferenças, a tortura e a morte, o golpe, a marcha sádica da tropa para eliminar a imaginação, a fantasia, a criatividade?
            Para o advogado, cientista político e analista junguiano Roberto Gambini: “O posicionamento político vem da ética, da consciência, e é atuado pelo ego. A alma não é política, mas sofre os efeitos da política. E estes efeitos são imprevisíveis. E, você pode ficar assustado porque não dá para saber como a alma reage, quando vive uma ditadura. É preciso ter a musculatura e os nervos para suportar um conflito de opostos até que ele gere um produto que emana, igualmente, de um pólo e de outro” (XXVII Moitará. 1964: Repressão, medo e criatividade. Campos do Jordão, 28-30/11/2014).
            A escolha, portanto, passa por deixar de ser um “indivíduo desfibrado”, sustentado pela sociedade coletivista, como nos ensina o crítico literário e sociólogo Prof. Antonio Candido (1918-), em seu “Estratégia”.

(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: (14) 99805.1090 / (14) 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)

domingo, 13 de setembro de 2015

Setembro Amarelo

            Vinculada a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Associação Internacional de Prevenção ao Suicídio (IAPS), realiza campanhas de conscientização acerca do suicídio, chamadas de Setembro Amarelo. Para a IAPS e a OMS, o suicídio é um problema de saúde pública que merece ser tratado e prevenido.
O que leva uma pessoa a suicidar-se? Como preveni-lo?
            Segundo o psicólogo James Hillman (1926-2011): “Para compreender um suicídio precisamos saber que ‘fantasia mítica’ está sendo encenada” (Suicídio e alma. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 62).
            Portanto, precisamos aprender a ver a morte, inclusive o suicídio, a partir de fatores interiores e não apenas pelas condições sociais, culturais, econômicas, religiosas que o envolvem. As evidências estatísticas e os dados dos perfis de personalidade dos suicidas reforçam os prejulgamentos jurídicos, filosóficos, sociológicos, médicos e teológicos acerca do suicídio. Esses fatores, na verdade, funcionam como mecanismos de condenação e não de compreensão de uma alma que está sofrendo.
            Compreender a “fantasia mítica que está sendo encenada” significa, entre tantas coisas, acompanhar a experiência do funcionamento inadequado da psique que pode causar prejuízos irreparáveis ao corpo, como flechas mortais que caçam, ferem, encravam e matam ao seu portador.
            Temos de acolher o suicídio como uma visita do “outro lado” da vida que, na maioria das vezes, se revela obscuro, impenetrável, intraduzível, não-interpretável, misterioso, enigmático, perturbador. Esse “outro lado” não cede a argumentos racionais porque não têm bases intelectuais; está enraizado na fantasia, no inconsciente, inacessível a críticas. Nas palavras de C. G. Jung, é quando: “vivencio o outro em mim, e o outro que não sou, me vivencia” (Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 32). Precisamos nos questionar: Por que essa perturbação está entrando em minha vida? Que tipo de vida eu tenho que precisa desta perturbação?
            A “prevenção”, a partir da compreensão da “fantasia mítica que está sendo encenada”, passa por simpatia, envolvimento íntimo e pessoal, comunicação ampla, total e irrestrita, mais que mera observação de comportamentos fisiológicos e/ou sociológicos.
A alma do suicida tem algo muito significativo a comunicar, algo entre a autodestruição e uma nova vida que lhe parece distante e impossível de se tornar realidade, e, duvida que possa ser forte para suportar. “Mas se a libido consegue desvencilhar-se e subir à tona, o milagre aparece: a viagem ao submundo é uma fonte de juventude para ele e da morte aparente desperta novo vigor”, compreende Jung (Símbolos da transformação. Petrópolis: Vozes, 1989, p. 285).
“O contato pessoal é de importância fundamental, pois forma a única base, a partir daquele se pode atingir o inconsciente. [...] Não há perigo algum enquanto existir o contato; e até mesmo quando se tem de encarar de frente o horror da loucura ou a sombra do suicídio, continua a existir aquela atmosfera de fé humana, aquela certeza de compreender e de ser compreendido, por mais negra que seja a noite”, afirma Jung (O desenvolvimento da personalidade. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 102-103).
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: (14) 99805.1090 / (14) 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)

domingo, 6 de setembro de 2015

O que faço, quando eu erro? (2)

            Acreditamos que para superarmos os nossos erros, as nossas falhas ou os nossos defeitos isso depende bastante, senão exclusivamente, da nossa força de vontade e inteligência. Há muito tempo os amuletos e os sacrifícios de animais perderam a importância e não são mais empregados na superação de nossas dificuldades pessoais.
Quando algum “defeito” não é vencido, logo concluímos que se deve a falta de sermos mais racionais ou de nos empenharmos com maior vontade.
Entretanto, estamos pagando um alto preço por sermos mais racionais, e prestarmos um verdadeiro culto à vontade. Além dos gastos com a medicação especializada como ansiolíticos e antidepressivos, o desgaste emocional está se tornando cada vez mais intenso.
            Ou seja, parece que os “defeitos” são mais fortes que a nossa inteligência e força de vontade, e não cedem ao nosso empenho - quanto mais elaboramos tentativas em superá-los, mais nos frustramos.
            Na realidade, há “defeitos” que são insuperáveis por habilidades técnicas. Não existe nada que possamos fazer para evitar que tenhamos tantos defeitos e que podem ser superados bastando alguma atitude “técnica” a ser aprendida e aplicada.
            Para Carl Gustav Jung: “Os maiores e mais importantes problemas da vida são, no fundo, insolúveis; e deve ser assim, uma vez que exprimem a polaridade necessária e imanente a todo sistema autorregulador. Embora nunca possam ser resolvidos, é possível superá-los mediante uma ampliação da personalidade” (O segredo da flor de ouro. Petrópolis: Vozes, 1984, p. 32).
            As “partes inferiores” que nos impedem de acertar, que nos provocam tantos dissabores são fatores psicológicos vivos e autônomos de um sistema que regula-se o tempo todo, por não ser unilateral, que recusa a extremos. Estamos no campo da vida, daquilo que é próprio do viver.
            “Ampliar a personalidade” significa, neste sentido, participar de um processo de superação de si mesmo, interagindo com todas as possibilidades interiores ou exteriores que gravitam ao redor dos “defeitos”, recusando-se a toda tentativa de fixação ou manutenção de posturas rígidas, mesmo que as possibilidades nos pareçam obscuras, duvidosas, incertas, contrárias a maioria das opiniões alheias, desprezíveis e humildes frente aos talentos ou capacidades mais desenvolvidas que, entretanto, promovem a superação às tristezas e perturbações que os “defeitos” provocam.
            Simplificando: aprender com os erros cometidos, transformando acontecimentos indesejados que os “defeitos” suscitaram, em experiências de vida. É acompanhar, bem de perto, o processo psíquico que os “defeitos” provocam interior e exteriormente.
            E, como diria Jung, mais uma vez: “Tudo o que é bom é difícil, e o desenvolvimento da personalidade é uma das tarefas mais árduas. Trata-se de dizer sim a si mesmo, de se tomar como a mais séria das tarefas, tornando-se consciente daquilo que se faz e especialmente não fechando os olhos à própria dubiedade” (idem, p. 34-35).
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)

terça-feira, 1 de setembro de 2015

PsicoCine C. G. Jung - A Fita Branca


PsicoCine C. G. Jung apresenta:

A FITA BRANCA
Gênero: Crime, Drama, Mistério
Duração: 144 min.
Origem: Áustria, França, Alemanha e Itália
Estreia: 12/02/2010
Direção: Michael Haneke
Roteiro: Michael Haneke
Ano: 2009

Sinopse:
Um vilarejo protestante no norte da Alemanha, em 1913, às vésperas da Primeira Guerra Mundial. A história de crianças e adolescentes de um coral dirigido pelo professor primário do vilarejo e suas famílias: o barão, o reitor, o pastor, o médico, a parteira, os camponeses. Estranhos acidentes começam a acontecer e tomam aos poucos o caráter de um ritual punitivo. O que se esconde por trás desses acontecimentos?

Data: Sábado, 05 de setembro

Horário: 16:00

Local: Clínica de Psicologia

Endereço: Rua Cel. Siqueira Reis, 115 (próximo ao CPP).

Evento gratuito

Compareça!

domingo, 30 de agosto de 2015

O que faço, quando eu erro?

        Como você interpreta os seus “defeitos”, as suas “derrotas”, os seus “erros”, os seus “fracassos”, o “lado” que leva você a desejar, a falar e a agir de maneira que você não aprova, não aceita? Por exemplo: quando usa palavras inapropriadas para a pessoa que você ama, ou, simplesmente, se mantém em silêncio entre as pessoas mais falantes; quando você é impaciente, desatento e desafeto para com os outros; quando não se mantém fiel e verdadeiro com os amigos; quando você não consegue encarar as difíceis situações principalmente aquelas que envolvem você e terceiros; quando você fica irritado por coisas que sabe que não têm a importância que você atribui a elas; quando a autoindulgência vence a “lealdade a si mesmo”; quando você não consegue manter as boas intenções planejadas no início do ano, como: fazer exercícios diários, visitar as pessoas amadas mais frequentemente, não gastar dinheiro com supérfluos antes economizar para adquirir um bem desejado ou para fazer a viagem dos sonhos, etc.
O psicólogo analítico Paulo S. Ruby, compreende essa situação da seguinte maneira: “Na medida em que a vida flui e funciona de forma satisfatória, não sentimos a necessidade de mudar. O problema surge quando a forma de ser não funciona e não dá conta de responder às questões emergentes. [...] Nesse momento uma crise se instala e partes de nosso ser, que antes não eram requisitadas, passam a ser chamadas na arena da vida empurrando-nos a desenvolver outras formas de ser no mundo para dar conta das novas situações. Aquela parte da personalidade que ficou subdesenvolvida precisa ser utilizada para que haja uma apreensão da realidade de forma mais adequada. Essa parte inferior pode ter as ferramentas úteis para manejar as dificuldades que nos importunam” (Correlações entre a função inferior e o sintoma corpóreo: um estudo sobre a função sensação inferior introvertida. Dissertação de Mestrado na PUC/SP. São Paulo: 2013).
Essas “partes inferiores”, por que ficaram à margem do caminho, não receberam o cuidado necessário, foram sacrificadas pelo excesso na construção de uma personalidade adaptada ao mundo dos costumes e da cultura coletiva, nos convocam para uma decisão ética, se quisermos transformar-nos pelas vicissitudes a que estamos sujeitos.
C. G. Jung, contribui para compreendermos essa atitude: “Que eu faça um mendigo sentar-se à minha mesa, que eu perdoe aquele que me ofende e me esforce por amar, inclusive o meu inimigo, em nome do Cristo, tudo isto, naturalmente não deixa de ser uma grande virtude. [...] Mas o que acontecerá, se descubro, porventura, que o menor, o mais miserável de todos, o mais pobre dos mendigos, o mais insolente dos meus caluniadores, o meu inimigo, reside dentro de mim, sou eu mesmo, e precisa da esmola da minha bondade, e que eu mesmo sou o inimigo que é necessário amar?”
É preciso dar atenção ao inimigo, ao mendigo, ao insolente, ao menor, ao indigno, isto é, diminuir a unilateralidade da consciência que privilegia o civilizado, o talentoso, o fidalgo, o cordial, cordato e cortês. É preciso envolver-se e desenvolver uma visão dialética de mundo, que não privilegia um lado em detrimento do outro.

(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)
O que faço, quando eu erro?
            Como você interpreta os seus “defeitos”, as suas “derrotas”, os seus “erros”, os seus “fracassos”, o “lado” que leva você a desejar, a falar e a agir de maneira que você não aprova, não aceita? Por exemplo: quando usa palavras inapropriadas para a pessoa que você ama, ou, simplesmente, se mantém em silêncio entre as pessoas mais falantes; quando você é impaciente, desatento e desafeto para com os outros; quando não se mantém fiel e verdadeiro com os amigos; quando você não consegue encarar as difíceis situações principalmente aquelas que envolvem você e terceiros; quando você fica irritado por coisas que sabe que não têm a importância que você atribui a elas; quando a autoindulgência vence a “lealdade a si mesmo”; quando você não consegue manter as boas intenções planejadas no início do ano, como: fazer exercícios diários, visitar as pessoas amadas mais frequentemente, não gastar dinheiro com supérfluos antes economizar para adquirir um bem desejado ou para fazer a viagem dos sonhos, etc.
O psicólogo analítico Paulo S. Ruby, compreende essa situação da seguinte maneira: “Na medida em que a vida flui e funciona de forma satisfatória, não sentimos a necessidade de mudar. O problema surge quando a forma de ser não funciona e não dá conta de responder às questões emergentes. [...] Nesse momento uma crise se instala e partes de nosso ser, que antes não eram requisitadas, passam a ser chamadas na arena da vida empurrando-nos a desenvolver outras formas de ser no mundo para dar conta das novas situações. Aquela parte da personalidade que ficou subdesenvolvida precisa ser utilizada para que haja uma apreensão da realidade de forma mais adequada. Essa parte inferior pode ter as ferramentas úteis para manejar as dificuldades que nos importunam” (Correlações entre a função inferior e o sintoma corpóreo: um estudo sobre a função sensação inferior introvertida. Dissertação de Mestrado na PUC/SP. São Paulo: 2013).
Essas “partes inferiores”, por que ficaram à margem do caminho, não receberam o cuidado necessário, foram sacrificadas pelo excesso na construção de uma personalidade adaptada ao mundo dos costumes e da cultura coletiva, nos convocam para uma decisão ética, se quisermos transformar-nos pelas vicissitudes a que estamos sujeitos.
C. G. Jung, contribui para compreendermos essa atitude: “Que eu faça um mendigo sentar-se à minha mesa, que eu perdoe aquele que me ofende e me esforce por amar, inclusive o meu inimigo, em nome do Cristo, tudo isto, naturalmente não deixa de ser uma grande virtude. [...] Mas o que acontecerá, se descubro, porventura, que o menor, o mais miserável de todos, o mais pobre dos mendigos, o mais insolente dos meus caluniadores, o meu inimigo, reside dentro de mim, sou eu mesmo, e precisa da esmola da minha bondade, e que eu mesmo sou o inimigo que é necessário amar?”
É preciso dar atenção ao inimigo, ao mendigo, ao insolente, ao menor, ao indigno, isto é, diminuir a unilateralidade da consciência que privilegia o civilizado, o talentoso, o fidalgo, o cordial, cordato e cortês. É preciso envolver-se e desenvolver uma visão dialética de mundo, que não privilegia um lado em detrimento do outro.
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)

domingo, 23 de agosto de 2015

O encontro de Trotsky com a Psicologia

O encontro de Trotsky com a Psicologia
            A 75 anos do atentado que tirou a vida do ucraniano Leon Trotstky, em 21 de agosto de 1940, o seu envolvimento intenso e pessoal com a psicologia é uma página merecedora de um resgate reflexivo, tanto às ciências políticas quanto para a psicologia.
            “Intelectual brilhante. Homem de inúmeros talentos. Seu currículo o levava a ser o preferido por Lenin (1870-1924), para sucedê-lo, mas também a ser perseguido, de forma implacável, por Stalin (1878-1953). Pensava na melhoria do homem integral”, conforme Alberto Dines, do Observatório da Imprensa (vale conferir no site do OI).
            Para sobreviver aos terrores estanilistas, que marcaram sua vida e família, Trotsky buscou ajuda do psicólogo Alfred Adler (1870-1937). O encontro se deu graças a Raissa Epstein (1872-1962), esposa de Adler, amiga do casal Trotsky e Natália, pois “pertencia aos círculos da intelligentsia e propalava opiniões de esquerda”, conforme Elisabeth Roudinesco (Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 7).
Interessado no socialismo e um livre-pensador, com o surgimento da social-democracia na Áustria, entre 1919-1934: “Adler desenvolveu uma psicologia de contexto, em que o comportamento é compreendido em termos do ambiente físico e social” (Fadiman e Frager. Personalidade e Crescimento Pessoal. 5ª. Edição. Porto Alegre: Artmed, 2004, p. 120). Em seu “What Life Should Mean to You”, Adler afirma: “É o indivíduo que não está interessado no seu semelhante quem tem as maiores dificuldades na vida e causa os maiores males aos outros. É entre tais indivíduos que se verificam todos os fracassos humanos” (Londres: Uniwin Books, 1932).
Grande parcela de seus pacientes vinha das classes baixas e médias de trabalhadores e desempregados, como: garçons, acrobatas, porteiros de hotel, artistas diferentemente dos psiquiatras de sua época. “Lutava por melhores condições de habitação e educação, saneamento básico e salários mais altos”, segundo E. James Liberman (The Driver for Self: Alfred Adler and the founding of individual psychology. Bulletin of the History of Medicine. Vol. 71, Nº 4, 1997).
Portanto, os fundamentos ideários entre Adler e Trotsky estavam estabelecidos desde muito antes de se encontrarem. Segundo Gilson Dantas, o encontro reforçou ainda mais o “sentimento de comunidade”, princípio teórico básico da psicologia individual de Adler: “Sua ideia é que a Revolução Permanente inclui a desconstrução de relações velhas e construir relações humanas novas; ele não quer apenas negar o capitalismo, mas liberar a subjetividade humana através do processo revolucionário, numa perspectiva comunista”, completa o historiador da Universidade Federal de Goiás.
            Considerando a contribuição de ambos às ciências políticas e à psicologia, eles merecem saber: “A humanidade somente chama de gênios aqueles indivíduos que muito contribuíram para o bem-estar comum. Não podemos imaginar um gênio que não tenha deixado nenhuma vantagem para a humanidade atrás de si” (Heins e Rowena Ansbacher: The individual psychology of Alfred Adler. NY, 1964, p. 153, citado por James Hillman, em: Ficções que curam. Campinas: Verus, 2010, p. 174).
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)



domingo, 16 de agosto de 2015

O meu problema sou eu. O seu, é você.

            Negamos nossas responsabilidades pessoais nos problemas que nos acontecem. Estamos convictamente convencidos que as situações difíceis ligadas à política (nacional e local), meio ambiente, cultura, saúde, direito, economia e às relações interpessoais em geral, não são nossos reais problemas. Apressamo-nos para saber o que aconteceu deu errado e, rapidamente, concluímos que se deve aos outros.
            Segundo James Hillman (1926-2011), isto se deve ao ideal protestante ocidental que busca a plena e irrestrita independência do “eu” frente a todas as realidades que nos cercam, por não admitirmos a ideia de que somos seres interdependentes (Uma busca interior em psicologia e religião. São Paulo: Paulinas, 1984). Contudo, na opinião de C. G. Jung (1875-1961), precisamos: “Descobrir coisas até então inconscientes, [...] perceber as forças impessoais que se ocultam em seu interior” (Psicologia e religião. Petrópolis: Vozes, 1990, p. 54).
            Ao considerar que os problemas estão fora de mim, e que me cabe resolvê-los, permaneço inconsciente acerca de mim mesmo, isto é, vivo como se tivesse poder de “tirar o cisco do alheio, sem perceber a trave que existe no meu”, conforme o ensino das Escrituras Sagradas.
            Na realidade, nosso problema somos nós mesmos. O meu problema sou eu. O seu problema é você. Nossos problemas revelam quem somos. Negamos energicamente esta realidade, porém tomamos os problemas como sendo criados por terceiros.
            “Tu queres fugir de ti, para não teres de viver aquilo que não foi vivido até agora. Mas não podes fugir de ti mesmo. Isto está todo o tempo contigo e exige realização. Se te colocares cega e surdamente esta exigência, tu te colocarás cega e surdamente contra ti mesmo. Então jamais alcançarás o saber do coração. O saber do coração é como teu coração é. De um coração mau, conheces coisas más. De um coração bom, conheces coisas boas. Para que vosso conhecimento seja completo, considerai que vosso coração é ambos: bom e mau” (O Livro Vermelho, p. 233, 234).
            Precisamos “realizar” a nós mesmos, ou seja, ver e ouvir o que realmente somos interiormente, se quisermos adquirir alguma sabedoria na administração daquilo que existe no exterior que nos rodeia.
            Ainda no Livro Vermelho (p. 235), Jung nos lembra da fábula do “santo que, ao sentir nojo dos doentes da peste, tomava o pus de suas feridas e notava que tinha um odor como o das rosas”.
            Precisamos resistir à tentação de atribuir às contingências a razão de nossa infelicidade. Em outro lugar, Jung afirma: “A vida não vem das coisas, mas de nós” (O Livro Vermelho. Petrópolis: Vozes, 2010, p. 239).
              Como a foto do Sebastião Salgado sugere: para fazer bem o meu trabalho preciso me valer da minha própria luz, e você da sua.

(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)

domingo, 9 de agosto de 2015

Pai, você me ensina cada uma!

Pai, você me transmitiu princípios de vida acerca da nossa família, mas também sobre o mundo humano. Percebi que são leis da vida, ordens e proibições morais, mas para cumpri-las preciso me equilibrar bastante, por que não é fácil, nada fácil.
Suas palavras me pareciam divinas. O problema é quando você achava que era como se fosse deus. Eu sei que é difícil perceber isso, mas você precisa saber que: “O poder do arquétipo não é controlado por nós; nós é que estamos à disposição dele num grau que nem suspeitamos. Há muitos (pais) que resistem à sua influência e compulsão, mas também há muitos que se identificam com o arquétipo. [...] O perigo está exatamente nesta identidade inconsciente com o arquétipo; não apenas exerce uma influência dominadora sobre a criança por meio da sugestão, mas também causa a mesma inconsciência na criança, de modo que ela sucumbe à influência de fora não podendo concomitantemente fazer oposição de dentro. Quanto mais o pai se identificar com o arquétipo, tanto mais inconsciente, irresponsável e até mesmo psicótico ele será” (JUNG, C. G. Freud e a psicanálise. Petrópolis: Vozes, 1989, p. 306).
É pai, isto quer dizer, que você carrega a imagem de herói, mas que com o passar do tempo pode ter diminuído bastante, na verdade, precisava diminuir para o meu próprio bem. Eu percebi que isto acontecia, quando você passava dificuldades. Não, não estou me referindo àquelas de me criar, mas sim, àquelas que eram mais fortes que o seu prestígio, o seu dinheiro, a sua inteligência. Refiro-me às dificuldades que você tem como um ser humano, que me deixavam apreensivo e temeroso. Como daquelas vezes que você “espalhava seu mau humor qual tempestade e, sem muito refletir, mudava a situação toda num piscar de olhos. (Como) o touro provocado para a violência ou para a preguiça apática”, conforme o mesmo Jung (Civilização em transição. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 39).
Sabe pai, eu percebi que nessas ocasiões, por incrível que pareça, você me ensinou “cada uma”. O que? Por exemplo: 1. Que você não é o ideal único de vida; que eu posso e preciso ter ideais próprios; 2. Que se você fracassa em suas dificuldades, eu posso e preciso ser um melhor pai para comigo mesmo, para com os meus próprios fracassos, ou seja, não preciso esconder o meu lado sombrio, pois não vou exigir de você uma perfeição que não existe, por que, também, não sou perfeito. Quer dizer: as suas dificuldades desencadeiam boas possibilidades para o meu desenvolvimento pessoal; 3. Que seus maus exemplos despertam a minha consciência e indignação morais, contra os meus próprios defeitos e dos outros.
Infelizmente, isso não quer dizer que não sofri lesões, mas me permitiram desenvolver outra ordem de coisas, que pode não ser igual nem melhor que a sua, apenas, diferente.
Pai, não posso deixar que o “ontem chova no futuro”, parafraseando Manuel de Barros. Muito obrigado por tudo isso. Feliz dia dos pais!

(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)

domingo, 2 de agosto de 2015

II Sarau - GEPA - Grupo de Estudos de Psicologia Analítica - C. G. Jung

Local: R. Cel. Siqueira Reis, 115 - próximo ao CPP - Centro do Professorado Paulista, Jd. Luciana. 
Outra referência: Aeroporto
Data: 22 de agosto de 2015
Horário: 19:00
Realização: GEPA - Grupo de Estudos de Psicologia Analítica - GEPA - C. G. Jung
Evento Gratuito
Há muito tempo o Sarau é utilizado por artistas e amantes da arte como forma de divulgação e valorização dos processos de criação e expressão (música, dança, poesia e artes plásticas).
O Sarau é aberto a todas as pessoas que quiserem participar com sua poesia, conto, música, dança ou outra arte e também a todos aqueles que querem apenas prestigiar e assistir as apresentações nele ocorridas.
Para quem irá se apresentar é somente necessário dar nome na entrada ou durante o sarau, caso ainda haja vagas.
Cada apresentação tem o limite máximo de 15 minutos, não exigindo limite máximo.
No contexto do Grupo de Estudos de Psicologia Analítica - GEPA - C. G. Jung - o Sarau ganha destaque com as apresentações artísticas produzidas pelos membros, com o apoio e orientação do Diretor do Grupo, visando conteúdos da teoria de Jung.
A partir desta ideia, surge o desafio: transformar o antigo, abrindo um novo mundo de conhecimento para os membros, despertando, assim, seu instinto criativo, como elemento de ampliação de consciência e auxílio no processo de individuação.
Neste 2º Sarau, vamos refletir em composições brasileiras.
Teremos a participação especial da violonista Ana Cláudia.
Pode entrar que a casa é nossa!



A alienação homem-animal, precisa ser vencida


A cada dia aumenta a quantidade de animais abandonados nas ruas; cresce o número dos que são envenenados por vizinhos incomodados; outros tantos, maltratados pelos próprios proprietários; muitos administradores de estabelecimentos que resgatam animais em precárias condições de saúde promovem campanhas de doações e solicitam a ajuda para a manutenção de suas atividades; não são poucos aqueles que se levantam contra animais em cativeiro para experimentos científicos; e, há uma enorme variedade de sociedades de amparo e proteção a animais. E, os protestos contra a derrubada e corte de árvores, no campo e na cidade, compõem o mesmo quadro.
A notícia da morte do leão Cecil, esta semana, mobilizou milhares de pessoas em todo o mundo. No último dia 06 de julho, Cecil, leão símbolo da preservação da vida selvagem, foi morto no Parque Nacional de Hwange, no Zimbábue, África, ao ser atraído para fora da área de proteção do parque, por uma carcaça de animal preso à traseira do veículo conduzido pelos caçadores: Walter James Palmer, Theo Bronkhorst e Honest Ndlovuum. Cecil foi alvejado por um tiro, sua cabeça e pele foram arrancadas.
A morte de Cecil e os casos que envolvem o sofrimento e a morte de animais, e o desmatamento de grandes áreas florestais nos levam a refletir quanto à relação do homem com a ordem natural. Expõe-nos o grau de alienação existente com os nossos instintos. Com exceção de São Francisco de Assis, a animalidade dos humanos está banida da vida psíquica, social e, até da prática religiosa.
A relação entre os seres humanos, os animais e o “animal interior” aguarda por uma atitude pessoal e única. A cultura é um instrumento de dominação do animal que existe em nós, mas não nos protege de sua reação, antes, essa energia se acumula e reage, principalmente quando a organização social é moralmente hipócrita, ao excluir/banir os opostos que contestam o que é determinado como “normal” e “natural”, como a que estamos vivendo em nossos dias.
“A falta de respeito pelo “irmão animal” desperta o animal em nós. Para que uma verdadeira humanidade seja possível, é necessário que haja uma relação com os animais”, segundo o historiador da Universidade de Londres, Sonu Shamdasani (Jung e a construção da psicologia moderna. Aparecida (SP): Ideias & Letras, 2005, p. 274).
As manifestações a favor da preservação dos animais domésticos e/ou selvagens, ou de preservação das árvores, especialmente, em nossas ruas e avenidas, vêm de pessoas que, provavelmente, estão em harmonia com o seu “lado animal”.
Para Jung: “Na natureza, o animal é um cidadão bem comportado. É piedoso, segue os caminhos com grande regularidade, não faz nada de extravagante. Só o homem é extravagante. Por isso, se a pessoa assimilar o caráter do animal, se tornará um cidadão especialmente zeloso das leis, se movimentará devagar, demonstrando ser razoável em vários momentos, na melhor medida de suas possibilidades” (Notas sobre o Seminário ministrado entre 1930-1934).

(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto Junguiano de São Paulo (IJUSP), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)


quinta-feira, 30 de julho de 2015

PsicoCine C. G. Jung - Mary e Max: Uma Amizade Diferente

PsicoCine C. G. Jung
Filme: Mary e Max: Uma Amizade Diferente
Data: Sábado, dia 01 de agosto
Horário: 16:00
Local: Clínica de Psicologia
Endereço: Rua Cel. Siqueira Reis, 115 (próximo ao CPP).
Evento gratuito.
Comentários: Psicóloga Clínica Simone Campos Prefeito
Compareça!
Uma história de amizade entre duas pessoas muito diferentes.
Mary Dinkle, uma menina gordinha e solitária, de oito anos, que vive nos subúrbios de Melbourne.
E, Max Horovitz, um homem de 44 anos, obeso e judeu que vive com Síndrome de Asperger no caos de Nova York.
Alcançando 20 anos e 2 continentes, a amizade de Mary e Max sobrevive muito além dos altos e baixos da vida.
Mary e Max é viagem que explora a amizade, o autismo, o alcoolismo, de onde vêm os bebês, a obesidade, a cleptomania, a diferença sexual, a confiança, diferenças religiosas e muito mais.
Dos criadores do vencedor do Oscar de curta de animação ‘Harvie Krumpet.

domingo, 26 de julho de 2015

Tributo a Carl Gustav Jung, 140 anos de nascimento

            Há exatos 140 anos (1875), nascia em Kesswil, Suíça, Carl Gustav Jung.
Filho único, até aos 09 anos de idade, do Rev. Paul Achilles Jung, pastor luterano e Émile Preiswerk, dona de casa. C. G. Jung foi o primeiro filho vivo do casal, depois da perda de outros três que nasceram mortos, ou sobreviveram alguns dias depois do nascimento.
Jung foi um psiquiatra que preferia ser tratado com
o psicólogo. Juntamente com Sigmund Freud (1856-1939), foi um dos fundadores do movimento psicanalítico, no início do século XX, e um de seus grandes pensadores.
            Entre os anos 1906-1913, Jung encontrou-se pessoalmente com Sigmund Freud (1856-1939), somente sete vezes, mantendo uma troca semanal de correspondências, nas quais abordavam desde os assuntos íntimos e familiares até aos temas teóricos a que ambos se dedicavam, além de um intenso e divergente debate sobre os trabalhos científicos. Jung foi o primeiro presidente da Associação Psicanalítica Internacional (IAP), cuja sede fica em Zurique, desde a sua fundação, em 1910, até 1914, quando renunciou.
            Isto é importante, pois se faz necessário estabelecer as bases teóricas do trabalho científico de Jung: Richard Von Krafft-Ebing, Eugene Bleuler, Pierre Janet, Theodore Flournoy, Franz Riklin e, o próprio Freud, para que não se perpetue a referência do pensamento freudiano sobre sua obra, como se este fosse de segunda categoria.
Os trabalhos de Freud, sobre histeria e a interpretação dos sonhos, corroboravam com os trabalhos que Jung desenvolvia no hospital Burghölzli, junto aos pacientes que sofriam esquizofrenia, pois segundo sua aguçada observação, não podiam ser tratados com a aplicação da teoria da libido sexual na tentativa de compreender os seus sofrimentos. E, este foi o principal motivo do rompimento entre os dois.
            Sua mente curiosa e culta produziu uma obra que abrange da filosofia, ciências, literatura, antropologia, paleontologia, história das religiões, linguística a psicologia, “da qual mais da metade ainda não foi traduzida e publicada”, conforme a analista francesa Viviane Thibaudier (Jung: Médico da alma. São Paulo: Paulus, 2014, p. 16).
            “Memórias, sonhos e reflexões”, pode ser considerada a primeira obra a ser lida por aqueles que se interessam pelo pensamento do criador da Psicologia Analítica. Trata-se do registro autobiográfico pelo qual conhecemos o lado humano, tão comum a todos nós, como: filho de pais afetuosos, mas ultrapassados para as suas demandas; insuficiências materiais diante dos desafios financeiros que a pobreza lhe impunha; entretanto, segundo seu ponto de vista, foram situações que o levaram a buscar o que há de mais fundamental a saber na vida - quem ele era para si mesmo e para o mundo. Nesse sentido, e o mesmo se aplica a nós, afirmou: “Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der” (Memórias, Sonhos e Reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015, p. 314).
            Se pudéssemos eleger a preocupação principal entre todas que Jung lidou em seu trabalho, ficaríamos com esta: “O perigo reside na alteração psíquica do homem. Tudo depende do bom ou do mau funcionamento da nossa psique. (idem, p. 142).
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto Junguiano de São Paulo (IJUSP), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)

segunda-feira, 20 de julho de 2015

I Sarau do GEPA - Grupo de Estudos de Psicologia Analítica - GEPA - C. G. Jung


I Sarau
Local: R. Cel. Siqueira Reis, 115 - próximo ao CPP (Centro do Professorado Paulista, Jd. Luciana. Outra referência: Aeroporto).
Data: 24 de julho de 2015
Horário: 19:30
Participação Especial: Psicóloga Vivian Verônica Buck – CRP 06/58896 – Fone (11) 99656.1855.
Candidata a Analista do Instituto Junguiano de São Paulo (IJUSP), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology
Realização: GEPA - Grupo de Estudos de Psicologia Analítica - GEPA - C. G. Jung
Evento Gratuito
Há muito tempo o Sarau é utilizado por artistas e amantes da arte como forma de divulgação e valorização dos processos de criação e expressão (música, dança, poesia e artes plásticas).
O Sarau é aberto a todas as pessoas que quiserem participar com sua poesia, conto, música, dança ou outra arte e também a todos aqueles que querem apenas prestigiar e assistir as apresentações nele ocorridas.
Para quem irá se apresentar é somente necessário dar nome na entrada ou durante o sarau, caso ainda haja vagas.
Cada apresentação tem o limite máximo de 15 minutos, não exigindo limite máximo.
No contexto do Grupo de Estudos de Psicologia Analítica - GEPA - C. G. Jung - o Sarau ganha destaque com as apresentações artísticas produzidas pelos membros, com o apoio e orientação do Diretor do Grupo, visando conteúdos da teoria de Jung.
A partir desta ideia, surge o desafio: transformar o antigo, abrindo um novo mundo de conhecimento para os membros, despertando, assim, seu instinto criativo, como elemento de ampliação de consciência, e auxílio no processo de individuação.
Neste 1º Sarau, vamos refletir em composições de Vinícius de Moraes e Tom Jobim.
Teremos a participação especial da violonista Ana Cláudia.
Pode entrar que a casa é nossa!

PsicoCine C. G. Jung

Na próxima sexta-feira, dia 24 de julho.
Horário: 19:30.
Local: Clínica de Psicologia - Rua Cel. Siqueira Reis, 115 (próximo ao CPP).
Evento gratuito.
Excelente oportunidade para conhecer o mundo do Cinema mais de perto.
Nosso encontro debaterá a construção de produção cinegráfica, com quem entende do assunto.
O nosso convidado: Anderson Marques - Diretor e Produtor Cinematográfico.
"Mas, você sabe dirigir?", foi seu trabalho de estreia no Cinema - selecionado para o III Festival Cultural de Cinema de São Simão-SP e exibido na 6º Mostra Marília de Cinema em 2013.
Técnico do Laboratório de TV da Universidade de Marília (Unimar) no interior Paulista, auxilia como Editor e Cinegrafista no desenvolvimento e na elaboração de projetos, juntamente, com alunos do curso de Publicidade e Propaganda.
Anderson Marques é Diretor, Produtor da Studio Aiko: Vídeo Profissional. Elabora projetos como: Vídeos Sociais, Documentários, Vídeos Institucionais e Institucionais Corporativos, Publicitários e por fim Cinematográficos.
Data: sexta-feira, dia 24 de julho.
Horário: 19:30.
Local: Clínica de Psicologia - Rua Cel. Siqueira Reis, 115 (próximo ao CPP).
Outras Informações: 14.99805.1090
Vagas limitadas.
Evento gratuito.

Tributo pelos 140 Anos de Nascimento de C. G. Jung

Tributo pelos 140 Anos de Nascimento de C. G. Jung
Jung nasceu no dia 26 de julho de 1875, em Kesswil, cantão da Turgóvia, Suíça.
Evento Especial realizado pelo GEPA - Grupo de Estudos de Psicologia Analítica - C. G. Jung
Local: Rua Cel. Siqueira Reis, 115 - Marília – SP
(Próximo ao CPP)
Data: Sábado, dia 25 de julho.
Horário: 16:00 - 18:00
Participação Especial: Psicóloga Vivian Verônica Buck – CRP 06/58896 – Fone (11) 99656.1855.
Candidata a Analista do Instituto Junguiano de São Paulo (IJUSP), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology
Investimento: R$40,00 - por encontro
Informações:
998051090 - vivo
981378535 - Tim
E-mail:
silviolperes@hotmail.com

domingo, 19 de julho de 2015

Sejamos heróis!
            Pelo menos, teoricamente, sabemos que um herói nasce quando há obstáculos para serem superados, ou quando determinadas metas precisam ser alcançadas, especialmente situações que parecem “inatingíveis” para a maioria das pessoas. E, não é difícil perceber quais são as dificuldades que nos desafiam como pessoas, famílias, empresas e sociedade.
            Segundo Joseph Campbell (1904-1987): “O herói é o homem ou a mulher que conseguiu vencer suas limitações históricas pessoais e locais, e alcançou formas normalmente válidas, humanas” (O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 2007, p. 28).
            Para Renato Janine: “O heroísmo não está só nas personagens da mitologia grega ou nos super-heróis da TV. Ele pode estar presente quando cada um de nós enfrenta uma pequena prepotência, em nome de um valor mais alto – desde, claro, que arque com os resultados de sua ação e que além disso lembre que é falível e pode estar errado. Mas é desses pequenos heroísmos pessoais que depende a dignidade humana” (www.renatojanine.prof.br/Etica/heroi.html).
            Conforme o analista junguiano James Hollis, o herói enfrenta, diariamente, pelo menos dois incansáveis inimigos: a letargia e o medo. Todas as vezes que nos deixamos seduzir pelos confortos, isto é, quando não nos envolvemos pessoalmente com os conflitos, especialmente aqueles que exigem uma postura pessoal, a letargia como que nos come vivos; e, se temos de perder alguma posição já alcançada, se nos comparamos com os outros, ficamos sob o efeito paralisante do medo. “Depois de termos assumido essa incumbência singular e também absoluta de nos tornarmos protagonistas do nosso próprio drama existencial, então estamos vivendo numa dimensão heróica” (Rastreando os deuses. São Paulo: Paulinas, 1997, p. 110).
            Assim sendo, o herói é alguém mais consciente de quem é para si mesmo.
            O herói não se vale de artimanhas nem de esperteza para manter viva a sua disposição de vencer os obstáculos, mas enfrentando, muitas vezes, percebe que precisa sacrificar vontades pessoais, pois sabe que não pode fugir de si mesmo. Nisto está o caminho da sabedoria. Se agir com esperteza, sabe que estará se enganando e iludindo a si mesmo. O caminho da sabedoria é transitado sem as intenções nem os desejos egoístas.
            “Todos os heróis sucumbem por si, quando difundem em certa medida a atitude de herói e com isso fracassam” (Minuta da Associação de Psicologia Analítica Clube Psicológico de Zurique, ao Livro Vermelho, de Carl Gustav Jung. Petrópolis: Vozes, 2010, p. 244).
            Neste momento que o País está atravessando, precisamos nos lembrar disso. Sejamos heróis!
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto Junguiano de São Paulo (IJUSP), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)

domingo, 12 de julho de 2015

M.M.D.C.A. (1932-2015)

            Martins, Miragaia, Dráusio, Camargo e Alvarenga não eram soldados que tombaram na Primeira Guerra Mundial, nem na Segunda; não eram médicos que deram suas vidas na luta contra as doenças mortais na África; não eram engenheiros que morreram na abertura de estradas no norte do País, nas expedições rondonianas; nem tão pouco, políticos que salvaram o Brasil da inflação, criaram milhões de empregos, construíram casas, escolas e hospitais, ou implantaram planos econômicos de aumento de renda; não eram ricos empresários pertencentes às elites; não eram religiosos que se sacrificaram pela cristianização de aborígenes amazônicos, de comunistas nos países da “cortina de ferro”, nem de terroristas islâmicos.
            Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza, Antônio Camargo de Andrade e Orlando de Oliveira Alvarenga eram jovens estudantes. Morreram durante as manifestações contra o governo ditatorial de Getúlio Vargas, pela força militar federal na cidade de São Paulo, na calçada da Praça da República com a Rua Barão de Itapetininga, no dia 23 de maior de 1932. Vítimas da truculência do estado brasileiro. Dos cinco, um deles tinha apenas 14 anos de idade, conforme o jornalista da Rádio Eldorado, Geraldo Nunes (http://sao-paulo.estadao.com. br/blogs/geraldo-nunes/).
Em 1932, Getulio Vargas prometia uma “República Nova”, mas governava por decretos, destituía governadores dos estados e nomeava aqueles que se afinavam ao seu discurso ditatorial. A instabilidade política e econômica do País, logo gerou protestos de ruas e “revoluções”, que resultou numa guerra fratricida que durou 87 dias (até 03 de outubro de 1932), deixando um saldo oficial de 934 mortos, e nas contas não-oficiais, 2.200 mortos.
            Neste “Nove de julho”, 83 anos depois, data em que os paulistas recordam a luta por um estado livre de direito, precisamos refletir se não estamos repetindo com o assassinato de tantos outros MMDCAs, em nossas ruas e praças. Para os militares que executaram MMDCA, eles eram marginais à lei.
A arte-educadora e diretora de teatro Luíza Romão, em vídeo-poema que “viralizou” no Facebook, nos últimos dias, nos ajuda a enxergar que a realidade social do País ainda precisa mudar bastante. Ela diz: “Brasil, tu te tornas eternamente responsável por aquilo que pões em cativeiro, da FEBEM ao Navio Negreiro. / Eu sei que assusta perder seus privilégios; somos o plano europeu que não deu certo, mas alerto: reduzir a maioridade não é questão de segurança. Isso é o extermínio de criança; é genocídio de classe. [...] / Tu queres ser gigante, Brasil? Então, lembra do Golias. / O poder gestado pelas mãos da minoria, no País da escravidão, ainda é branca a “democracia”. É a bancada da bala e os seus projéteis de leis. / Onde já se viu tornar-se adulto aos dezesseis? / Diga aí vocês: o País seccionado e a fratura está exposta [...] / São alienistas? E, alienados? / Querem o Brasil, um “País-condomínio-fechado”? / Tem sangue nas mãos e, agora, nos olhos. Mergulham a Bíblia numa poça de ódio. / Sabe, meritocracia é fácil para quem já nasceu no pódio / Por detrás dos discursos, investimentos: são células, transformadas em cédulas; empresas de presos; desprezo por qualquer matéria humana. / Cunha, eu sei quem financia a sua campanha. Você quer o quê? Ser o novo Franco da Espanha? O golpe, é certeiro. Tu queres cercar a Casa Grande e colocar três porteiros? / Mas, cuidado com quem você coloca em cativeiro!”.
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto Junguiano de São Paulo (IJUSP), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)
            Martins, Miragaia, Dráusio, Camargo e Alvarenga não eram soldados que tombaram na Primeira Guerra Mundial, nem na Segunda; não eram médicos que deram suas vidas na luta contra as doenças mortais na África; não eram engenheiros que morreram na abertura de estradas no norte do País, nas expedições rondonianas; nem tão pouco, políticos que salvaram o Brasil da inflação, criaram milhões de empregos, construíram casas, escolas e hospitais, ou implantaram planos econômicos de aumento de renda; não eram ricos empresários pertencentes às elites; não eram religiosos que se sacrificaram pela cristianização de aborígenes amazônicos, de comunistas nos países da “cortina de ferro”, nem de terroristas islâmicos.
            Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza, Antônio Camargo de Andrade e Orlando de Oliveira Alvarenga eram jovens estudantes. Morreram durante as manifestações contra o governo ditatorial de Getúlio Vargas, pela força militar federal na cidade de São Paulo, na calçada da Praça da República com a Rua Barão de Itapetininga, no dia 23 de maior de 1932. Vítimas da truculência do estado brasileiro. Dos cinco, um deles tinha apenas 14 anos de idade, conforme o jornalista da Rádio Eldorado, Geraldo Nunes (http://sao-paulo.estadao.com. br/blogs/geraldo-nunes/).
Em 1932, Getulio Vargas prometia uma “República Nova”, mas governava por decretos, destituía governadores dos estados e nomeava aqueles que se afinavam ao seu discurso ditatorial. A instabilidade política e econômica do País, logo gerou protestos de ruas e “revoluções”, que resultou numa guerra fratricida que durou 87 dias (até 03 de outubro de 1932), deixando um saldo oficial de 934 mortos, e nas contas não-oficiais, 2.200 mortos.
            Neste “Nove de julho”, 83 anos depois, data em que os paulistas recordam a luta por um estado livre de direito, precisamos refletir se não estamos repetindo com o assassinato de tantos outros MMDCAs, em nossas ruas e praças. Para os militares que executaram MMDCA, eles eram marginais à lei.
A arte-educadora e diretora de teatro Luíza Romão, em vídeo-poema que “viralizou” no Facebook, nos últimos dias, nos ajuda a enxergar que a realidade social do País ainda precisa mudar bastante. Ela diz: “Brasil, tu te tornas eternamente responsável por aquilo que pões em cativeiro, da FEBEM ao Navio Negreiro. / Eu sei que assusta perder seus privilégios; somos o plano europeu que não deu certo, mas alerto: reduzir a maioridade não é questão de segurança. Isso é o extermínio de criança; é genocídio de classe. [...] / Tu queres ser gigante, Brasil? Então, lembra do Golias. / O poder gestado pelas mãos da minoria, no País da escravidão, ainda é branca a “democracia”. É a bancada da bala e os seus projéteis de leis. / Onde já se viu tornar-se adulto aos dezesseis? / Diga aí vocês: o País seccionado e a fratura está exposta [...] / São alienistas? E, alienados? / Querem o Brasil, um “País-condomínio-fechado”? / Tem sangue nas mãos e, agora, nos olhos. Mergulham a Bíblia numa poça de ódio. / Sabe, meritocracia é fácil para quem já nasceu no pódio / Por detrás dos discursos, investimentos: são células, transformadas em cédulas; empresas de presos; desprezo por qualquer matéria humana. / Cunha, eu sei quem financia a sua campanha. Você quer o quê? Ser o novo Franco da Espanha? O golpe, é certeiro. Tu queres cercar a Casa Grande e colocar três porteiros? / Mas, cuidado com quem você coloca em cativeiro!”.
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto Junguiano de São Paulo (IJUSP), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)