segunda-feira, 27 de abril de 2015

Plantando o futuro da cidade

            Entre o passado e o futuro decidimos o nosso presente. Nossa vida se dá no intervalo entre passado e futuro. Simplesmente, estamos no presente. Não é possível saltar para fora do tempo. Tanto o passado quanto o futuro são infinitos, isto é, o passado tem uma dimensão tão extensa que se perde nas brumas do tempo e, o futuro é uma reserva de eternidade. Não é possível dispersar sob os pés o que já passou. O presente está ligado ao passado e ao futuro. Conforme o escritor de Eclesiastes: “O que hoje existe, já existia no passado; o que vai surgir também já existiu antes. Deus faz aparecer de novo o que já tinha sido esquecido” (Eclesiastes 3.15 – A Bíblia Viva. São Paulo: Mundo Cristão, 1988, p. 614).
Com a cidade não é diferente.
É preciso olhar para os últimos decênios do século XIX, e os primeiros anos do século XX, para colhermos as sementes dos possíveis futuros de nossa comunidade.
O livro: “Terra e poder: formação histórica de Marília” (Comissão Permanente de Publicação, UNESP: Marília, 2005), do historiador Valdeir Agostinelli Pereira, contribui para verificarmos quanto às sementes que permanecem em nosso inconsciente desde a nossa origem histórica, política, social, econômica, psíquica e espiritual.
            Ainda portamos e distribuímos as sementes dos desbravadores José Teodoro e Francisco de Paula Moraes, que burlavam as leis da Coroa Portuguesa ao reivindicar as terras que deram a formação de Marília e as transformaram em objeto de especulação imobiliária, visando lucros através de falsificação de títulos de propriedade?
            A concentração de poder nas mãos de poucos, ainda determina a alijar a maioria dos cidadãos do exercício pleno de seus direitos, aos mínimos e decentes serviços públicos, como a saúde, educação, transporte, moradia, alimentação, como fizeram contra os índios Kaingang e Xokleng, originários dessas terras?
            Continuaremos a dar permanência às traumáticas desavenças que dividiram a cidade em algumas partes, conforme defendiam seus representantes Antonio Pereira e Bento de Abreu Sampaio Vidal?
            Se de um lado tivemos Antonio Pereira que acreditava que “Alto Cafezal” era um termo que funcionava como “feitiço sobre o espírito dos lavradores, ávidos de terra onde a rubiácea pudesse ser explorada” (p. 23, da obra acima citada); e, de outro tivemos Bento de Abreu Sampaio Vidal que em discurso entusiasmado na Assembléia Legislativa declarou: “Cuidando do conforto do interior, temos sempre presente a ideia de agricultura, que representa a fonte da nossa riqueza” (p. 35, da mesma fonte); temos de considerar se distribuindo sementes de euforia, de exagerada sensação da importância própria, não estamos criando uma comunidade onde alguns se consideram superiores e mais bem dotados pelos títulos adquiridos, pela posição social que ocupa nos diversos setores da sociedade, ou pelo acúmulo de bens materiais, que porventura possam ser proprietários, e aqueles que se sentem diminuídos, simplesmente, por não possuírem nenhum destes aparatos.
            Cidade, não chegamos até aqui a partir do momento presente. O passado nos formou, e o futuro está em gestação, influenciado pelo passado. Qual futuro está sendo plantado? “O futuro se prepara, muito tempo antes, no inconsciente” (JUNG, C. G. Memórias, Sonhos e Reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 209).

domingo, 19 de abril de 2015

"A cidade, boca de sertão e ponta de trilhos"

“A cidade, boca de sertão e ponta de trilhos”
            Não basta ocupar um espaço, buscamos sentir que nos constituímos partes integrantes do lugar; queremos sentir pertencentes ao lugar e que ele nos pertence.
            No caso da cidade, sentimos que nos pertencemos mutuamente, se nela encontramos qualidade de vida e bem-estar. Como árvores, deitamos nossas raízes na geografia e nas condições psíquicas que a cidade nos oferece.
Cada cidade valoriza um padrão de vida conforme suas raízes históricas, geográficas, sociais, econômicas, míticas, religiosas, culturais. A combinação destes fatores é que nos levam a sentir que pertencemos ao lugar, e que ele nos pertence. Assim, trazemos a cidade em nossa alma, fazemos a sua alma e vivemos a nossa alma.
            A cidade fornece um espaço onde a alma humana realiza o seu mito pessoal, mas também, é onde realizamos o mito da cidade. É na cidade que desenvolvemos o querer estar junto, formar comunidade, imaginar, trocar sentimentos e falar sobre nós mesmos, e acerca de tudo que nos acontece e somos rodeados em nossas ruas, avenidas e praças.
Os lugares influenciam sobre nossa forma de viver, nosso instinto de sobrevivência e de civilização. Carregamos em nossa psique as marcas do convívio que é possível nos construir neste lugar, que possui uma alma própria.
            A cidade é como um vaso alquímico onde se dá a transformação da humanidade. Ao enfrentar as dificuldades e buscar as soluções mais adequadas, no contato com o outro, nosso estilo de vida se diferencia.
            Nestes 86 anos de Marília, a alma de cada um é a alma da nossa cidade. Nossa alma é composta por aproximadamente outras 230.000, e de outras tantas que aqui nasceram e se foram, assim como as que, embora não sejam nativas, chegaram e ficaram, e de alguma forma carregam em sua psique as marcas deste convívio.
            Se olharmos para a nossa “certidão de nascimento”, o “DNA” formador da nossa cidade, não como meros registros históricos, mas como elementos psicológicos que se misturam e resultam em nosso “jeito” de ser, não só ampliamos as possibilidades de nos compreendermos, como também, vislumbramos as melhores soluções para cada um de nossos problemas.
            Por exemplo: o local onde está instalado o Monumento aos Pioneiros, ao lado do Cemitério da Saudade e do Velório Municipal, suscita em nossa alma alguns questionamentos: Estamos olhando para um futuro sem vida? Aguardamos as soluções de nossos problemas dos que já morreram? O espírito empreendedor ainda está vivo?
            Podemos e precisamos vivenciar outra dimensão da dinâmica de nossa cidade. O historiador Valdeir Agostinelli Pereira, nos lembra que a nossa cidade era conhecida como: “A cidade, boca de sertão e ponta de trilhos” (Terra e poder: formação histórica de Marília. Marília: Comissão Permanente de Publicação, 2005, p. 73), num período em que o País enfrentava os efeitos da crise econômica de 1929, com a quebra da cafeicultura, e as disputas pelo poder político local, em seus primeiros anos. Isto indica que a alma da cidade é aquela que olha pra frente; procura ocupar e aproveitar os espaços; avança e amplia os seus limites.
            Qual destas “almas” da cidade é a sua?

(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones: 998051090 / 981378535 – http://psijung.blogspot.com.br)

terça-feira, 14 de abril de 2015

O Desenvolvimento Humano na Maturidade
Mini-Curso com a psicóloga Vivian Verônica Buck: pedagoga, psicóloga, psicoterapeuta, analista trainee do IJUSP - Instituto Junguiano de São Paulo, pertencente à AJB - Associação Junguiana do Brasil
Um Mini-Curso que transformará a visão de profissionais da saúde e leigos em relação à segunda metade da vida.
Data: 25 de abril de 2015 (sábado)
Local: Livraria Milani
Rua São Luís, 1295
Horário: 09:00 às 17:00
Investimento:
R$50,00 - Profissionais da saúde
R$40,00 - público em geral, estudantes
Inscrições:
Banco do Brasil
Ag. 0141-4
C/C 60.138-1
Sílvio Lopes Peres
Favor encaminhar cópia do comprovante de depósito
para o e-mail: recomecar50@hotmail.com
Vagas: 50 participantes
Certificado: 06 horas.
Realização:
Clínica de Psicologia
Sílvio Lopes Peres - CRP 06/109971
Rua Cel. Siqueira Reis, 115 - Marília/SP
(14) 99805.1090 / 98137.8535
Espaço Temenos: Cursos, Treinamentos e Desenvolvimento Humano
Carlos A. Figueiredo - CRP 06/77810
Rua Tabajara, 63 - Marília/SP
(14) 98110.0330

domingo, 12 de abril de 2015

Significados simbólicos das origens históricas de Marília

            Neste 86º aniversário de Marília, podemos trazer à consciência conteúdos da nossa história que, por vários motivos, foram e são mantidos reprimidos, erroneamente interpretados, ou simplesmente, desvalorizados.
Nossas origens históricas, muito antes dos pioneiros José Pereira da Silva e Bento de Abreu Sampaio Vidal, tem um significado simbólico, a saber: nossa forma emocional de lidar com o poder, isto é, a maneira de desejarmos que todos e tudo se submetam a nós; dos mecanismos empregados para que os nossos objetivos sejam alcançados; a expansão do círculo da nossa influência e a determinação quanto aos caminhos que a vida deve seguir, segundo os nossos critérios.
Segundo o historiador mariliense Valdeir Agostinelli Pereira (1961-), autor de “Terra e poder: formação histórica de Marília” (Comissão Permanente de Publicação, UNESP: Marília, 2005), a grande extensão de terra, da Vila de Botucatu, último marco civilizatório do homem branco, até as barrancas do Rio Paraná, até então, - foi desbravada pelo mineiro José Teodoro, em 1856, que ao bispo de Botucatu, responsável pela outorga de terras à Coroa Portuguesa, declarara que as possuía desde 1847; dessa maneira, burlara a Lei das Terras, decretada em 1850; que de posse das terras, Teodoro as dividiu em “aguadas” (p. 8), nome dado às parcelas de terras próximas às bacias hidrográficas, objetivando facilitar as negociações com os interessados em adquiri-las, que só chegariam 55 anos depois.
Ainda segundo o mesmo autor, no dia 19 de fevereiro de 1877, Francisco de Paula Moraes, genro de Teodoro, aproveitando-se de uma falha do Estado que “ainda não havia realizado a discriminação das terras devolutas” (p. 9), processo iniciado apenas em 1880 (p. 11), compra de João Antônio de Moraes, que junto com João da Silva Oliveira, cunhado de Teodoro: “apossaram-se e alienaram a terra [...] que mais diretamente se liga à história da fundação de Marília, (as quais foram) ligeiramente e às pressas visitadas e do alto do mirante avistadas” (p. 9). Logo a crescente busca por “terras virgens”, agricultáveis, atraiu: “falsificadores de títulos de propriedades (que) contando com a conveniência e cumplicidade de um ex-tabelião e ex-agente fiscal, obtiveram papel e selo próprios e antigos com os quais fabricaram escrituras e procederam ao registro de terras, cujos donos ainda não as haviam legitimado” (p. 12); que doravante, “as terras viriam servir à especulação imobiliária” (p. 15).
Apesar de não serem diferentes de como se deram as demais conquistas e posses no restante do País, lamentavelmente, parecem persistir algumas características deste símbolo fundador de nossa cidade, como por exemplo: 1. A concentração do poder nas mãos de (muito) poucos, leva-nos a estigmatizar aos “donos” do que se deseja possuir - especialmente, na prática político-partidária, onde sobressaem os que classificam, a julgar pela maneira como administram a cidade, os cidadãos, verdadeiros donos do patrimônio, construído com taxas e impostos muito elevados, como “massa de manobra” para conquistar e/ou manter-se no poder; 2. Fraudar a lei e criar documentos falsos, aproveitando-se das falhas do Estado, ou lançando mão de funcionários lenientes, mesmo tendo conhecimento dos impedimentos legais, para terem garantidos interesses e privilégios, primeiro, familiares e, depois, corporativos; 3. Adotar um estilo de vida que não leva em consideração “o outro”, sem perceber que negando o valor do outro, nega-se o direito de existir também ao “outro” que está em nós, perdendo, assim, a capacidade de diálogo com nós mesmos.

(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones: 998051090 / 981378535 – http://psijung.blogspot.com.br)

sábado, 4 de abril de 2015

Conheça a Clínica

No endereço:

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Eu e a cidade

            “Que dinâmico e bonito objeto é um caminho”, diz Gaston Bachelard (A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 34).
            Ao longo dos caminhos que escolhemos para nos locomover na cidade, encontramos objetos que representam algo de nós mesmos.
            Precisamos aprender a resgatar um olhar mais atento, amoroso, respeitoso ao que enxergamos, respiramos, tocamos, ouvimos, percebemos na cidade. Segundo Gilberto de Mello Kujawski, escritor e jornalista: “Quando passeamos, e não simplesmente passamos, a cidade acontece para nós: transforma-se em drama e em cenário” (A crise do século XX. São Paulo: 1988, p. 49).
            Os espaços urbanos revelam um inconsciente próprio, definem uma “psicologia dos espaços”. “Movimentando-se nesta organização inconsciente de lugares e suas funções, é o indivíduo quem elegerá seus caminhos favoritos, e que irá, idiossincraticamente, encontrar lugares mais evocativos do que outros. Mais obviamente, isto ocorre quando se foi criado numa certa área específica. Então, os objetos experienciados durante a infância conterão partes da experiência do Self, que serão projetadas nos objetos, como se fossem recipientes mnêmicos da experiência vivida. Mas qualquer indivíduo encontrará numa nova área aspectos mais interessantes, e outros menos, pois gravita em direção a determinados objetos que são pontos de seu devaneio pessoal”, afirma o psicanalista britânico Christopher Bollas (A arquitetura e o inconsciente. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental. Vol. III, nº 1, março/2000. São Paulo: Escuta. p. 32, 33).
Neste sentido, a cidade tem uma mentalidade que afeta a todos nós. A fisionomia da cidade vai além dos aspectos físicos. O traçado urbano revela a psique da cidade. Ou como afirma James Hillman: “Não apenas a minha patologia se projeta sobre o mundo; o mundo está me inundando com o seu sofrimento, que não se alivia” (Cidade & Alma. São Paulo: Studio Nobel, 1993, p. 13). Ou ainda, C. G. Jung: “Por mais que tentemos concentrar-nos no mais pessoal da pessoa, a nossa terapia não teria sentido sem a pergunta: de que mundo vem o nosso doente?” (A prática da psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 91). Para o urbanista e escritor Kevin Lynch (1918-1984): “Cada cidadão faz associações com alguma parte de sua cidade. E, cada imagem está repleta de memórias e significados” (A imagem da cidade. Lisboa: Edições 70, s/d, p. 11).
As questões pontuadas por esses autores sensibilizam-nos quanto ao sofrimento a que estamos sujeitos na cidade. Sofrimento infligido por nós mesmos. Precisamos admitir que, lamentavelmente não são poucas vezes, tomamos a cidade ou a entregamos a mãos estranhas, tecnocratas, politiqueiras, burocráticas, economicistas, violentas, desajeitadas, predadoras, vândalas, saqueadoras, raivosas, sem nenhuma identidade com a parte viva da cidade.
O toque de nossas mãos na cidade retorna no seu toque em nós. Eu e a cidade não estamos dissociados. Neste sentido: “Restauramos a alma quando restauramos a cidade em nossos corações individuais, a coragem, a imaginação e o amor que trazemos para a civilização” (James Hillman. Cidade e alma. São Paulo: Studio Nobel, 1993).

(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones: 998051090 / 981378535 – http://psijung.blogspot.com.br)