Entre
o passado e o futuro decidimos o nosso presente. Nossa vida se dá no intervalo
entre passado e futuro. Simplesmente, estamos no presente. Não é possível
saltar para fora do tempo. Tanto o passado quanto o futuro são infinitos, isto
é, o passado tem uma dimensão tão extensa que se perde nas brumas do tempo e, o
futuro é uma reserva de eternidade. Não é possível dispersar sob os pés o que
já passou. O presente está ligado ao passado e ao futuro. Conforme o escritor
de Eclesiastes: “O que hoje existe, já existia no passado; o que vai surgir
também já existiu antes. Deus faz aparecer de novo o que já tinha sido
esquecido” (Eclesiastes 3.15 – A Bíblia Viva. São Paulo: Mundo Cristão, 1988,
p. 614).
Com a cidade não
é diferente.
É preciso olhar
para os últimos decênios do século XIX, e os primeiros anos do século XX, para
colhermos as sementes dos possíveis futuros de nossa comunidade.
O livro: “Terra
e poder: formação histórica de Marília” (Comissão Permanente de Publicação,
UNESP: Marília, 2005), do historiador Valdeir Agostinelli Pereira, contribui
para verificarmos quanto às sementes que permanecem em nosso inconsciente desde
a nossa origem histórica, política, social, econômica, psíquica e espiritual.
Ainda
portamos e distribuímos as sementes dos desbravadores José Teodoro e Francisco
de Paula Moraes, que burlavam as leis da Coroa Portuguesa ao reivindicar as
terras que deram a formação de Marília e as transformaram em objeto de
especulação imobiliária, visando lucros através de falsificação de títulos de
propriedade?
A
concentração de poder nas mãos de poucos, ainda determina a alijar a maioria
dos cidadãos do exercício pleno de seus direitos, aos mínimos e decentes
serviços públicos, como a saúde, educação, transporte, moradia, alimentação,
como fizeram contra os índios Kaingang e Xokleng, originários dessas terras?
Continuaremos
a dar permanência às traumáticas desavenças que dividiram a cidade em algumas
partes, conforme defendiam seus representantes Antonio Pereira e Bento de Abreu
Sampaio Vidal?
Se
de um lado tivemos Antonio Pereira que acreditava que “Alto Cafezal” era um
termo que funcionava como “feitiço sobre o espírito dos lavradores, ávidos de
terra onde a rubiácea pudesse ser explorada” (p. 23, da obra acima citada); e,
de outro tivemos Bento de Abreu Sampaio Vidal que em discurso entusiasmado na
Assembléia Legislativa declarou: “Cuidando do conforto do interior, temos
sempre presente a ideia de agricultura, que representa a fonte da nossa
riqueza” (p. 35, da mesma fonte); temos de considerar se distribuindo sementes
de euforia, de exagerada sensação da importância própria, não estamos criando
uma comunidade onde alguns se consideram superiores e mais bem dotados pelos
títulos adquiridos, pela posição social que ocupa nos diversos setores da
sociedade, ou pelo acúmulo de bens materiais, que porventura possam ser
proprietários, e aqueles que se sentem diminuídos, simplesmente, por não
possuírem nenhum destes aparatos.
Cidade,
não chegamos até aqui a partir do momento presente. O passado nos formou, e o
futuro está em gestação, influenciado pelo passado. Qual futuro está sendo
plantado? “O futuro se prepara, muito tempo antes, no inconsciente” (JUNG, C.
G. Memórias, Sonhos e Reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 209).