domingo, 23 de agosto de 2015

O encontro de Trotsky com a Psicologia

O encontro de Trotsky com a Psicologia
            A 75 anos do atentado que tirou a vida do ucraniano Leon Trotstky, em 21 de agosto de 1940, o seu envolvimento intenso e pessoal com a psicologia é uma página merecedora de um resgate reflexivo, tanto às ciências políticas quanto para a psicologia.
            “Intelectual brilhante. Homem de inúmeros talentos. Seu currículo o levava a ser o preferido por Lenin (1870-1924), para sucedê-lo, mas também a ser perseguido, de forma implacável, por Stalin (1878-1953). Pensava na melhoria do homem integral”, conforme Alberto Dines, do Observatório da Imprensa (vale conferir no site do OI).
            Para sobreviver aos terrores estanilistas, que marcaram sua vida e família, Trotsky buscou ajuda do psicólogo Alfred Adler (1870-1937). O encontro se deu graças a Raissa Epstein (1872-1962), esposa de Adler, amiga do casal Trotsky e Natália, pois “pertencia aos círculos da intelligentsia e propalava opiniões de esquerda”, conforme Elisabeth Roudinesco (Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 7).
Interessado no socialismo e um livre-pensador, com o surgimento da social-democracia na Áustria, entre 1919-1934: “Adler desenvolveu uma psicologia de contexto, em que o comportamento é compreendido em termos do ambiente físico e social” (Fadiman e Frager. Personalidade e Crescimento Pessoal. 5ª. Edição. Porto Alegre: Artmed, 2004, p. 120). Em seu “What Life Should Mean to You”, Adler afirma: “É o indivíduo que não está interessado no seu semelhante quem tem as maiores dificuldades na vida e causa os maiores males aos outros. É entre tais indivíduos que se verificam todos os fracassos humanos” (Londres: Uniwin Books, 1932).
Grande parcela de seus pacientes vinha das classes baixas e médias de trabalhadores e desempregados, como: garçons, acrobatas, porteiros de hotel, artistas diferentemente dos psiquiatras de sua época. “Lutava por melhores condições de habitação e educação, saneamento básico e salários mais altos”, segundo E. James Liberman (The Driver for Self: Alfred Adler and the founding of individual psychology. Bulletin of the History of Medicine. Vol. 71, Nº 4, 1997).
Portanto, os fundamentos ideários entre Adler e Trotsky estavam estabelecidos desde muito antes de se encontrarem. Segundo Gilson Dantas, o encontro reforçou ainda mais o “sentimento de comunidade”, princípio teórico básico da psicologia individual de Adler: “Sua ideia é que a Revolução Permanente inclui a desconstrução de relações velhas e construir relações humanas novas; ele não quer apenas negar o capitalismo, mas liberar a subjetividade humana através do processo revolucionário, numa perspectiva comunista”, completa o historiador da Universidade Federal de Goiás.
            Considerando a contribuição de ambos às ciências políticas e à psicologia, eles merecem saber: “A humanidade somente chama de gênios aqueles indivíduos que muito contribuíram para o bem-estar comum. Não podemos imaginar um gênio que não tenha deixado nenhuma vantagem para a humanidade atrás de si” (Heins e Rowena Ansbacher: The individual psychology of Alfred Adler. NY, 1964, p. 153, citado por James Hillman, em: Ficções que curam. Campinas: Verus, 2010, p. 174).
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)



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