domingo, 20 de setembro de 2015

Qual a “face” do País que te identifica?

            Não é difícil perceber o retorno de bandeiras comuns das organizações anticomunistas brasileiras de grupos radicais de direita, que foram agitadas durante os anos 1960. Formadas, na maioria, por estudantes, políticos, policiais e intelectuais, tais agremiações faziam denúncias e atacavam diretamente pessoas e entidades que se opunham às forças militares que governavam o País.
            Em nome do medo do avanço da esquerda no Brasil, universitários ligados a Universidade Mackenzie, Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, formavam: a Associação Anticomunista Brasileira, Frente Anticomunista e Movimento Anticomunista. Hoje, com espaço nas redes sociais, essas organizações adotam outros nomes com os mesmos objetivos: Brasil sem Comunismo, Por um Brasil Melhor, Movimento Brasil Livre, Fora PT, etc.
            Apesar de tudo, a alma do cantor e compositor Belchior (1946-), descreveu a dimensão social e humana que o País vivia nos anos 60-70, em “Como nossos pais”: “Cuidado, meu bem / Há perigo na esquina / Eles venceram e o sinal / Está fechado pra nós, / Que somos jovens / Minha dor é perceber / Que apesar de termos / Feito tudo o que fizemos / Ainda somos os mesmos / E vivemos / Como os nossos pais”.
Os lados opostos com projetos de vida opostos se opõem. De um lado, o grupo que pretendia enfrentar o pensamento conservador; suscitar e desenvolver a consciência política; tomar a opção pelo povo como protagonista de sua história; lutar com as ideias e não com as armas. De outro lado, aqueles que preferiram repressão, intervenção, ultimatos, censuras, defesa de interesses, fechamento do Congresso Nacional, mas, que revelam faces diferentes de um mesmo País.
            A atmosfera social e política brasileira, como há mais de 50 anos, hoje, aguarda uma resposta de cada um de nós, ao questionamento: Qual projeto de  vida merece a minha participação, o meu envolvimento, a minha defesa? Com qual das “faces” de País me identifico, como brasileiro: tolerante às divergências, responsabilidade para assumir as potências de viver; ou, a que se identificava com a suspeita, o policiamento e vigilância ideológica, intolerância às diferenças, a tortura e a morte, o golpe, a marcha sádica da tropa para eliminar a imaginação, a fantasia, a criatividade?
            Para o advogado, cientista político e analista junguiano Roberto Gambini: “O posicionamento político vem da ética, da consciência, e é atuado pelo ego. A alma não é política, mas sofre os efeitos da política. E estes efeitos são imprevisíveis. E, você pode ficar assustado porque não dá para saber como a alma reage, quando vive uma ditadura. É preciso ter a musculatura e os nervos para suportar um conflito de opostos até que ele gere um produto que emana, igualmente, de um pólo e de outro” (XXVII Moitará. 1964: Repressão, medo e criatividade. Campos do Jordão, 28-30/11/2014).
            A escolha, portanto, passa por deixar de ser um “indivíduo desfibrado”, sustentado pela sociedade coletivista, como nos ensina o crítico literário e sociólogo Prof. Antonio Candido (1918-), em seu “Estratégia”.

(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: (14) 99805.1090 / (14) 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)

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