sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Política e religião: emancipar ou controlar?


O mundo político-partidário discute as relações de poder e dominação procura envolver o eleitorado na tentativa de determinar-se como o seu único detentor e executor, deixando à margem os verdadeiros interesses da população, especialmente a mais carente – sim, esta ainda existe e só aumenta.

            Segundo Armando Marino Filho, psicólogo e professor da Faculdade de Birigui, as relações de poder e dominação contribuem para o desenvolvimento do homem “como sujeito social, constituído de uma personalidade no qual o poder e o domínio se revelam como possibilidade de participação social ativa e consciente, e como processo educativo” (Educação do poder e do domínio para as relações sociais e políticas – Revista Psicologia Política, vol. 10, nº 20, 2010).

            Especificamente durante o período eleitoral, eleitores e candidatos expressam por diversas maneiras como lidam com o poder e a dominação. O grande problema é a dependência que o eleitor acredita ter de algum candidato para o atendimento de suas necessidades, na tentativa de ter o maior grau de satisfação possível, porém a sua solução passa pela percepção do risco de perder a sua liberdade e autonomia, uma vez que as necessidades se renovam indefinidamente, bastando que uma delas seja atendida para que outras sejam reclamadas, e permanecer na mão dos que lhe prometem alguma coisa.

            Neste sentido, muitas intenções de voto expressam apenas a dependência que o eleitor projeta sobre os candidatos que mais prometem, por isso a escolha eleitoral passa pelo debate consciente.

O voto precisa ser uma manifestação consciente de que a transformação das necessidades em boas realizações, passa pela percepção de que se tem poder e controle sobre as necessidades que sofre, e que sabe responsabilizar o poder público de suas omissões.

            A insatisfação das necessidades imediatas pode gerar expectativas infundadas sobre os candidatos, aumentando o risco de frustração, que por sua vez, infelizmente, facilita o discurso dos demagogos que zombam do povo, não se importando com as suas necessidades.

             A situação se agrava quando partidos políticos buscam apoio de denominações religiosas, evangélicas e católicas, representantes do pensamento teológico conservador, algumas de cunho fundamentalista, que veem nesta prática, oportunidades para maior crescimento numérico de fiéis, principalmente.

            Isto revela a fragilidade do sistema político-partidário e a má-fé dos líderes religiosos, fortalecendo a crença de que a sociedade precisa de poderosos e dominadores que se apresentam como verdadeiros “messias”.
            Tanto a política quanto a religião têm a responsabilidade de emancipar os indivíduos dos “cabrestos” que os fazem cegos quanto ao poder e domínio de que são detentores como cidadãos no enfrentamento de suas necessidades.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O mal pessoal e na política

            Há alguns anos atrás, no site espanhol – protestantedigital.com – foi publicada uma charge, na qual o eleitor reclamava para Deus: - “Senhor, por que sempre os piores governam?” A resposta do Altíssimo, teria sido: - “Porque tu votas neles, seu tolo!”

            O descontentamento com a vida pública é geral. Candidatos acusam uns aos outros das mazelas do executivo e do legislativo. Cada um se preocupa em imputar ao outro os equívocos, e até os erros (sabe-se, porém, que poderiam ser evitados se não fosse a avidez pelo poder). Contudo, nenhum assume as devidas responsabilidades, dando a entender que acredita que, até mesmo, o mais culto dos cidadãos é ingênuo.

Quanto aos eleitores não é diferente. Tudo começa com a escolha errada, (deliberada, às vezes) do candidato que vence o pleito, mas com grande prejuízo a todos. Como se votar fosse um “lavar as mãos”, que não implica acompanhar o exercício do mandato do escolhido. Todos nós sabemos o que isto significa na cabeça de muitos políticos: é mais importante aproveitar as oportunidades de enriquecimento pessoal e defender os próprios interesses.

            A grande dificuldade é convencer-nos de que somos sim, capazes de cometer maldades uns contra os outros. O problema é quando nos convencemos de que somos inocentes mesmo quando realizamos o mal. Como afirmou Luiz Felipe Pondé filósofo, professor da PUC/SP e articulista do jornal Folha de São Paulo: “Eliminou-se da agenda moral a consciência do mal como parte de nós mesmos, ficou apenas o hábito contumaz da mentira” (03.09.12, E8).

            Não podemos, como eleitores, ignorar que somos maus em nossas escolhas. Quanto aos candidatos, compete-lhes perceberem os males que podem causar ao povo. Eleitores e candidatos não são ingênuos nas escolhas e nas decisões que damos à vida pública.

            “Ninguém está fora da negra sombra coletiva da humanidade. Se o crime foi cometido por muitas gerações ou se apenas hoje é que se realiza, isso não altera o fato de que o crime é o sintoma de uma disposição preexistente em toda parte, de que realmente possuímos uma ‘imaginação para o mal’. Apenas o imbecil pode desconsiderar durante todo o tempo as condições de sua própria natureza. Mas é justamente essa negligência que se revela o melhor meio para torna-lo um instrumento do mal” (C. G. Jung. Presente e futuro. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 44).

            Resistimos a admitir a nossa participação na “sombra coletiva” por preconceito. Em nossa cultura ocidental, de fundo cristão, consideramos o mal como tabu. Evitamos, até mesmo, a falar sobre ele porque o tememos, ou porque não sabemos como lidar com ele. Como é impossível viver sem o percebermos em nosso meio, a não confrontação somente nos leva a projetá-lo no próximo, e é isto que nutre nossas antipatias, inimizades, e no campo político, estabelece obstáculos que prejudicam a todos.

            Num mundo em que é cada vez maior o poder de demonstrarmos o mal, inclusive na política, a razão não é suficiente para controlar-nos; temos de ampliar a noção de nossa própria maldade, se quisermos que seus efeitos na esfera político-administrativa sejam menores.

Política on-line

           O computador é a máquina que representa um dos mais significativos avanços humanos, e nos permite realizações complexas que há menos de 10 anos eram impossíveis. Com ele é possível fazer música, cálculos matemáticos complexos, criar novas soluções químicas que nos proporcionam revolucionários medicamentos e tratamentos médicos, elaborar melhores questões para a gama das engenharias e inovações pedagógicas, etc. Usa-se o computador para estabelecer novos paradigmas filosóficos, literários, cinematográficos, políticos, e até teológicos.

            Não é difícil, entretanto, não perceber que a utilização desta tecnologia está prejudicando a necessária visão do “todo”, isto é, cada vez mais nossa compreensão de mundo e pessoas é parcial. As especialidades nos empobreceram quanto à percepção da interdependência de todas as partes. Visões fragmentadas pouco contribuem na compreensão e solução de tantos problemas, quer os de ordem pessoal e coletiva.

No campo político não é diferente – as Tecnologias da Comunicação e Informação (TCIs) – como a rede mundial de computadores e suas redes sociais – cada vez mais são utilizadas, mas subutilizadas pelos políticos, quer como candidatos na caça de votos e/ou pelos eleitos.

Não basta alimentar um endereço eletrônico com as mesmas informações e formato de tantos folhetos, jornais ou revistas lançados diariamente em nossos portões. A estratégia de comunicação política precisa ser mais do que um serviço de comunicação dos partidos que se presta apenas a informar os seus programas ou as propostas dos seus candidatos, mas não fomentam a participação dos cidadãos nos processos sociais. Quer dizer, a esfera on-line da política precisa reproduzir algo que vai além do modo tradicional de fazer política.

No caso dos portais eletrônicos dos governos municipais, estaduais e federal que divulgam os dados relativos às suas decisões sob o título “transparência”, infelizmente a maioria omite informações, maquiam dados, como que se valendo do desinteresse da maioria dos cidadãos, sem se importar com a desconfiança que geram nos eleitores e por não temer a sua indignação. Isto acentua a fragmentação da visão da realidade, desintegra os laços políticos construtivos de uma sociedade mais justa quanto ao exercício dos direitos e o cumprimento dos deveres, e compromete a saúde mental da coletividade.

A despersonalização a que a máquina nos impõe e manipulada pelos políticos durante o processo eleitoral, com o proposito de nos “programarem”, visando seus interesses egocêntricos é uma das ações mais perversas contra a democracia e a pessoa humana, inclusive a dos próprios candidatos.
Concordamos com a preocupação do padre Ivo Storniolo, tradutor do livro Bíblia e Psique: “Estamos nos submetendo aos dedos e ao teclado de quem? Por quem estamos sendo programados? Para atender a quais objetivos?” (São Paulo: Paulinas, 1990, p. 10).

domingo, 19 de agosto de 2012

Bem e mal no julgamento do "mensalão"

É natural que aguardemos um julgamento “exemplar”, em todos os sentidos, de cada um dos envolvidos no famigerado “mensalão”, conduzido pelo Supremo Tribunal Federal, desde a semana passada.

            Contudo, apesar do pano de fundo ético judaico-cristão de nossa sociedade, exaltar o ideal de perfeição moral em contraposição aos males humanos, não se pode negar que na realidade, vivemos uma forte relativização dos comportamentos humanos, com mais relevância no campo político.

            Tal relativização implica uma discrepância entre o ideal e a realidade dos fatos que se estabelecem, resultando numa gritante contradição da requerida e aguardada perfeição, dos julgamentos de cada um dos juízes da Corte Nacional.
            É importante esta discussão, porque o que está em curso é a discussão quanto a realidade do bem absoluto e do mal absoluto, embate das ciências humanas, e a cultura ocidental é a que mais tenta compreender esta questão.
            A imposição milenar (Santo Agostinho, 354-430 d.C.) da negação do mal pessoal, não elimina de nossas personalidades sua influência via inconsciente, antes o mal age subterrânea, independente, autônoma e eficazmente, causando-nos prejuízos pessoais, e despeja na vida coletiva um volume cada maior de sua realidade, conforme o médico, poeta e filósofo Erich Neumann (1905-1960), em seu Psicologia profunda e nova ética (Editora Paulinas, 1991).
A pregação agostiniana, um dos fundamentos da nossa cultura, de que o mal é uma simples privação de algum bem, ainda permanece um entrave a ser superado no século XXI, se pretendemos, realmente, construir uma sociedade civilizada a partir da consciência individual.
Enquanto a periculosidade do mal, de que cada um de nós é capaz de cometer, continuar afastada da consciência, continuaremos reféns da ingenuidade de que os réus, não só do “mensalão”, venham a público e confessem seu envolvimento nas “tenebrosas transações” que cometeram contra os brasileiros, como bem argumentou um dos ministros do Supremo Tribunal Federal, de forma irônica, tão apropriada ao episódio histórico a que assistimos.
A irrupção da corrupção na vida política é uma das formas do mal que nos habita, toma proporções cada vez maiores, ao menos em sua publicidade. Nenhuma explicação ideológica, sociológica e/ou teológica é suficiente na abordagem ética das dimensões deste problema ontológico. Trata-se de uma infecção que nos imobiliza.
Na luta contra o mal, nos ocupamos com os seus efeitos, por isso nos vemos sem resultados animadores quando o assunto é trazido à arena popular.
Não se trata de lutar em favor do bem e contra o mal, como quer a ética judaico-cristã, acolhendo e se conformando com a ideia de que temos de conviver com a imperfeição humana, pois nada pode ser feito, mas sim, assumir que contra o mal, a luta é pessoal.
Seja qual for a decisão final dos juízes do Supremo Tribunal Federal acerca do caso, salientará a necessária e intransferível tarefa quanto ao mal que cada um de nós é cometer contra o próximo, e contra a nós mesmos.

domingo, 5 de agosto de 2012

A quem se destina a nossa cidade?

            O debate político-partidário travado na busca de eleitores pelos que pleiteiam cargos legislativos e administrativos da cidade passa necessariamente pela percepção suscitada por este questionamento.
Como em tudo, a melhor resposta a esta questão está com a protagonista da nossa história – a alma humana. A principal função da alma é buscar um sentido para tudo que nos acontece. Não há situação, individual ou coletiva, sem propósito. Se não o percebemos, sofremos.

Viver em cidade é um dos mais antigos projetos humanos cercado de problemas. Atualmente, se os temas do desenvolvimento e da sustentabilidade das atividades humanas se revelam incontornáveis fica demonstrado a fragilidade deste projeto, quase universal. Sem proteção e sem liberdade não é possível viver na cidade.

            A cidade sem proteção é uma cidade violenta. A cidade sem liberdade é uma cidade injusta. A violência gera ódio, desrespeito, constrangimento de todos os tipos. A injustiça deturpa as relações uns com outros.

            Uma cidade sem proteção e sem liberdade define a quem se destina: aos políticos corruptos e a cidadãos expurgados de seus direitos legais; aos marginais que defendem a ampliação de suas áreas de atuação e a moradores que temem desfrutar do espaço público se defendendo como podem; aos motoristas e motociclistas que menosprezam as leis de trânsito, estressados pelas condições das ruas e avenidas e indisciplinados na condução dos veículos, e a pedestres desrespeitados e inseguros; aos habitantes mais aquinhoados porque se consideram privilegiados pelas oportunidades que souberam aproveitar, e aos outros moradores mais simples que se deixam ser explorados social e economicamente; aos funcionários públicos descomprometidos com as funções a que devem responder e aos cidadãos desassistidos em suas necessidades, muitas vezes, básicas; aos prestadores de serviço aos doentes, aos jovens, aos idosos, às crianças, negligentes de suas ocupações, e a pessoas mais frágeis e entregues à própria sorte; aos empresários que abusam da confiança de seus funcionários negando-lhes melhores salários e a cidadãos que buscam aliviar suas preocupações em práticas de lazer que os mantém, ainda mais, alienados dos seus direitos, como em programas de canais de televisão a que têm acesso, por exemplo.

            A cidade que tem proteção é uma cidade estável. A cidade que tem liberdade é uma cidade desenvolvida e próspera. A estabilidade gera confiança e esperança. O desenvolvimento e a prosperidade promovem utopias (sonhos) e boas oportunidades.

            Uma cidade com proteção e com liberdade define a quem se destina: a todos que aplicam suas ideias na formação de um “mapa emocional” da cidade como um organismo coletivo, vivo e dinâmico, a partir das impressões, ainda que intuitivas, das emoções que ocupam a alma das crianças, dos jovens, dos adultos e dos idosos em torno da vida urbana. Faz-se necessário promover debates em torno do assunto para suscitar as verdadeiras fontes da democracia – o governo do povo, para o povo.

            A quem se destina a nossa cidade? – é um questionamento que precisa ser prioritário, especialmente, aos eleitores e candidatos.

Educando a indivíduos

            Educar é uma tarefa que se dá pelo exemplo, precisa ser aplicada a todos indiscriminadamente e a indivíduos específicos. Estes fatores, na maioria das vezes, não percebidos conscientemente pelos professores em suas atividades pedagógicas, operam simultaneamente na realização do processo ensino-aprendizagem.

            É do fazer cotidiano dos professores se confrontarem com alunos que indicam alguma necessidade especial. Refiro-me a estudantes que fortemente resistem à adaptação ao processo coletivo de educação, tornando-se verdadeiros “problemas”, rotulados como “esquisitos” no contexto escolar.

            Apesar de ser um tema polêmico porque parece defender privilégios sociais, culturais e econômicos temos de lidar com a sua complexidade, seja porque cada caso deve ser analisado separadamente, e a avaliação dos educadores passa, necessariamente, pela subjetividade de cada um deles, agravada pela quase total ausência de psicólogos e/ou psicopedagogos nas escolas na mediação da compreensão e na solução dos casos, ou porque é uma discussão totalmente ausente na formação acadêmica e nas reuniões de estudos dos educadores, provocando a impressão de que tal discussão é desnecessária devido às dificuldades de seu tratamento.

            Talvez o exame do assunto deva iniciar-se pelo seguinte questionamento: A singularidade psíquica de alguns estudantes interfere em sua aprendizagem? Quais são as resistências dos programas de ensino a esta realidade, e como enfrentá-las? A faculdade do pensamento lógico só pode ser apreendida pelo estudo da matemática, fonte de muitos desgastes emocionais que pode provocar danos mentais ainda maiores aos educandos e estresse no exercício do magistério?

            A resistência aos padrões educacionais vigentes na grande maioria de nossas escolas - públicas e particulares - por parte de alguns alunos tende a aumentar devido a acessibilidade às informações culturais (TV e Internet) ou às deficiências na formação dos educadores, conforme frequentes discussões acerca do fenômeno da educação, entretanto, é preciso considerar a história psíquica do aluno – os fatores psicológicos que o levam a resistir a assimilar determinados conteúdos das aulas, ou se adaptarem às condições coletivas da educação – além de fatores genético-neurológicos, como a dislexia de desenvolvimento e distúrbios de aprendizagem, por exemplo.

            Conforme Carl Gustav Jung (1875-1961), o pano-de-fundo do histórico psíquico das crianças são as condições psicológicas de seus pais, avós e de outros antepassados, não atendidas completamente ou que não foram respondidas, e aguardam alguma providência por parte das crianças. Obviamente, em certas questões domésticas, os professores pouco podem fazer. “Em geral é no educando mesmo que o mal deve ser curado. Em tal caso importa encontrar o acesso à sua psique peculiar, a fim de que ele se abra à influência exterior. (...) Se quisermos provocar alguma alteração, precisamos passar para a consciência os fatos inconscientes, a fim de podermos submetê-los a uma correção” (O desenvolvimento da personalidade. Petrópolis: Vozes, 1983, pp. 158-159).

            Jung esclarece, entretanto, que a educação a indivíduos deve levar em conta que em determinados casos “bons conselhos” podem alterar o funcionamento das famílias, em outros, porém, as intervenções devem ser realizadas por especialistas, para evitar danos maiores.

A alma da cidade


          Não se pode negar a existência de um profundo entrelaçamento da alma humana com a cidade. Psyché e polis são duas faces da mesma moeda. Não existe matéria sem alma, nem alma sem matéria. A solução das nossas dificuldades urbanas e a nossa sobrevivência passam pela psyché da cidade que habitamos.
O inconsciente com suas patologias e a necessidade de assimilá-las à consciência se manifestam na vida urbana, conforme o psicólogo junguiano Gustavo Barcellos.
O estado de nossa alma é manifestado ou ocultado no uso que fazemos de nossas ruas e praças, seja como motoristas e/ou pedestres; em nossos lares, junto aos familiares, vizinhos e amigos; na organização e/ou desorganização de nossas instituições públicas e privadas desde escolas, salões de festas, hospitais, casas bancárias e comerciais, até aos departamentos policiais; na carência e excesso de “espiritualidade”; na voracidade do consumo; nos jornais, revistas, canais de rádio e televisão ganha som e cores; e, atualmente, presente nos discursos dos candidatos a cargos executivos e legislativos da cidade.
Como afirma Barcellos: “O espaço público, no mais das vezes, volta-se contra nós, com feiura, desintegração e morte. [...] Negócios paranoicos, edifícios catatônicos e anoréxicos, consumo e lazer maníacos, instituições opressoras, burocracia esquizoide, linguagem convencional, ambientes urbanos hostis, enormidades delirantes, cifras deprimidas e uma constante repressão da beleza, para não dizer, da alma” (Voos e raízes: ensaios sobre psicologia arquetípica, imaginação e arte. São Paulo: Ágora, 2006, pp. 97-98).
Este estado de coisas revela a ausência ou distanciamento da alma nos processos de construção da vida urbana, isto é, como se nada nem a nós mesmos, tivéssemos algum significado ou pudéssemos compreender e alterar a realidade que produzimos.
Enquanto a alma permanece excluída em nossos processos urbanos, tornamos possível o que menos queremos: violência nas ruas e praças, quebra das boas relações entre familiares e vizinhos, perseguições políticas, desrespeito a coisa pública, perpetuidade de preconceitos sociais, estabelecimento de práticas que criam cidadãos de segunda categoria, promoção de práticas aéticas e imorais, desemprego crescente, traição e decepções de amizades que carregavam bons sentimentos.
A alma da cidade tem melhores planos do que aqueles que estamos executando. A alma da cidade possui uma inteligibilidade diferente, e mais profunda para as difíceis questões com que nos deparamos. A alma da cidade nos contém. Nós estamos na alma da cidade. Precisamos ouvi-la, reconhecê-la, senti-la. Sofremos porque a desconhecemos, a negligenciamos, não acolhemo-la.
Estas considerações não são fantasias abstratas, apenas complexas. Sua necessidade e urgência nos mostra que precisamos aprofundá-las.