“Nem sempre os bons são recompensados do mesmo modo que testemunhei por toda a vida os maus, os hipócritas e os ladrões ficarem ricos...” (Roberto Damatta. O Estado de São Paulo: 21/12, D10).
É frustrante constatar esta realidade em todo o mundo, mas também, no País e na cidade “Símbolo de Amor e Liberdade”. Exemplos não faltam: as falcatruas do sistema capitalista, denunciadas pelo movimento mundial “Occupy Wall Street”; a lista de trinta e oito nomes dos operadores do “mensalão” do primeiro período do governo Lula; casos de corrupção e enriquecimento ilícito de pessoas ligadas à administração municipal, conforme as últimas publicações dos jornais de Marília.
Diante destes e de muitos outros casos é preciso observar e fazer cumprir as leis, cuidado e responsabilidade jurídicas, para evitar que fiquem esquecidos e impunes, pois exemplos não faltam.
Como podemos enfrentar estas situações?
Dando-nos um presente!
Não, não é como recompensa, pois são situações que merecem repúdio e indignação.
É um “presente” que eu e você precisamos nos dar e, se nos dermos daremos ao mundo, mas se nos negarmos nos defraudaremos uns aos outros.
Trata-se da capacidade de nos relacionarmos com nós mesmos, de ouvir e atender a voz de nossa alma, a única que detém os caminhos da vida.
Segundo o psicólogo junguiano norte-americano John A. Sanford (1929-2005), o filósofo Sócrates (469-399 a .C) disse: “Uma espécie de voz que vem até mim, e quando vem, ela sempre impede de fazer o que estou pensando em fazer, mas nunca me incentiva a prosseguir. É isso que se opõe a que eu me envolva na política” (Destino, amor e êxtase. São Paulo: Paulus, 1999, p. 37).
Antes de corrermos atrás de presentes para a festa do Natal, olhemos para dentro de nós e atendamos à voz que nos fala acerca de quem somos nós, e da realidade que nos cerca. Este é o “presente” de que necessitamos. A negligência à voz leva a muitos a se envolverem na política, daí tantos escândalos, mas também, nos leva a votarmos neles. Para ouvir e atender esta voz é preciso duvidar das convicções de que é possível nos enganarmos a nós mesmos e aos eleitores.
A voz pretende criar em nós uma personalidade livre do pensamento dominante, estabelece uma independência à maioria, faz descrer das práticas que intentam impetrar como tradição a impunidade, recusa a se submeter a comportamentos como os vistos em casos de corrupção: acusações mútuas, tentativas de se livrar de compromissos assumidos nas sombras silenciosas dos gabinetes.
Como o filósofo ateniense, a voz pode nos levar a sofrimentos: acusações infundadas, pressões morais de todo tipo, pois o sistema se vê perturbado e ameaçado em seu comportamento viciado e que menospreza o indivíduo.
Para a nossa cidade que está envolvida em tantas dificuldades político-administrativas, cada um de nós pode se ofertar este “presente”, o mais verdadeiro, necessário, único e, melhor, acessível a todos. Ao menos nas urnas eleitorais que se aproximam.