Considerando
que a especulação imobiliária em nossa região tem suas raízes na fundação de
nossa cidade, conforme aponta o doutor em história, professor Valdeir
Agostinelli Pereira (1961-), em seu: “Terra e poder: formação histórica de
Marília (Comissão Permanente de Publicação, UNESP: Marília, 2005), é
importante, trazer à nossa consciência conteúdos não presentes, apesar de
atuantes, em nosso inconsciente pessoal e coletivo.
A
ideia das comodidades da vida urbana próxima às vantagens oferecidas pelo
campo, presente nas publicidades dos mais diversos empreendimentos
imobiliários, dão-nos suficientes provas da atuação dos fatores psicológicos
ligados ao complexo de poder a que estamos sujeitos, tem levado-nos a crer que
“natureza” é mais um conceito produzido pela manipulação social e histórica do
homem, conforme Wendel Henrique (O direito à natureza na cidade. Salvador (BA):
EDUFBA, 2009). Segundo o doutor em geografia, professor do Departamento de
Geografia da Universidade Federal da Bahia: “A natureza, material e
simbolicamente, incorpora-se à esfera [...] de uma racionalidade instrumental,
[...] tende a ser transformada em cartões postais e em fetiche” (p. 18).
Isto nos aponta
para o nosso complexo de poder, nossa forma emocional de lidar com a capacidade
de submetermos tudo, todos e, a nós mesmos, a conceitos e formas de vida. Como
todos os complexos, o de poder, não é de todo negativo, pois através dele
estabelecemos limites às nossas ações, como também, a influência e determinação
alheia sobre nós. Entretanto, o aspecto negativo do complexo de poder, quanto
ao que estamos tratando, responde a muitos de nossos questionamentos atuais: a
artificialidade, como componente da complexidade da vida urbana a que estamos
submetendo a nossa existência e das futuras gerações; a um distanciamento das
nossas identidades étnicas e geográficas, como se não as tivéssemos; de
estabelecer comunidades marcadas pela desigualdade, fortalecendo a especulação
imobiliária, a ponto de acreditarmos que não é possível estabelecer critérios
que definam, mais claramente, seus limites, tendo como consequência, o
agravamento da alienação social e política, tanto individual quanto coletiva e,
portanto, facilitando a sua prática, cada vez mais, abusiva e, deixando um
campo livre para atuação de políticos e empresários inescrupulosos.
Andreas
Meyer-Lindenberg, matemático, psiquiatra e pesquisador, diretor do Instituto
Central de Saúde Mental de Mannheim, na Alemanha, em: Cidades enlouquecedoras
(Revista Mente e Cérebro. Ed. 255. São Paulo: Duetto, Abril, 2014), aponta que
viver o lado negativo do complexo de poder, na vida urbana, traz algumas
consequências emocionais, deixando-nos um “sabor” artificial do que é viver:
prejuízo dos níveis de memória e de atenção; ansiedade e depressão; e, em
alguns casos, esquizofrenia. E, aponta para diversos fatores externos que
determinam neurobiologicamente, como a superestimulação da amígdala cerebral, o
aparecimento de tantos transtornos de humor: poluição atmosférica, visual e
sonora; estresse social, motivado pela pressão social presente na vida urbana,
e enfraquecida, no meio rural; fragilidade dos laços e da sensação de não pertencer
a um lugar ou grupo social, como elemento de instabilidade emocional. E,
conclui: “Uma densa rede de amigos e parentes pode ajudar a proteger as pessoas
contra os efeitos mais nocivos do estresse. Podemos projetar nossas cidades de
forma que favoreçam o bem-estar emocional” (p. 53).
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