A criança mobiliza a energia psíquica dos
pais ou de seus substitutos, a construir um “ninho”, onde todos buscam se
desenvolver como pessoas.
A
construção do “ninho” se dá sempre que a alimentação, o cuidado com a higiene e
a saúde, a proteção e o conforto pessoal são experimentados no dia a dia.
Há,
entretanto, de se levar em conta que o “ninho” é constituído, também, pela
educação. Muito mais do que a educação escolar, trata-se de ajudar a criança a
adaptar-se ao mundo, a cultura, a viver em sociedade. Neste processo a criança
estrutura a sua identidade como pessoa, e a sua visão de mundo.
A
criança conhece a si mesma à medida que aprende a construir uma noção de limites
entre ela e a relação dos pais, entre ela e seus iguais e o mundo em geral. E,
se os pais tiverem uma noção de limites própria bem estruturada, mais
facilmente os filhos compreenderão as frustrações a que estão submetidos, e menores
serão os conflitos entre as gerações.
Podemos
compreender limite em dois sentidos: o primeiro deles tem a ver em estabelecer
espaços e direitos de cada um, dos pais e das crianças, quer dizer, definir o
“até onde” as crianças podem ir em relação ao mundo dos adultos, quanto ao
respeito e a liberdade um ao outro. Trata-se, mesmo, dos impedimentos, das
restrições, das proibições às crianças, mas também, a que os adultos que cuidam
delas devem cumprir.
O outro
significado busca estabelecer as possibilidades e condições para que a criança
desenvolva suas capacidades pessoais, aprenda a discriminar suas próprias
atitudes, desenvolva a capacidade de disciplinar-se nas várias situações da vida.
Quando o assunto
é estabelecer restrições, muitos pensam em que reprimir a liberdade pode prejudicar
a capacidade das crianças de construir uma boa imagem de si mesmas. Contudo, na
verdade, isto trouxe uma desvalorização ao valor da autoridade legítima dos
pais, confundindo autoridade com autoritarismo.
“No autoritarismo o adulto decide uma forma correta de
comportamento e exige que esta forma seja cumprida pela criança, por meio de
coerções, como a repetição exaustiva da ordem, a ameaça, a mentira e a força
física (violência). Na
relação em que existe a presença da autoridade, o adulto procura compreender o
significado da conduta da criança e procura orientá-la e educá-la no que se
refere ao significado da ação inadequada e sobre as consequências que podem
ocorrer para ela e para os outros, se a ação persistir”. (FARIA, D. L. A paternidade de filhos adolescentes: a crise
do meio da vida e o processo de individuação masculino. Bol. Psicol, São Paulo , v. 57, n.
126, jun. 2007, p. 111).
O
professor Durval, do Núcleo de Estudos Junguianos, da Pontifícia Universidade
de São Paulo (PUC/SP), chama a nossa atenção para um dos fatores mais
importantes para que as crianças tenham uma identidade pessoal suficientemente
boa: que sejam aceitas, incondicionalmente, pelos pais ou substitutos e, declaradamente,
manifestem que elas são desejadas, bem como, aquilo que desejam para elas.