domingo, 13 de maio de 2012

Mãe, eu te amo. Mãe, eu te odeio.


            A vida é feita de ambiguidades. Não tem jeito. Com relação às mães não é diferente. E, como hoje é o Dia das Mães, e se quisermos ser verdadeiros em sua homenagem temos de encarar esta realidade: há momentos que somos capazes sentir e declarar o maior amor do mundo por elas, em outros, contudo, as odiamos com a mesma intensidade, ainda que não consentido.
            Para nós “amor de mãe é sagrado”. Mas será que é mesmo? São muitas as ocasiões em que isto não é verdadeiro.
            O filósofo Luiz Felipe Pondé, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC-SP, titular da Faculdade de Comunicação da FAAP, no programa Café Filosófico, da TVCultura, no último domingo (06/05) afirmou: “A família é lugar de ressentimentos, invejas, rancores e ódios. Mães têm inveja das filhas. Têm filhos que detestam as mães. Filhos que competem com os pais. Mães que humilham, destroem os filhos, acabam com qualquer projeto dos filhos; cerceiam qualquer “possível” de qualquer coisa que para os filhos têm significado. Ou filhos que são verdadeiros monstros, malvados, cruéis, mentirosos, que usam e abusam da sua (mãe) paciência porque sabem que você os ama. Será que dá para amar todas as mães? Todas as mães merecem ser amadas por seus filhos? Quais são as razões que levam uma pessoa a odiar a própria mãe?”
            Para Pondé, a família é um dos primeiros lugares onde aprendemos a lidar com o ódio, senão aos de fora, aos de dentro da própria casa, que não é possível amarmos a todos, que o ódio é um dos afetos humanos que precisa ser acolhido, e os símbolos culturais, como a religião, nos ajudam a admiti-lo. Se não fossem os símbolos culturais, a vida social seria dominada pela imoralidade, e a convivência familiar, impossível.
Quanto aos símbolos culturais vale a consideração de C. G. Jung (1875-1961): “Os símbolos culturais são aqueles que foram empregados para expressar ‘verdades’ eternas e que ainda são utilizados em muitas religiões. Passaram por inúmeras transformações e mesmo por um longo processo de elaboração mais ou menos consciente, tornando-se assim imagens coletivas aceitas pelas sociedades civilizadas. Esses símbolos culturais guardam, no entanto, muito da numinosidade original ou ‘magia’. Sabe-se que podem evocar reações emotivas profundas em algumas pessoas, e esta carga psíquica os faz funcionar um pouco como os preconceitos. São um fator que deve ser levado em conta pelos psicólogos. Seria insensato rejeitá-los pelo fato de, em termos racionais, parecerem absurdos ou despropositados. Constituem-se em elementos importantes da nossa estrutura mental e forças vitais na edificação da sociedade humana” (Jung, C. G. O Homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995, p. 93).
Algumas “imagens coletivas aceitas pelas sociedades civilizadas”: perdão, esperança, fé, compreensão, tolerância, força para suportar indignidades. ‘Verdades’ reverenciadas pela religião cristã, que mantém a sua ‘magia’ em seus rituais e dogmas.
Como não é possível extirpar o ódio, até mesmo dos filhos para com as mães, é preciso deixar um espaço para estas imagens em nossa sociedade e famílias, se quisermos nos manter saudáveis. Feliz dia das mães!

Nenhum comentário:

Postar um comentário