A
vida é feita de ambiguidades. Não tem jeito. Com relação às mães não é
diferente. E, como hoje é o Dia das Mães, e se quisermos ser verdadeiros em sua
homenagem temos de encarar esta realidade: há momentos que somos capazes sentir
e declarar o maior amor do mundo por elas, em outros, contudo, as odiamos com a
mesma intensidade, ainda que não consentido.
Para
nós “amor de mãe é sagrado”. Mas será que é mesmo? São muitas as ocasiões em
que isto não é verdadeiro.
O
filósofo Luiz Felipe Pondé, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências
da Religião da PUC-SP, titular da Faculdade de Comunicação da FAAP, no programa
Café Filosófico, da TVCultura, no último domingo (06/05) afirmou: “A família é
lugar de ressentimentos, invejas, rancores e ódios. Mães têm inveja das filhas.
Têm filhos que detestam as mães. Filhos que competem com os pais. Mães que
humilham, destroem os filhos, acabam com qualquer projeto dos filhos; cerceiam
qualquer “possível” de qualquer coisa que para os filhos têm significado. Ou
filhos que são verdadeiros monstros, malvados, cruéis, mentirosos, que usam e
abusam da sua (mãe) paciência porque sabem que você os ama. Será que dá para
amar todas as mães? Todas as mães merecem ser amadas por seus filhos? Quais são
as razões que levam uma pessoa a odiar a própria mãe?”
Para
Pondé, a família é um dos primeiros lugares onde aprendemos a lidar com o ódio,
senão aos de fora, aos de dentro da própria casa, que não é possível amarmos a
todos, que o ódio é um dos afetos humanos que precisa ser acolhido, e os símbolos
culturais, como a religião, nos ajudam a admiti-lo. Se não fossem os símbolos
culturais, a vida social seria dominada pela imoralidade, e a convivência
familiar, impossível.
Quanto aos
símbolos culturais vale a consideração de C. G. Jung (1875-1961): “Os símbolos culturais são aqueles que foram empregados para expressar ‘verdades’
eternas e que ainda são utilizados em muitas religiões. Passaram por inúmeras
transformações e mesmo por um longo processo de elaboração mais ou menos
consciente, tornando-se assim imagens coletivas aceitas pelas sociedades
civilizadas.
Esses símbolos culturais guardam, no entanto, muito
da numinosidade original ou ‘magia’. Sabe-se que podem evocar reações emotivas
profundas em algumas pessoas, e esta carga psíquica os faz funcionar um pouco
como os preconceitos. São um fator que deve ser levado em conta pelos
psicólogos. Seria insensato rejeitá-los pelo fato de, em termos racionais,
parecerem absurdos ou despropositados. Constituem-se em elementos importantes
da nossa estrutura mental e forças vitais na edificação da sociedade humana” (Jung,
C. G. O Homem e seus símbolos. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1995, p. 93).
Algumas “imagens coletivas aceitas pelas sociedades civilizadas”:
perdão, esperança, fé, compreensão, tolerância, força para suportar
indignidades. ‘Verdades’ reverenciadas pela religião cristã, que mantém a sua
‘magia’ em seus rituais e dogmas.
Como não é possível extirpar o ódio, até mesmo dos filhos para com as
mães, é preciso deixar um espaço para estas imagens em nossa sociedade e
famílias, se quisermos nos manter saudáveis. Feliz dia das mães!
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