De repente tudo se perde. Nada mais pode ser feito. Só ficaram as lembranças de alguns acontecimentos agradáveis, e outros frustrantes. A presença se transformou numa ausência doída, inquieta e ansiosa.
O momento da partida de um ente querido torna o presente congelado no tempo, tornando o futuro, cego e enfadonho. As estações do ano não se renovam, parecendo um longo e cansativo outono.
A morte provoca um amargo pesar; é como se algo se intrometesse onde e quando não deveria. E quanto menor a importância concedida às mudanças, mais complicada será a adaptação que elas exigem. É o momento quando se percebe que a vida deveria permanecer estática, estável e previsível. Não importa quão belo e admirável seja o momento presente, as mudanças exigem uma nova organização da vida, da família, dos negócios, até da religiosidade.
Não nos acostumamos com a ideia, mas estamos em constantes mudanças. Somos forçados a empreender uma nova organização durante todas as etapas da vida: na infância, o corpo se transforma o tempo todo; adolescentes, nossas feições se alteram rapidamente; na juventude, à medida que os gostos se refinam, a vontade de encontrar um lugar ao sol se torna prioritário, por isso ficamos tão despreocupados com o que se passa ao nosso redor. É a partir da meia-idade e na velhice que sentimos quão despreparados estamos para as inevitáveis e repentinas alterações.
Como enfrentar as implacáveis condições que nos obrigam a mudar? Pelo visto, em nossa cultura não temos respostas.
Com a palavra os sábios antigos: é preciso aprender a nos desapegar de tudo e de todos. A sua máxima “vida-morte-vida” está presente em tudo, desde a semente que morre para nascer. A vida sem a morte não se completa. A morte completa a vida.
Sofremos porque não queremos nos desapegar.
Desapego não significa negligenciar, menosprezar, envergonhar-se pela necessidade que se impõe, nem resignar-se insensivelmente e sem afetos.
O desapego é para quando não se suporta a perda de oportunidades que durante algum tempo eram consideradas eternas e promissoras, e vivenciada como o fechamento definitivo das portas, como não mais sendo possível abri-las, porque ficamos do lado de fora.
O desapego nos sugere que há outras e diferentes experiências a serem desfrutadas, caso contrário, tudo permanecerá o mesmo.
O desapego é para encontrar o que nos falta; a dar importância ao que é verdadeiramente importante; a perceber que somos parte de um plano traçado por mãos invisíveis que dirigem todas as coisas.
Como afirma Mário de Andrade (1893-1945): “quero viver ao lado de gente humana, que sabe rir de tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade...” (Não tenho tempo para perder com certas coisas).
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