domingo, 21 de abril de 2013

O que uma guerra provoca?


          A possível guerra na Península Coreana expõe-nos, como que, vira-nos do avesso, para percebermos quem somos, que mundo vivemos e construímos; que é necessário nos preocuparmos com os meios e modos de enfrentar o mal, não ao que os outros possam cometer contra nós, mas, especialmente, ao cada um de nós pode impor ao próximo.
            Mais uma vez, demonstramos que não ouvimos a voz de nossa própria natureza, a partir do inconsciente, revelando a gigantesca distância de nossa alma, aguardando a ouvir o primeiro estampido das armas, ou o ruído do botão do arsenal atômico às mãos dos lados envolvidos, mesmo sabendo do morticínio que provocará.
            Aliás, há muito tempo, o fenômeno da guerra acompanha a trajetória humana, sendo que o processo de paz se dá, real e somente, quando um dos lados se conscientiza do mal que pode provocar, e busca forma de se conter. Ah, se os militares, dos anos sessenta, tivessem ouvido a voz de suas almas, e do momento histórico-social que o País vivia!
            As consequências que uma guerra pode provocar, além da obviedade das mortes e destruição, na opinião de C. G. Jung (1875-1961), conforme o seu “Civilização em transição” (Vozes, 2007), são várias: descontrole social; mal-estar emocional; ansiedade generalizada; baixa autoestima; frieza de espírito; apego aos bens materiais; ambição para novos lucros, exploração de pessoas, vistas como potenciais consumidoras dos bens de uma nova cultura social, política, econômica e religiosa (iraquianos, afegãos e africanos, que o digam); abalo moral da fé em nós mesmos, quanto a possibilidade de criar um mundo de paz e de concórdia; paralisia da imaginação, da esperança, da criatividade, da aspiração por sentido e plenitude de vida, pela monstruosidade das medidas desvairadas de “líderes” excitados pela loucura; transformações como as que as Primeira e Segunda Guerras provocaram, quanto às funções psíquicas do feminino e do masculino no ser humano, pois o feminino, segundo ele, enquanto função psíquica, é para estabelecer a unidade que o intelectualismo masculino separou; etc.
            No caso da Coreia do Norte, a destruição pode ser uma hecatombe, ao menos para o seu povo, paralisado pela ditadura Kim. O bom-senso, se é que podemos falar disto nesta altura do conflito, indica a prudência em ouvir a voz do seu único aliado, a China, que parece ter as condições para que volte aos princípios legais, da razão, da sensatez, de um Estado, mesmo que o espírito dos líderes se mantenha afastado da democracia.
            A situação mundial comprova que, mais uma vez, não é possível vivermos iludidos, pois o fluxo das energias psíquicas do mundo nunca foi diferente, porque não temos mais certezas que nos assegurem que a vida se constitui de segurança material, bem-estar geral e a convicção de que o ser humano é bom.
            Só a conexão com a nossa subjetividade é que somos capazes de justificar as energias que nos movem, até mesmo os desatinados desígnios da guerra.
            “Basta reunir o material necessário à destruição que o diabólico se apossará infalivelmente do homem levando-o a agir. Sabemos muito bem que as armas de fogo disparam por si, desde que haja um conjunto suficiente delas”, afirma Jung (Obra citada, p. 81).

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