A possível guerra na Península Coreana
expõe-nos, como que, vira-nos do avesso, para percebermos quem somos, que mundo
vivemos e construímos; que é necessário nos preocuparmos com os meios e modos
de enfrentar o mal, não ao que os outros possam cometer contra nós, mas,
especialmente, ao cada um de nós pode impor ao próximo.
Mais
uma vez, demonstramos que não ouvimos a voz de nossa própria natureza, a partir
do inconsciente, revelando a gigantesca distância de nossa alma, aguardando a
ouvir o primeiro estampido das armas, ou o ruído do botão do arsenal atômico às
mãos dos lados envolvidos, mesmo sabendo do morticínio que provocará.
Aliás,
há muito tempo, o fenômeno da guerra acompanha a trajetória humana, sendo que o
processo de paz se dá, real e somente, quando um dos lados se conscientiza do
mal que pode provocar, e busca forma de se conter. Ah, se os militares, dos
anos sessenta, tivessem ouvido a voz de suas almas, e do momento
histórico-social que o País vivia!
As
consequências que uma guerra pode provocar, além da obviedade das mortes e
destruição, na opinião de C. G. Jung (1875-1961), conforme o seu “Civilização
em transição” (Vozes, 2007), são várias: descontrole social; mal-estar
emocional; ansiedade generalizada; baixa autoestima; frieza de espírito; apego
aos bens materiais; ambição para novos lucros, exploração de pessoas, vistas
como potenciais consumidoras dos bens de uma nova cultura social, política,
econômica e religiosa (iraquianos, afegãos e africanos, que o digam); abalo
moral da fé em nós mesmos, quanto a possibilidade de criar um mundo de paz e de
concórdia; paralisia da imaginação, da esperança, da criatividade, da aspiração
por sentido e plenitude de vida, pela monstruosidade das medidas desvairadas de
“líderes” excitados pela loucura; transformações como as que as Primeira e
Segunda Guerras provocaram, quanto às funções psíquicas do feminino e do
masculino no ser humano, pois o feminino, segundo ele, enquanto função
psíquica, é para estabelecer a unidade que o intelectualismo masculino separou;
etc.
No
caso da Coreia do Norte, a destruição pode ser uma hecatombe, ao menos para o
seu povo, paralisado pela ditadura Kim. O bom-senso, se é que podemos falar
disto nesta altura do conflito, indica a prudência em ouvir a voz do seu único
aliado, a China, que parece ter as condições para que volte aos princípios
legais, da razão, da sensatez, de um Estado, mesmo que o espírito dos líderes
se mantenha afastado da democracia.
A
situação mundial comprova que, mais uma vez, não é possível vivermos iludidos,
pois o fluxo das energias psíquicas do mundo nunca foi diferente, porque não
temos mais certezas que nos assegurem que a vida se constitui de segurança
material, bem-estar geral e a convicção de que o ser humano é bom.
Só
a conexão com a nossa subjetividade é que somos capazes de justificar as
energias que nos movem, até mesmo os desatinados desígnios da guerra.
“Basta
reunir o material necessário à destruição que o diabólico se apossará
infalivelmente do homem levando-o a agir. Sabemos muito bem que as armas de
fogo disparam por si, desde que haja um conjunto suficiente delas”, afirma Jung
(Obra citada, p. 81).
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