Para o psiquiatra, psicanalista e
filósofo francês Henri Ey (1900-1977), as atitudes das mães quanto ao desmame e
o controle dos esfíncteres, por exemplo, determinam quão tolerantes às
frustrações podem ser as crianças, uma vez que, através destas experiências
elas podem desfrutar prazer e benefícios ao adquirem novos comportamentos e
novos atos por si mesmos (Manual de psiquiatria. Rio de Janeiro: Masson/Atheneu,
1985).
É como se o
controle dos esfíncteres fosse a primeira experiência que temos com os nossos
corpos, ainda “inéditos”. “Inauguramos” a nossa presença no mundo, e os pais,
funcionam como a nossa melhor “plateia”. Pais com atitudes ambivalentes, ora
indulgentes, ora severos nestes momentos “inauguradores”, ou ainda, ausentes,
distantes, fracos, autoritários, apressados para que as crianças “aprendam logo
a se controlar”, criam-nas carentes, podendo evoluir para uma psicopatia.
Conforme
Ey, o psicopata é alguém que tem como única opção descarregar a tensão interior
que vivencia sem controle de seus pensamentos mais elaborados, pois ficam
“capturados como reféns” de seus comportamentos inadequados.
Para
Alberto Pereira Lima Filho, psicólogo analítico e professor do Programa de
Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Pontifícia Católica de São Paulo
(PUC/SP), para o indivíduo psicopata “inexiste a internalização de conflitos”,
e por isso, revela comportamento desprovido de emoção no momento do ato, quer
dizer, apresenta uma atitude “fria”, revela-se primitivo, ávido e intolerante
ao que deseja e não é possível ser realizado, sem culpa, incapaz de elaborar
sua pulsão. Para ele: “O ato psicopático é imediato (não mediatizado pela
linguagem) não há elaboração mental. O gesto é executado sem o conhecimento do
Eu, dando ao observador a impressão de um vazio mental; o sujeito é incapaz de
explicar o gesto (como justificativas, apresenta palavras estereotipadas ou
racionalização secundária); contraste entre bom nível de cultura (adaptação
prática) e incapacidade de processar verbalmente a vivência emocional da crise
(atuação)” (O pai e a psique. São Paulo: Paulus, 2002, p. 314).
Em
“A criança como indivíduo” (Cultrix: São Paulo, 2006), o psiquiatra inglês
Michael Fordham (1905-1995), um dos maiores expoentes no estudo de crianças na
psicologia analítica, ao atender as necessidades do/a filho/a, na hora certa, a
mãe o/a conduz ao processo de encontrar-se com o seu (da criança) Self, que ela
representa. Se tal representação for positiva e satisfatória, a criança afasta
a possibilidade de apresentar alguma psicopatia, sendo assim, protagonista de
seu próprio processo de desenvolvimento mental.
Os pais, então,
são um dos maiores fatores na formação da estrutura do Eu das crianças,
descartando questões genéticas e traumáticas involuntárias. Por isso, é
importante que mães e pais prestem atenção em algumas de suas atitudes para com
as crianças, desde os seus primeiros dias de vida, ainda “estreantes”, se não
quiserem passar pelo sofrimento de conviver com um/a filho/a psicopata.
Ampliando
um pouco mais o espectro das fases de vida das crianças, isto nos leva a
considerar: a formação do caráter e o desenvolvimento da consciência moral das
crianças iniciam muito mais cedo do que imaginamos, e por isso, os pais
precisam resistir às demandas intrometidas dos parentes, estranhos e meios de
comunicação.
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