Se
o comportamento inadequado de uma criança origina-se de algum transtorno
psíquico: “É preciso compreender aquilo que, na organização de uma
personalidade psicopática, provém de predisposições somáticas, de más condições
sociais e o que provoca reações psicológicas do indivíduo, tornando-o incapaz
de equilibrar em si mesmo sua pessoa e seu destino” (EY, H. Manual de
psiquiatria. Rio de Janeiro: Masson/Atheneu, 1985, p. 369, apud LIMA FILHO, A.
P. O pai e a psique. São Paulo: Paulus, 2012, p. 304).
É
bom se cercar de posicionamentos sem extremos como este para evitar tendências
de “rotular” as pessoas, principalmente quando se trata de crianças, com
diagnósticos que, na maioria das vezes, não representam mais do que as
angústias dos pais e/ou responsáveis, inclusive de professores. Entretanto, é importante
ressaltar: as teorias são auxiliares na orientação quanto às análises que
precisam ser realizadas, contudo, como adverte Carl Gustav Jung (1875-1961): “A
teoria é o melhor disfarce para a falta de experiência e para a ignorância, mas
as consequências são deprimentes: mesquinhez, superficialidade e sectarismo
científico” (JUNG, C. G. O desenvolvimento da personalidade. Petrópolis: Vozes,
1983, p. 10).
Com tal
posicionamento, Jung defende a ideia de que o desenvolvimento humano é muito
“elástico”, podendo apresentar significativas alterações em todas as fases da
vida e, em especial, na infância, por que suas disposições são polivalentes.
Para
fins didáticos, destaco o estudo de Alberto Pereira Lima Filho, psicólogo
analítico e professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no qual nos apresenta a
contribuição do neuropsiquiatra basco Julian Ajuriaguerra (1911-1993), em seu
Manual de Psiquiatria Infantil, no qual categorizou os distúrbios antissociais
em: 1. Personalidades subnormais (simples desvios da personalidade; possui uma
relativa adaptação, mas as formas extremas são patológicas, incluindo pobreza
de juízo e incompatibilidade social); 2. Psicopatas (ignoram responsabilidades;
não distinguem o verdadeiro do falso; falta persistente de autocrítica; falta
de aprendizagem pela experiência; incapacidade de amar; sentimentos superficiais;
dureza e brutalidade evidentes); 3. Personalidades antissociais (indivíduos
predadores que perseguem fins mais ou menos criminais); 4. Transtornos de
caráter e do comportamento (transtornos de conduta mais estáveis,
interiorizados e resistentes aos tratamentos do que “perturbações transitórias
situacionais”); 5. Delinquência juvenil (puro atentado à lei; roubo, delitos de
violência – agressão física e homicídio; delitos sexuais – estupro e
prostituição; fuga e vagabundeio; toxicomania.
Variados
são os fatores que levam alguns indivíduos a apresentarem tais distúrbios:
genéticos – hereditários; traumáticos – mortes, separações e perdas emocionais
repentinas e significativas; sociais – gravidez indesejada por ambos os pais,
negação de afeto em tenra infância, convivência temporária ou permanente com
parentes ou estranhos, relações pouco harmoniosas entre os pais, violência
doméstica e meios de comunicação; e, ambiente familiar – mães inseguras no
cuidar do filho, crescente diminuição da importância do papel do pai em nossa
sociedade, independência precoce, inclusive financeira, o que leva as crianças
a se sentirem donas de si próprias muito cedo e num mundo à parte de seus pais.
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