Pensar e sentir como
funções psíquicas estão interligadas.
Interpretamos
(pensamos) ativa e passivamente sobre tudo aquilo que nos chega à percepção,
conforme Carl G. Jung (Tipos Psicológicos).
Pensamos
ativamente ao nos envolvermos por e com vontade própria, tanto ao que nos
acontece como às emoções geradas pelos fatos; neste sentido, o intelecto dirige
nossos posicionamentos frente aos eventos e às emoções, nossas e de terceiros.
Pensar passivamente significa deixar que as ideias se conectem umas às outras
espontaneamente, sem uma participação dirigida; é deixar-se, intelectualmente,
ser conduzido pela intuição, no campo físico e pessoal.
Sentir
é a capacidade de avaliação do que nos acontece externa e internamente;
trata-se de refletir subjetivamente quanto à necessidade de enfrentar e de
recuar frente às ocasiões com que nos deparamos.
A
vivência destas funções modera tanto o racionalismo quanto a fantasia, quer
dizer, nos protegemos da frieza intelectual e, puramente, sentimentalistas.
Na
atualidade, pensar e sentir se dá no âmbito da vida urbana e, hoje mais do que
nunca, sentimos os efeitos da dissociação destas funções.
Conforme
o historiador e crítico de arquitetura, tcheco, Sigfried Giedion (1888-1968): “O
caos de nossas cidades, não pode ser explicado tão só pelas condições sociais e
econômicas. As ações são postas em marcha mediante impulsos sociais e
econômicos, mas cada ato humano está sob influências, e inconscientemente
plasmado por um ambiente emocional específico. O mesmo ocorre com a política e
o governo. Na base de cada sistema político se acham indivíduos cujas ações
refletem sua preparação intelectual e emotiva. No momento em que se produz uma
cisão, o núcleo interno da personalidade fica separado por uma diferença de
nível entre os métodos de pensar e os do sentir. Seu resultado é o símbolo do
nosso tempo: o homem dissociado, inadaptado” (Espacio, tiempo y arquitectura.
Ed. Reverté. Barcelona/Espanha: 2009, p. 788-789).
As
condições de vida nas cidades têm nos levado a um elevado nível de estresse e,
as consequências estão aí: baixo nível de tolerância para com o contínuo
descaso das autoridades pela baixa qualidade dos serviços públicos,
insegurança, ruas esburacadas, alta de taxas e impostos; ansiedade gerada pela
incerteza quanto ao que virá depois dos protestos iniciados em junho de 2013;
distúrbios mentais, como depressão e outros transtornos psíquicos, porque vemos
as nossas condições de vida piorar; chegando até, em alguns casos, à perda da
identidade própria.
Estamos
num momento em que as funções psíquicas de pensar e sentir estão se
“remodelando”.
As
estruturas do saber e poder incestuosamente ligadas e corroídas, que ocupam os
espaços espirituais, intelectuais, políticos e econômicos, querem nos fazer
crer que o movimento psíquico em curso levará ao fim da sociedade de consumo,
dos partidos políticos, da “ordem moral e ética” que controlam sob a força e a
violência.
A luta travada no mundo exterior se dá no nível interior de cada um de
nós. É preciso acompanhar o processo de “remodelação” do pensar e do sentir,
assimilando os seus conteúdos à consciência, se quisermos construir uma
sociedade melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário