A recusa em refletir
psicologicamente a respeito das manifestações coletivas, a que estamos
presenciando nos últimos tempos no País, contra a violenta e opressora
repressão da polícia, a impunidade aos crimes contra o erário público, a falta
de vontade política de estabelecer serviços de saúde, educação e transporte
públicos de qualidade e aos discursos vazios que intentam desviar a atenção de
muitas pessoas dos reais e graves problemas sociais do País e da cidade, revela
a importância dada à superfície das coisas, preferindo fugir de experimentar a
essência interior de cada um de nós.
As
grandes soluções para os grandes problemas exteriores que enfrentamos passam
por resolver os assuntos referentes aos mesmos dentro de nós. Nossos problemas
sociais são fruto da nossa maldade pessoal. “A alma é o ponto de partida de
todas as experiências humanas, e todos os conhecimentos que adquirimos acabam
por levar a ela. A alma é o começo e o fim de qualquer conhecimento”, segundo
Carl Gustav Jung (A natureza da psique. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 61).
Contemos dentro de nós exatamente aquilo que estamos
combatendo fora.
“A
diferença entre um problema pessoal e um coletivo é que um problema pessoal
deriva inteiramente de nós mesmos, das nossas próprias insuficiências pessoais.
Mas, um problema coletivo chega a nós devido ao fato de que vivemos em
coletividade”, conforme C. G. Jung (The Visions Seminars, 1933).
O Complexo de Poder que se caracteriza por (relembrando o
artigo anterior): egocentrismo
narcísico (para exercer o poder, as necessidades alheias tendem a ser
ignoradas), autoritarismo, intolerância à contradição, competitividade, apego
ao Poder, acúmulo de riqueza, fala com ar de comando, corrupção, inveja, baixa
tolerância a frustração, ostentação, aversão aos símplices, ambição, delírio de
grandeza, etc, nos leva a um estado de “intoxicação emocional”, quer dizer,
nossa mente fica obscura, insegura, turvada sob o poder fascinante a que o
consumismo, por exemplo, nos leva, daí darmos mais importância ao que acontece
na superfície da realidade exterior, e nos afastamos da nossa essência pessoal.
Afastar-se
é o mesmo de negar ou reprimir aquilo que somos de obscuro e destrutivo.
Entretanto, afastar-se não significa eliminar ou erradicar, mas recolher no
inconsciente, porém, deste modo acumulamos energia tal, que geralmente, ao
explodir causa destruição e sofrimentos.
Nestes
momentos se faz necessário desenvolver pensamentos e sentimentos, porque nada
pode funcionar enquanto estamos sob o efeito perturbador das emoções.
Pensar
e sentir significa tentar entender, discriminar, avaliar o sentido e o
significado das emoções, integrando à consciência o seu conteúdo, para que
ocorra, então, crescimento e sabedoria.
Cabe nos confrontar e satisfazer
às exigências que os pensamentos e sentimentos nos propuserem, nesta tarefa: “A
paciência é fundamental. Coragem para enfrentar a ansiedade. Dedicação contínua
no sentido de uma disponibilidade para perseverar, a despeito de todas as
modificações de humor e de estado mental, no esforço de pesquisar e compreender
aquilo que está ocorrendo”, conforme Edward Edinger (Anatomia da psique. São
Paulo: Cultrix, 1995, p. 25).
Nenhum comentário:
Postar um comentário