Segundo Tákis Athanássios Cordás,
Professor de Pós-Graduação do Departamento de Psiquiatria e do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (IPQ-HCFMUSP), a depressão na Idade Média era denominada “acídia”,
termo grego para “falta de cuidado”, introduzido nos estudos teológicos sobre a
condição de vida dos pecadores pelo monge Ioannes Cassianus (360-435), fora incluída
na lista dos sete pecados capitais pelo Papa Gregório, Magno (540-604),
identificada como “preguiça”, compreendida como indolência quanto às obrigações
religiosas, e ainda: “estava inserida na demonologia da época” (Depressão: da
Bile Negra aos neurotransmissores, uma introdução histórica. São Paulo: Lemos
Editorial, 2002, p.33).
Conforme Antônio
Máspoli de Araújo Gomes, Professor Titular da Universidade Presbiteriana
Mackenzie de São Paulo e psicólogo junguiano, isto ocorria por que: “Nas
sociedades primitivas não havia separação entre sofrimento mental, físico ou
espiritual, como não havia separação entre medicina, magia e religião” (Eclipse
da alma. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, p. 137).
Apesar da
passagem de mais de 1500 anos, esta visão ainda persiste entre os religiosos
cristãos, daí os rituais de exorcismos, como tentativa de controlar o
sofrimento humano.
Isto nos leva a
considerar, sem generalizar, caso algum adepto desta visão sofra de depressão,
pode ser levado a recalcar o seu rebaixado estado de humor, empenhando-se numa
vida de aparente felicidade e a envolver-se em atividades religiosas pessoais,
como reuniões públicas de “oração e louvor” devido a uma crença mal formulada e
nutrir uma falsa esperança de cura, o que contribui para um sério agravamento do
transtorno e gerar graves dificuldades ao seu tratamento.
Nestes casos, os
“adoradores” reproduzem os rituais religiosos, na intenção de imitá-los e
repeti-los, como que “macaqueando” sem, contudo, refletir no significado
simbólico para si mesmo, tornando-os atitudes automáticas, mecânicas e
artificiais de uma experiência que não pode mais ser repetida, gerando um tédio
que fortalece o sentimento da depressão, mesmo que o que se deseja é se libertar
dela.
Segundo o Dr.
Máspoli: “Quando o rito perde o seu efeito ou não mais cumpre o seu propósito
expiatório, o sofrimento psíquico, a doença e a depressão ocupam o lugar do
sacrifício. A depressão sacrifica a libido, a energia do próprio indivíduo no
ritual psicológico de expiação de uma culpa cujas causas são desconhecidas. O deprimido
aqui é ao mesmo tempo a culpa e o rito expiatório. O sujeito é o sacrificador e
o sacrificado de si mesmo. Todo sofrimento vivenciado na depressão equivale ao
sofrimento da vítima sacrificial. O deprimido acredita que rompeu a sua ordem
cósmica por um ato real ou imaginário. Acredita também que seu sofrimento é
necessário para restabelecer o “nomos” (espírito de normalidade das coisas). No
entanto, quanto mais sofre, mais sente culpa e aumenta a vontade de sofrer um
sacrifício do ego, em um ritual sadomasoquista auto infligido. O sujeito
permanece, desse modo, aprisionado num círculo fechado de culpa e sofrimento,
sofrimento e culpa (Eclipse da alma. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, pp.
145-146).
Nenhum comentário:
Postar um comentário