domingo, 25 de novembro de 2012

Irritação deprime


           País a fora professores têm se manifestado acerca da realidade a que estão submetidos, muitas vezes por sobrevivência, mas sujeitos a toda sorte de doenças psicológicas e biológicas.
            Uma destas manifestações é a da pedagoga, arte terapeuta e psicóloga junguiana, do Rio de Janeiro, Regina Milone. Ao referir-se às condições em que exerce o magistério ela afirma: “Os profissionais, pelas péssimas condições de trabalho e pelos baixos salários, acabam pedindo licenças médicas consecutivas, muitos estão com Síndrome de Burnout, deprimidos, estressados, tristes e irritados. Convivendo com o que eles têm que conviver dentro das escolas, passamos a ver quantos motivos realmente eles têm para isso e é muito triste, pois uma profissão tão importante e fundamental como a de professor anda cada dia sendo mais desrespeitada e desvalorizada. Como encontrar ânimo para continuar assim?!” (www.diariodoprofessor. com/2012/10/26/escola-publica-hoje-relatando-e-refletindo-um-pouco-mais/).
            Ela, entre tantos outros professores que sofrem as mesmas condições aponta-nos para alguns fatores sociais e emocionais, que se não bem administrados, interferem na qualidade de vida de qualquer pessoa e geram doenças. E, a depressão é uma delas. Por quê? A resposta a esta questão não é simples. Primeiro porque depressão é diferente de tristeza.
Para o psicólogo e psicanalista Eduardo A. Furtado Leite, a depressão é inimiga da tristeza, pois leva o indivíduo a viver uma forte indiferença aos seus afetos, inclusive à própria tristeza. Em “Tristeza”, Leite afirma: “A tristeza é a última sentinela contra a depressão, a derradeira emoção”, que pode deter o avanço da depressão e ajudar na compreensão mental da doença (São Paulo: Duetto Editorial, 2010, p. 61). É como se a tristeza fosse a “febre” da depressão, mas a tristeza, em si mesma, não é depressão.
Há dois sintomas que são bem característicos da depressão: sensação predominante de tristeza, com duração maior do que duas semanas, e irritabilidade.
Pensemos hoje, um pouco sobre a irritação que nos acomete a todos, mas de maneira especial aos professores.
A irritação é uma das emoções básicas que mais nos desagrada, porque nos sentimos provocados a tomar a alguma atitude, na tentativa de alterar as situações que nos deixa contrariados, mas que em muitas vezes não nos é possível. São variados os motivos pelos quais nos irritar: as decisões dos políticos, os buracos nas ruas, a programação dos canais de TV, determinados ruídos dos locais onde estamos, os amigos e familiares, os alunos e os professores, etc.
            Algumas pessoas conseguem reagir adequadamente a estas situações, entretanto, na opinião da psicóloga clínica Natasa Jokic Begic: “As pessoas depressivas se irritam com muita facilidade e costumam ficar bem mais mal-humoradas diante de certas situações, sentindo-se culpadas pelo modo como agiram frente à situação que as irritou” (A vida não é um mar de rosas. Programa da TVEscola: Servos e Mestres, Nov. 2012).
            A depressão entre professores pode estar associada à constante irritabilidade a que estão sujeitos no exercício profissional, entretanto, para se mostrarem pessoas simpáticas, às vezes com o medo de sofrerem algum tipo de punição ou pelo sentimento de culpa, como citado acima, não verbalizam o que estão sofrendo. A irritação os corrói por dentro, silenciosamente, mas demonstram em sua expressão gestual, nos mal-entendidos e perturbações que causam ao ambiente de trabalho, que estão em grave perigo, e ainda, com o passar do tempo, ficam ainda mais, irritados e raivosos.
O que fazer? Fica para a próxima semana, se Deus quiser. Até lá.

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