domingo, 13 de janeiro de 2013

O mal da cidade


           A natureza do mal é uma ferida aberta nas ciências humanas, da teologia à psicologia. De um lado a doutrina cristã “privação do bem” de Orígenes (185-253 d. C.), de outro, totalmente antagônico, a teoria do médico psiquiatra Carl Gustav Jung (1875-1961), para quem o mal é um elemento que precisa ser integrado à consciência.
            Pôr-se em termos com o mal é exercer a capacidade de sentir as coisas como boas ou más, nobres ou horrendas, justas ou injustas. A ausência desta pode nos transformar em instrumentos do mal, ainda que estejamos realizando planos com as melhores intenções, e às vezes, em nome de Deus.
            As “melhores intenções”, assim consideradas pelo julgamento racional (na maioria das vezes, ingênuo) ou pelo sucesso obtido (resultados aferidos por números) podem nos levar a acreditar que não somos sequer capazes de imaginar o mal. Como os políticos, por exemplo, por executarem planos que beneficiam uma grande parcela da população, se consideram acima do bem e do mal.
            Quando uma nova administração da cidade assume suas responsabilidades, faz-se necessário lembrar que o seu mal se enfrenta muito mais por uma decisão pessoal de cada um dos cidadãos, e em especial das suas autoridades.
            A estas, a pequena e valiosa obra “Presente e futuro” (Editora Vozes), Jung faz algumas observações que podem contribuir para esta empreitada.
Cabe às autoridades: aprender a desconfiar de seus reais motivos quanto ao que pretendem realizar, pois meras palavras ou discursos, mesmo inflamados, não camuflam por muito tempo os malfeitos; manter-se alerta às fronteiras da sua interioridade e de como esta se relaciona com o que fazem na realidade externa, ainda mais se consideram esta atitude sem sentido lógico e contrário à grande maioria das pessoas do mundo da política, especialmente, seus líderes, como o próprio inconsciente quer fazer crer; lembrar-se que o bem-estar e a segurança da cidade dependem mais do seu equilíbrio psíquico do que do seu carisma pessoal, das influências às esferas superiores (vide os recentes exemplos: José Dirceu, José Genuíno, Eduardo Azeredo, etc.); não resistir aos opositores internos, pois não pode responsabilizar pelas suas decisões somente ao mundo externo, especialmente quando este aprova e elogia; duvidar da nababesca monarquia do ego, pois nenhum de nós é senhor em sua própria casa, isto é, no inconsciente existem lados que constituem a nossa personalidade que se não nos conscientizarmos destroem a nossa vida e a nossa carreira; serem exigentes quanto ao exame e rigoroso conhecimento de si mesmos, para descobrirem algumas verdades importantes sobre si, obterem uma vantagem psicológica que os diferencia da maioria das pessoas que os rodeiam e aprendam a avaliar se são dignos de tanta consideração e simpatia dos simpatizantes e opositores; acreditar que as melhores realizações que podem deixar para o registro da história estão na sua alma individual e não na aglomeração das massas que os aplaudem, nem nas técnicas e planos econômicos de crescimento que sofrem ataques inesperados; não julgar a consulta à consciência moral como um exercício intelectual, senão será considerado como um fator impopular ou um incômodo ideal que precisa ser negado, se, de fato, quiserem ser responsáveis pelas atividades que pretendem realizar com inteligência.

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