Carnaval: momento de viver a ingenuidade
da infância através do encanto das fantasias que, infelizmente, hoje estão à
venda aos milhões, demonstrando o poder massificador da festa e o poder
massacrante sobre a imaginação humana, pois ficou mais fácil “comprar uma
pronta” a deixar a criatividade trabalhar a favor da alegria. Este fenômeno
está presente até mesmo entre as crianças, que sentem dificuldades em imaginar;
parece que a preguiça venceu a vontade de pensar, artificializando a diversão,
perpetuando a bizarrice das tendências.
A diversidade da
festa tem para todos os gostos: blocos, escolas de samba, maracatu, frevo,
boi-bumbá (...) heranças das culturas que formam nossa identidade nacional:
afro-ameríndia-europeia.
De
acordo com Carl Gustav Jung (Símbolos da transformação. Vozes, 1989), seria o
momento de vivenciar o “pensamento não dirigido”, ou seja, pensar através das
imagens, das emoções, intuições, onde as regras da lógica e dos preceitos
morais não se aplicam; originando, normalmente, no inconsciente.
Apesar
do caráter festivo, o carnaval é um ritual, conforme conceitua Émile Durkheim
(1858-1917), por compartilharmos um sentimento comum e coletivo, ao menos
durante estes dias, no qual vivenciamos os mundos interno e externo ao mesmo
tempo.
Os momentos extáticos,
dionisíacos da festa podem levar a uma perda das características “inocentes”,
devido à fraqueza do ego movido pelo entusiasmo da convicção inflacionada de
que tudo é possível, que se vê “forçado” a esquecer dos limites sociais,
emocionais e morais. Trata-se de vivenciar a proximidade dos mundos interno
(imaginação, fantasia) e externo (realidade familiar, social, moral) que muitas
pessoas, deliberadamente, tentam separar sem considerar as consequências, que
podem levar a loucuras.
Como
ritual, o carnaval pode ser saudável se o aproveitarmos para conectar os mundos
externo e interno, conhecido e desconhecido, no sentido de aproximá-los e
integrá-los à consciência. As máscaras e fantasias revelam quem somos por
dentro, porém, muitas vezes, desconhecido. Não somente, lados da personalidade
de cada um, mas também, como nação brasileira.
Ritual
da aproximação dos opostos: do amor e ódio, da morte e vida, da sabedoria e
infantilidade, da vileza e justiça, do profano e sagrado, da virgindade e falta
de vergonha, do que queremos que outros conheçam sobre nós e aquilo que não
desejamos ser... Nada pode ser excluído da consciência individual e nacional.
Não
por acaso, o carnaval está intimamente associado a um dos períodos mais
importantes da cultura religioso-cristã – a Quaresma – período de jejuns e
reflexões, na tentativa de vivenciar a preparação de Jesus Cristo, no deserto,
para vivenciar o sofrimento com forças. É preciso cuidar para que: “A religião
que provoca a culpa é fruto de uma consciência que confunde o interior com o
exterior e projeta o sagrado no mundo externo”, conforme Carlos São Paulo,
médico da Universidade Federal da Bahia, diretor e fundador do Instituto
Junguiano da Bahia (http://psiquecienciaevida.uol. com.br/ESPS/edicoes/62/artigo209106-3.asp).
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