Precisamos
nos preparar para vivenciar a perda de alguém. Preferimos não pensar nisto, por
isso negamos a realidade trágica, especialmente quando se apresenta revestida
de violência e imprevisibilidade extremas, como aconteceu em Santa Maria, Rio
Grande do Sul. O luto é a melhor maneira de vivenciar a crua realidade da morte.
Para cada pessoa
que falece, segundo informações, pelo menos outras cinco vivenciam o luto, e
muitas delas precisam de ajuda profissional na elaboração desta experiência. Provavelmente,
o horror da experiência de Santa Maria, devido a comoção de pesar que tomou
conta do País, o luto ganha enormes proporções, mas também, importância
relevante para a saúde mental de nós todos.
O
luto mais difícil de ser vivenciado é o da perda de um filho, porque: a lógica
natural da existência foi invertida; porque, muitas vezes, não contavam com a
intromissão da contingência; muitas perguntas, se a tragédia poderia ter sido
evitada, ficarão sem respostas. Não é fácil transformar a experiência que
congela a vida no pior dos seus momentos, em tristeza e saudade. Enquanto isto
não acontece, o processo do luto não cessou. A tragédia pode paralisar a energia
da vida.
Quando isto
acontece, instala-se o Transtorno de Estresse Agudo (TEA), que pode durar de
dois dias a um mês depois do trauma, podendo evoluir para o quadro de
Transtorno do Estresse Pós-traumático (TEPT), caso não seja vivenciado
adequadamente. O TEA, entre outras coisas, pode provocar: sentimento subjetivo
(da psique) de anestesia por se ver impotente, com medo e horrorizado com o
acontecimento; distanciamento ou ausência de resposta emocional, em proporção
ao evento; incapacidade de recordar um aspecto importante do trauma (amnésia
dissociativa); reviver o evento traumático em pesadelos, pensamentos ou
imagens; ansiedade, inquietação motora e elevado estado de alerta. Em caso de
TEPT, o enlutado pode sofrer: queda no interesse de se relacionar com outras
pessoas, de participar de eventos sociais, ter surtos de raiva, dificuldades de
concentração e um sentimento de futuro abreviado (Manual de Diagnóstico da
Sociedade Americana de Psiquiatria).
“O corpo sofre uma descarga de substâncias
químicas que seguem em níveis elevados dias depois da tragédia e que o deixam
em um estado de hipersensibilidade, ao ponto de o barulho da queda de um garfo
provocar um sobressalto exagerado” – explica o psiquiatra Renato Piltcher, de
Porto Alegre (Zero Hora, 28/07/07).
As
tragédias podem paralisar a energia da vida, isto é, soma e psique se congelam
sob o rigoroso inverno da experiência traumática.
“Lidar
bem com a perda pode significar à pessoa refazer muitos conceitos importantes
em sua vida, que nos ajudam a entender o motivo de tais experiências. O tempo é
necessário para que a pessoa se dê conta da realidade imutável da morte. Posso
dizer que o tempo é um remédio quando ele é um aliado de outros recursos
importantes como: apoio dos amigos, de uma crença religiosa, de uma relação
saudável com o falecido, de boas condições de saúde” – afirma a psicóloga Maria
Helena P. Franco, fundadora do Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o
Luto, da PUC/SP.
Para vivenciar a morte é importante:
engajar os enlutados em causas coletivas, permitir que as famílias se encontrem
para que identifiquem as dores uns dos outros, respeitem o tempo e a reação que
cada um tem em aceitar a morte, entre outras medidas.
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