segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Professor e aluno: vivência ou confronto


             Os profissionais da educação vivenciam constantes desafios em suas lides. O mais importante deles: confrontar-se como adultos com os alunos, as crianças, especialmente, ou, simplesmente, vivenciar a relação aluno-professor.
            Trata-se de um “confronto” porque se se vale de sua autoridade, exerce poder e se distancia de pelo menos um dos melhores propósitos da educação: mostrar-se exemplo de vida em desenvolvimento contínuo, por isso, inacabado, e que exige, humildade, paciência e abertura ao novo. Mas, como vivenciar esta relação?
            O adulto instruído e a criança ignorante é um par de opostos presente na relação professor-aluno. Ao mesmo tempo, o adulto (professor) abriga dentro de si, o aluno (criança). Esta é a sua grande e única motivação para o novo, a criatividade, novas aprendizagens, e não tratar o aluno (criança) como alguém que se opõe a autoridade de seu magistério.
            Existem muitas diferenças entre os adultos (professores) e as crianças (alunos), e que reforçam o estabelecimento do poder entre os dois, mas gostaria de chamar atenção para uma delas, infelizmente, muito pouco observada: os adultos (professores) dedicam a maior parte do tempo na realização de “coisas”, no caso, conteúdo das matemáticas, língua portuguesa, história, geografia e ciências, preparação de materiais pedagógicos, e até se os alunos estão usando uniforme (que tem sido usado pelos políticos como mais uma forma de explorar a pobreza da grande maioria da população, se propondo ao papel de “alfaiate”, de gosto duvidoso, diga-se de passagem), enquanto que as crianças (alunos) estão mais interessadas em aprender como viver no mundo, que se apresenta como verdadeiro obstáculo, sendo muitas vezes, até própria escola e seu ambiente social que faz separação entre os que sabem mais, e os que têm muita dificuldade em aprender, sem ao menos dar atenção aos casos de dislexia, de algum transtorno de aprendizagem e/ou transtorno de atenção, ainda que estejamos em plena “inclusão escolar”. Não que os conteúdos não sejam importantes, mas com certeza, para muitas crianças (alunos) a prioridade está em outra dimensão, como por exemplo: enfrentar os conflitos familiares, lidar com a agressividade e a ausência dos pais, suas tristezas e ansiedades, enfrentar o mal do bullying, as dificuldades de manter-se atento aos conteúdos das aulas apesar da vontade de aprender, manter-se longe das drogas (“lícitas” e “ilícitas”) largamente oferecidas nas escolas ou em suas imediações, e às vezes, presentes em suas casas, etc.
            “Para permanecer emocionalmente vivo, o adulto deve conservar e cultivar o potencial de vida representado pela ingênua abertura e pela irracionalidade das experiências da criança que ainda não sabe nada. O adulto, portanto, nunca para de crescer; para de alguma forma manter a saúde psíquica, é preciso conservar certa ignorância infantil. (...) Um bom professor deve estimular o adulto instruído na criança. Em termos práticos, isso significa, por exemplo, que, ao ensinar, ele não deve perder a espontaneidade, devendo deixar-se conduzir por seus próprios interesses. Seu trabalho consiste não apenas em transmitir conhecimento, mas também em despertar a vontade de aprender nas crianças – o que só será possível se a criança espontânea e ávida de conhecimento estiver viva dentro dele”, afirma o médico e analista junguiano Adolf Guggenbühl-Craig (1923-2008) (O abuso do poder na psicoterapia: e na medicina, serviço social, sacerdócio e magistério. São Paulo: Paulus, 2004, pp. 96-97).

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