Os profissionais da educação vivenciam
constantes desafios em suas lides. O mais importante deles: confrontar-se como
adultos com os alunos, as crianças, especialmente, ou, simplesmente, vivenciar
a relação aluno-professor.
Trata-se
de um “confronto” porque se se vale de sua autoridade, exerce poder e se
distancia de pelo menos um dos melhores propósitos da educação: mostrar-se
exemplo de vida em desenvolvimento contínuo, por isso, inacabado, e que exige,
humildade, paciência e abertura ao novo. Mas, como vivenciar esta relação?
O
adulto instruído e a criança ignorante é um par de opostos presente na relação
professor-aluno. Ao mesmo tempo, o adulto (professor) abriga dentro de si, o
aluno (criança). Esta é a sua grande e única motivação para o novo, a criatividade,
novas aprendizagens, e não tratar o aluno (criança) como alguém que se opõe a
autoridade de seu magistério.
Existem
muitas diferenças entre os adultos (professores) e as crianças (alunos), e que
reforçam o estabelecimento do poder entre os dois, mas gostaria de chamar
atenção para uma delas, infelizmente, muito pouco observada: os adultos
(professores) dedicam a maior parte do tempo na realização de “coisas”, no
caso, conteúdo das matemáticas, língua portuguesa, história, geografia e
ciências, preparação de materiais pedagógicos, e até se os alunos estão usando
uniforme (que tem sido usado pelos políticos como mais uma forma de explorar a
pobreza da grande maioria da população, se propondo ao papel de “alfaiate”, de
gosto duvidoso, diga-se de passagem), enquanto que as crianças (alunos) estão
mais interessadas em aprender como viver no mundo, que se apresenta como
verdadeiro obstáculo, sendo muitas vezes, até própria escola e seu ambiente
social que faz separação entre os que sabem mais, e os que têm muita
dificuldade em aprender, sem ao menos dar atenção aos casos de dislexia, de
algum transtorno de aprendizagem e/ou transtorno de atenção, ainda que
estejamos em plena “inclusão escolar”. Não que os conteúdos não sejam
importantes, mas com certeza, para muitas crianças (alunos) a prioridade está
em outra dimensão, como por exemplo: enfrentar os conflitos familiares, lidar
com a agressividade e a ausência dos pais, suas tristezas e ansiedades,
enfrentar o mal do bullying, as dificuldades de manter-se atento aos conteúdos
das aulas apesar da vontade de aprender, manter-se longe das drogas (“lícitas”
e “ilícitas”) largamente oferecidas nas escolas ou em suas imediações, e às
vezes, presentes em suas casas, etc.
“Para permanecer emocionalmente
vivo, o adulto deve conservar e cultivar o potencial de vida representado pela
ingênua abertura e pela irracionalidade das experiências da criança que ainda
não sabe nada. O adulto, portanto, nunca para de crescer; para de alguma forma
manter a saúde psíquica, é preciso conservar certa ignorância infantil. (...) Um
bom professor deve estimular o adulto instruído na criança. Em termos práticos,
isso significa, por exemplo, que, ao ensinar, ele não deve perder a
espontaneidade, devendo deixar-se conduzir por seus próprios interesses. Seu
trabalho consiste não apenas em transmitir conhecimento, mas também em
despertar a vontade de aprender nas crianças – o que só será possível se a
criança espontânea e ávida de conhecimento estiver viva dentro dele”, afirma o
médico e analista junguiano Adolf Guggenbühl-Craig (1923-2008) (O abuso do
poder na psicoterapia: e na medicina, serviço social, sacerdócio e magistério.
São Paulo: Paulus, 2004, pp. 96-97).
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