domingo, 31 de março de 2013

Água e Páscoa


           Pergunte às atuais gerações se conhecem os afluentes que formam as Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe, que cruzam o município de Marília como: Ribeirão do Alegre, Rio do Pombo, Ribeirão da Prata, Rio Feio, Rio Tibiriçá, e os Córregos Cascatinha, Cascata, Barbosa, Palmital e Ribeirão dos Índios. É bem possível que a resposta será negativa, tal é o descaso para com as condições de nossas águas, além de se tornar uma grande preocupação quanto ao futuro que nos espera.
            Abastecendo a 58 municípios, com uma população de mais de 800 mil habitantes, sendo Marília, Garça, Tupã e Dracena as maiores cidades, o descaso, já está nos levando para algumas consequências muito negativas.
Conforme o Relatório de Situação dos Recursos Hídricos de 2009, do Governo do Estado de São Paulo, elaborado pela Secretaria do Meio Ambiente, nos aponta: somente 4,53% de suas águas têm origem subterrânea e 5,59% na superfície, indicando que precisam de cuidados especiais de preservação para evitar a sua contaminação, pois apenas 38% do esgoto da região atendida pelo Rio do Peixe, são tratados; 50% dos aterros dos municípios que compõem a Bacia do Aguapeí e 69,6% dos aterros dos municípios da Bacia do Peixe são considerados como controlados ou inadequados; quanto a qualidade da água, o relatório afirma: “Segundo Relatório de Qualidade das Águas Interiores (CETESB, 2007) o ponto localizado em Marília (PEIX 02100), apresentou IAP (Índice de Qualidade da Água Bruta para fins de abastecimento público) anual Ruim, devido principalmente ao elevado potencial de formação de trihalometanos e pela presença de chumbo em concentração acima da estabelecida pela legislação” (http://www.comitepcj.sp.gov.br/download/RS/RSESP2007_02AguapeiPeixe.pdf).
            Tratar deste assunto em pleno período de Páscoa parece, no mínimo, estranho. Entretanto, se considerarmos alguns fatores ligados à data, perceberemos que não, como por exemplo: empregada por Jesus na instituição da Eucaristia, lavando aos pés dos seus discípulos, a água é um dos elementos presentes na celebração religiosa, além do pão e vinho; ainda segundo os registros dos evangelistas, o Crucificado, sedento, suplica por água, porém um dos soldados romanos oferece-lhe vinagre, e depois tendo um dos lados feridos com uma lança, saiu-lhe água do corpo; na manhã do domingo, as mulheres que o seguiam levaram água e perfumes para embalsamar o seu corpo; como Ressuscitado, indica aos discípulos que a todos batizem com água.
            E mais ainda, se considerarmos a água como o elemento que nos mantém vivos, e renova a vida de todos os seres vivos, podemos sim, nesta Páscoa, refletir na necessidade de preservar nossas águas, como um bem precioso, que nos garante a existência, mas também, considerar: o que nos leva a desperdiçar tanta água?
            O doutor em psicologia clínica, pela USP, Ricardo Alvarenga Hirata, discutindo sobre o tratamento dado pelos paulistanos ao Rio Tietê, nos ajuda a compreender: “A sombra externalizada na forma de atuações destrutivas, tais como descaso, desperdício de água, despejo de lixo nas ruas, impermeabilizações do solo, etc., precisa ser re-integrada à consciência por meio do reconhecimento das agressões inconscientes ao meio ambiente, as quais, por sua vez, põem em risco o sucesso das atuais políticas públicas” (O rio da alma: Reflexões da ecologia arquetípica sobre o complexo cultural paulistano. Bol. psicol,  São Paulo,  v. 57,  n. 127, dez.  2007. (http://pepsic.bvsalud. org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-59432007000200005&lng=pt&nrm=iso).

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