De todas as
matérias elaboradas pelos mais variados meios de comunicação, religiosos ou
não, acerca dos últimos acontecimentos que envolvem a religião cristã,
especialmente no ocidente, levanta-se a seguinte questão: a religião é um fator
psicológico necessário ao homem contemporâneo?
A resposta
negativa atende a compreensão dos céticos, para quem os referidos eventos não
passam de um espetáculo explorado pela mídia. Para outros, entretanto, sim, a
religião e/ou a fé atende a algumas necessidades psicológicas que vão além de
meros desejos ou “pulsões”, conforme compreende a psicanálise, para quem são aspectos
que revelam o medo de enfrentar a realidade do mundo, enquanto que para outros,
relacionados à psicologia analítica de C. G. Jung, a forte presença da
linguagem simbólica empregada pela mídia, na descrição dos fatos, indica a
atuação de um “instinto” humano necessário à existência.
Em grande parte
do material veiculado pela imprensa, brasileira e internacional, sobre a
situação da Igreja Católica Apostólica Romana e a escolha do Bispo de Roma, há
uma forte presença dos aspectos simbólicos da situação atual da religião na
atualidade, como também, algumas atitudes e palavras do ex-cardeal de Buenos
Aires, Argentina, como: a perda de fiéis, a corrupção financeira no Banco do
Vaticano, as disputas políticas internas na Cúria Romana, apontando para a
gravidade da situação e para as grandes consequências se nada for feito para resolvê-la,
a escolha que Jorge Mario Bergoglio (1936-) fez quanto ao nome Francisco,
destacando a humildade de São Francisco de Assis, da sua “simplicidade” em ter
se curvado diante da multidão que lotava a Praça São Pedro, no último dia 13/03,
por preparar suas próprias refeições, não utilizar das “mordomias” a ele
reservadas, entre outras.
A fala do rabino
Abraham Skorka, reitor do Seminário Rabínico Latino-Americano, com sede na
capital argentina, em entrevista à BBC de Londres, resume a atenção que a mídia
está dando a simbologia deste momento, que todos, católicos ou não, estamos
vivendo: “Sua (de Bergoglio) principal
preocupação parecia ser construir uma imagem que transmitisse uma profunda
mensagem espiritual em um mundo cético e, ao mesmo tempo, que precisa
desesperadamente de fé” (http://g1.globo.com/mundo/ noticia/2013/03/papa-e-homem-sem-eufemismos-diz-amigo-rabino.html).
Ainda
que o objetivo da mídia seja apenas registrar os fatos, sua linguagem comunica
um lado bem menos racional, quando trata do tema da religião e/ou da fé. Na
realidade, revela o “instinto de reflexão”, nas palavras de Jung: “O instinto de reflexão talvez constitua a nota característica e a
riqueza da psique humana” (A Natureza da Psique. Petrópolis: Vozes, 2000, p.
54). O pensar a respeito de nós mesmos e acerca da realidade que nos rodeia é
tão instintual quanto a fome, a sexualidade, a atividade, a criatividade e a
reflexão.
É preciso reconhecer a atuação do instinto
religioso, inegavelmente atuante nestes tempos, para percebermos que existem
outras dimensões, e que contribuem a equilibrar a nossa tendência a
unilateralidade de tudo resolver pela racionalidade. “Um instinto está sempre e inevitavelmente acoplado a
algo semelhante a uma filosofia de vida” (C. G. Jung: A prática da
psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 77).
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