quarta-feira, 20 de março de 2013

Religião como fator psicológico


De todas as matérias elaboradas pelos mais variados meios de comunicação, religiosos ou não, acerca dos últimos acontecimentos que envolvem a religião cristã, especialmente no ocidente, levanta-se a seguinte questão: a religião é um fator psicológico necessário ao homem contemporâneo?
A resposta negativa atende a compreensão dos céticos, para quem os referidos eventos não passam de um espetáculo explorado pela mídia. Para outros, entretanto, sim, a religião e/ou a fé atende a algumas necessidades psicológicas que vão além de meros desejos ou “pulsões”, conforme compreende a psicanálise, para quem são aspectos que revelam o medo de enfrentar a realidade do mundo, enquanto que para outros, relacionados à psicologia analítica de C. G. Jung, a forte presença da linguagem simbólica empregada pela mídia, na descrição dos fatos, indica a atuação de um “instinto” humano necessário à existência.
Em grande parte do material veiculado pela imprensa, brasileira e internacional, sobre a situação da Igreja Católica Apostólica Romana e a escolha do Bispo de Roma, há uma forte presença dos aspectos simbólicos da situação atual da religião na atualidade, como também, algumas atitudes e palavras do ex-cardeal de Buenos Aires, Argentina, como: a perda de fiéis, a corrupção financeira no Banco do Vaticano, as disputas políticas internas na Cúria Romana, apontando para a gravidade da situação e para as grandes consequências se nada for feito para resolvê-la, a escolha que Jorge Mario Bergoglio (1936-) fez quanto ao nome Francisco, destacando a humildade de São Francisco de Assis, da sua “simplicidade” em ter se curvado diante da multidão que lotava a Praça São Pedro, no último dia 13/03, por preparar suas próprias refeições, não utilizar das “mordomias” a ele reservadas, entre outras.
A fala do rabino Abraham Skorka, reitor do Seminário Rabínico Latino-Americano, com sede na capital argentina, em entrevista à BBC de Londres, resume a atenção que a mídia está dando a simbologia deste momento, que todos, católicos ou não, estamos vivendo: “Sua (de Bergoglio) principal preocupação parecia ser construir uma imagem que transmitisse uma profunda mensagem espiritual em um mundo cético e, ao mesmo tempo, que precisa desesperadamente de fé” (http://g1.globo.com/mundo/ noticia/2013/03/papa-e-homem-sem-eufemismos-diz-amigo-rabino.html).
Ainda que o objetivo da mídia seja apenas registrar os fatos, sua linguagem comunica um lado bem menos racional, quando trata do tema da religião e/ou da fé. Na realidade, revela o “instinto de reflexão”, nas palavras de Jung: “O instinto de reflexão talvez constitua a nota característica e a riqueza da psique humana” (A Natureza da Psique. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 54). O pensar a respeito de nós mesmos e acerca da realidade que nos rodeia é tão instintual quanto a fome, a sexualidade, a atividade, a criatividade e a reflexão.
É preciso reconhecer a atuação do instinto religioso, inegavelmente atuante nestes tempos, para percebermos que existem outras dimensões, e que contribuem a equilibrar a nossa tendência a unilateralidade de tudo resolver pela racionalidade. “Um instinto está sempre e inevitavelmente acoplado a algo semelhante a uma filosofia de vida” (C. G. Jung: A prática da psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 77).

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