A entrevista do arquiteto João Filgueiras Lima
(1932-), concedida ao Jornal O Estado de São Paulo (14/03, C6), deve
inspirar-nos neste 83º aniversário de nossa cidade. Abordando o processo de “frankensteinização
urbano” das grandes cidades como São Paulo e Cidade do México, Lima nos alerta
quanto à nossa realidade autóctone. Dono de um currículo que deve fazer inveja
a qualquer arquiteto do País e do mundo, pois colaborou com Oscar Niemeyer (1907-2012),
no projeto e construção da cidade, vários hospitais e o Memorial Darcy Ribeiro em
Brasília/DF, de hospitais da Rede Sarah Kubitschek em Belo Horizonte/MG,
Fortaleza/CE e Rio de Janeiro/RJ, e edifícios públicos como Tribunais de Contas
e Eleitoral em Salvador/BA e Vitória/ES, além de traçados de ruas e avenidas de
outras cidades, suas reflexões são relevantes a todas as cidades que têm a
pretensão de ocupar algum lugar na história da humanidade.
Lima
fala do “envelopamento” de edifícios e os traçados das vias públicas com
visível “mau gosto”, cuja preocupação principal é com “as fachadas, a imagem
para ficar na moda”, devido à falta de bom senso por parte da sociedade e dos
arquitetos que “vão a reboque dessas pressões, não têm uma visão global”, e apresentam
trabalhos que “viram um Frankenstein” a céu aberto; do processo de ocupação e
uso do solo urbano, “feito pelo mercado imobiliário”, com um preocupante
“descompromisso com a cidade”, como: bairros que se caracterizam pela
concentração de renda (condomínios e lojas de grife), e de outro lado, pobreza
generalizada (favelas), “dois mundos diferentes, que convivem de uma maneira
terrível”.
Quando Marília discute alguns
“Frankensteins” que tocam a vida de todos nós, a visão de Lima nos ajuda a enfrentá-los
com sabedoria e responsabilidade, como por exemplo: o destino do lixo, os altos
custos com seu transporte e o devido tratamento aos resíduos tóxicos que
produz; o afastamento e tratamento do esgoto, com o real risco de perder a
autonomia do uso do dinheiro público para empresas interessadas no
enriquecimento à custa do nosso povo; a abertura de novos poços artesianos com
risco de contaminação das águas freáticas; o aumento de taxas e impostos
aprovado pelos vereadores no ano passado, alguns reeleitos, e “é
público e notório, o prefeito eleito Vinícius Camarinha e o deputado federal
Abelardo Camarinha, trabalharam nos bastidores para que o prefeito Ticiano
Toffoli enviasse o projeto da Planta Genérica”, conforme editorial deste Jornal
(29/12/12), que não
ouviram as manifestações do povo em contrário; a falta de transparência nos
negócios da gestão pública, aumentando ainda mais, a desconfiança quanto à
idoneidade dos responsáveis quanto à aplicação dos recursos arrecadados; a
instalação de radares que controlam a velocidade em nossas ruas e avenidas, na
defesa de interesses particulares, podendo criar uma “indústria de multas”; a
contratação de um engenheiro de trânsito, que poderia se inspirar nos trabalhos
do holandês Hans Moderman (1945-2008), que implantou um sistema viário na
cidade de Drachten, na Holanda, “que pode ser reaplicada numa parte do espaço
urbano, se for o caso, em qualquer cidade”, conforme o jornalista Washington
Novaes (O Estado de São Paulo, 22/03/13, A2) – leitura obrigatória a todos os
cidadãos, mas, principalmente, aos que estão diretamente envolvidos com a
questão em Marília.
Neste 83º aniversário,
precisamos experimentar que “uma cidade é feita de relações, da integração”,
conforme João Filgueiras Lima, só assim, é possível enfrentar o Frankenstein,
em nosso caso, enquanto ainda está por perto.
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