domingo, 12 de maio de 2013

A Grande Mãe


           A nossa sobrevivência subjetiva no mundo não depende somente da nossa mãe como pessoa, nem de seu caráter pessoal, mas somos influenciados por um arquétipo, um padrão presente em todos os lugares e tempos históricos. Quer dizer, cada um de nós é como é, graças a uma forma pré-existente de mãe que fortemente, primeiro, atuou em nossos antepassados, sobre nossas mães e depois sobre cada um de nós. O arquétipo da Grande Mãe não pode ser reduzido à nossa mãe pessoal, ou a qualquer outra pessoa que tenha características de mãe, ou faça sua vez.
            Hoje, Dia das Mães, enaltecemos o polo positivo deste arquétipo: a capacidade de gerar a vida, ou seja, a fertilidade; a solicitude e a bondade especialmente nos primeiros momentos de vida, durante o primeiro ano; a sabedoria, muitas vezes intuitiva, nos momentos que buscamos seus conselhos; a proximidade com o Sagrado, considerada como proteção contra os perigos que, diariamente, nos rodeiam.
            Entretanto, como todos os arquétipos, o da Grande Mãe também possui um polo negativo, como pode ser percebido nos famosos contos de fadas dos irmãos Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), “João e Maria” e “Branca de Neve”. Ambos narram a relação mãe-filho: ora a mãe nos leva a vivenciar dificuldades, abandonos, sofrimentos, e a morte – situações metaforizadas na madrasta-mãe, na bruxa travestida de “boa mãe”, ou em nossas “rainhas-mães”.
            Como afirma o médico e psicólogo analítico alemão Erich Neumann (1905-1960): “É à mãe que a criança dirige sua demanda de remoção do medo, e quando o medo não é removido, a mãe é percebida como a mãe “terrível” que recusa” (O medo do feminino. São Paulo: Paulus, 2000, p. 225). Mas, isto não quer dizer que a mãe seja, pessoalmente, culpada por isto. Simplesmente, a criança não tem possibilidades de entender que a mãe é inocente.
            Para Neumann, de a mãe revelar-se “terrível” também é uma experiência arquetípica, pois independe do seu comportamento correto, como é parte do nosso processo de maturidade psicológica.
Quer dizer, necessariamente, as mães “são terríveis” queiram ou não queiram, gostem ou não gostem. É impossível não sê-lo.
Mas, ainda segundo Neumann, se permanecermos cultivando a figura idealizada da boa mãe, o lado positivo do arquétipo, negando seu lado “terrível”, por temer as consequências, como o inevitável sentimento de culpa, não só podemos apresentar “neuroses típicas de ansiedade, e a fobias, mas também, e especialmente, a vícios, e, se o ego for destruído de maneira extensa, a psicoses” (p. 233).
A nossa realização como pessoas depende, e muito, de aceitarmos o lado “terrível” de nossas mães, ou como nos ensinam os contos: encontrar sozinhos o caminho de volta para casa, guiando-nos pela riqueza interna que os sofrimentos nos fazem encontrar, e realizar um trabalho interno com os sentimentos de culpa, enérgica e amorosamente, representado na atuação dos anõezinhos e do príncipe.
Mães, vocês precisam prosseguir em seu próprio desenvolvimento psicológico, e isto passa, necessariamente, em se apresentar aos filhos como uma pessoa com um ego mais forte, menos regressivo ou subdesenvolvido, e neste processo, os seus maridos contribuem para que toda a família seja bem sucedida nesta experiência.

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