“Sentir-se pensado” – para Aldo Carotenuto
(1933-2005), significa: “Senso de proteção que nos livra do medo de pensar por
nós mesmos” (Eros e Pathos: amor e sofrimento. São Paulo: Paulus, 1994).
Carotenuto nos desafia a
refletir sobre viver sob os cuidados de outrem, sem nos dar conta de que isto
precisa ser assimilado à vida consciente.
Se
assim é, consideremos:
“Sentir-se pensado” é aceitar
pacientemente tudo que é dito e acontece como não modificável.
“Sentir-se pensado” é colocar-se passivamente
diante do que é apresentado, sem considerar que poderia ser diferente ou, ao
menos, que “simples” acontecimentos precisam ser experiências transformadoras.
“Sentir-se pensado” é se
excluir do processo e ficar na obviedade.
“Sentir-se pensado” é deixar
que a opinião da maioria ou de alguns se torne a própria.
“Sentir-se pensado” é aceitar
que tudo que se diz que é feito para nós, como se fosse para nosso bem.
“Sentir-se pensado” é não
julgar conforme a própria consciência, por temer a rejeição.
“Sentir-se pensado” é
deixar-se ser conduzido por outros, porque dizem terem “pensado” por nós.
“Sentir-se pensado” é
acreditar que a unanimidade é melhor que a contradição, por temer a dúvida
sobre a escolha do caminho a percorrer.
“Sentir-se pensado” é abrir
mão de existir por conta e risco, sem perceber que nisto está a prova de que a
alma está viva.
“Sentir-se pensado” é deixar
que o outro aponte o certo e o errado, e omitir-se diante dos desafios que se
apresentam.
“Sentir-se pensado” é não
assumir responsabilidades pessoais para seguir as setas culturais, familiares,
sociais e religiosas, ou a falta, delas.
“Sentir-se pensado” é não
deixar de lado as “confirmações”, mas se conformar a elas.
“Sentir-se pensado” é entregar-se
sem cuidados aos que afirmam que cuidam de você.
“Sentir-se pensado” é
acreditar que não há renúncias a fazer, decisões a tomar para que a vida siga
uma direção mais saudável.
“Sentir-se pensado” é viver
como se os outros fossem responsáveis pela sua felicidade e bem estar, e culpá-los
quando isso não acontece.
“Sentir-se pensado” é buscar
por uma referência externa que balize suas decisões, e acreditar ser possível
permanecer inconsciente quanto ao domínio de forças interiores maiores que suas
vontades pessoais, mas que, se trabalhadas, podem ser assimiladas à
consciência.
“Sentir-se pensado” é fugir
da solidão que nos diferencia do coletivo e se confundir ao coletivo que nos
iguala.
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