quarta-feira, 28 de agosto de 2013

XXVI InterQuinta_Jung – Debate

Secretaria Municipal da Cultura e
Centro de Estudos Junguiano de Marília

Convidam:
XXVI InterQuinta_Jung – Debate

         Exibirá o filme: “O Substituto”, seguido de debate.

Sinopse: Henry Barthes é um professor brilhante com um verdadeiro talento para se conectar com seus alunos. Em outro mundo, ele seria um herói para sua comunidade. Mas, assombrado por um passado conturbado, ele escolhe ser professor substituto - nunca na mesma escola por mais que algumas semanas, nunca permanecendo tempo suficiente para formar qualquer relação com os alunos ou colegas. Uma profissão perfeita para alguém que busca se esconder ao ar livre. Quando uma nova missão o coloca numa decadente escola pública, o isolado mundo de Henry é exposto por três mulheres que mudam a sua visão sobre a vida: uma estudante, uma professora e uma adolescente fugitiva.
                                                       
Informações Técnicas:
 Título: O Substituto
Ano de lançamento: 2011
 Recomendação: 16 anos
  Duração: 97 minutos
Direção: Tony Kaye
  Gênero:  Drama
Origem:  EUA 
Elenco: Adrien Brody; Marcia Gay Harden; James Caan; Christina Hendricks; Lucy Liu; Sami Gayle; Blythe Danner

Data da Exibição: 29/08/2013
Horário: 20h00      
Local: Sala de Projeção Municipal, piso superior da Biblioteca Municipal. Entrada pela Av. Rio Branco.

Comentários:

Tânia Maria Tolentino: Pedagoga formada pela Unimar. Especialização em Psicopedagogia pela IBEPEX. Atualmente trabalha como Professora Coordenadora de EMEI na Rede Municipal de Ensino de Marília.

Entrada Franca- Vagas Limitadas

domingo, 25 de agosto de 2013

Família e agressividade

Quanto à participação da família na formação da consciência, Jung afirma: “Quanto menos compreendermos o que nossos pais e avós procuraram, tanto menos compreenderemos a nós mesmos” (Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989, p. 210).
Se quisermos ser mais conscientes de nós mesmos precisamos assimilar os padrões familiares antigos, os arquétipos parentais, isto é, tudo aquilo que nossos avós e pais deixaram de fazer de suas vidas. Porém, se o rejeitarmos, dirigimo-lo para as regiões sombrias da nossa personalidade que nos pode “atacar” sem sermos previamente avisados, e ainda, se tornar patológico causando destruição aos outros e a nós mesmos, como um lobo disfarçado de ovelha e traiçoeiro.
            Uma das coisas que nossos pais e avós procuraram e procuram, por exemplo, é como possuir uma personalidade que sabe lidar positivamente com a agressividade, ainda mais num mundo cada vez mais competitivo no qual nos sentimos obrigados a dar importância ao sucesso e a vencer os outros pelos excessos, em nome da satisfação imediata e sem medir as consequências, mesmo que sejam um vazio de sentido.
Algumas questões, consciente ou inconscientemente, sempre perseguiram nossos avós e pais, e a nós, também: Que destino dar à imaginação para o mal inerente à natureza humana? Como não se tornar num instrumento do mal? Como se pôr em termos às antipatias e inimizades em nossa vida cotidiana? Como lidar com os ressentimentos, ódios, invejas, rancores, raivas, falsidades a começar dentro da nossa própria família?
Para Carlos Amadeu Botelho Byington: “A agressividade é o contra polo da afetividade” (A Agressividade Normal e Patológica: Um estudo da Psicologia Simbólica Junguiana. Anais do 3º Congresso Nacional de Psicoterapia Junguiana. São Paulo: Escola Paulista de Psicologia Avançada, 2008, p. 12).
Ainda para o psiquiatra paulista, educador, historiador e criador da Psicologia Simbólica Junguiana: quando as crianças são agressivas podem estar demonstrando uma forma de alterar, criativa e inteligentemente, o mundo ao redor; que a agressividade patológica não se combate com a ideologia da repressão policial que privilegia o encarceramento e não a educação dos presos; que a agressividade como “função estruturante do ego” deve ser educada e desenvolvida como qualquer outra, isto é, as crianças precisam perceber que na vida existem limites e regras que precisam ser respeitadas para o seu próprio bem e de todo o mundo sem serem castigadas, mas acolhidas e modificando a relação com elas, para que possam aprender a serem saudavelmente agressivas; a agressividade é neurótica quando não tem uma finalidade empreendedora, mas provoca sofrimento, mal-estar, infelicidade e culpa, porque a pessoa não se dá conta do que faz e frequentemente procura encontrar alguém para culpar da adversidade enfrentada; a agressividade é psicopática quando a pessoa pratica o mal conscientemente, sentindo prazer porque acha e sente que está fazendo algo certo; e, a agressividade psicótica é quando a pessoa se comporta de maneira alienada da realidade social, como os casos de crimes passionais homicida-suicida.

Compreender a si mesmo é uma tarefa imposta sobre os nossos antepassados e a nós, implacavelmente.

domingo, 18 de agosto de 2013

O recado das crianças

            As crianças, especialmente as mais novas, envolvem os pais, responsáveis e outros adultos, como professores, psicoterapeutas, médicos, por exemplo, em muitas situações nas quais nos vemos despreparados para responder à altura. Isto acontece porque o inconsciente delas pode irromper subitamente sem que tenhamos tempo e condições para responder-lhes adequadamente, revelando-nos os profundos “mistérios” acerca da nossa vida familiar ou de quem as atende e, às vezes, “segredos pessoais” que procuramos manter sob “sete chaves”. Elas assim o fazem através de várias maneiras que, na maioria das vezes, falsa, insensível e arbitrariamente interpretamos como medos “sem fundamento”, falas “incompreensíveis”, comportamentos “reprováveis”, imagens oníricas “bobas”, garatujas que “sujam” as paredes e/ou desperdiçam folhas de papel, desenhos “indecifráveis”, e etc.
Justiça seja feita: mesmo sem compreender o significado de suas mensagens, as crianças nunca erram em seus “diagnósticos”, não se importando se nos deixam atônitos, confusos, surpresos, desconcertados frente às “convicções” que demonstram.
Precisamos perceber: a linguagem das “travessuras”, inclusive as doenças, objetiva nos atingir não de forma intelectualizada, mas nossa alma e não as “coisas” que esperam ganhar; isto torna a vida humana tão profunda, maravilhosa e repleta de significados que vão além do processo cognitivo cartesiano. Para Jung: “A criança ainda vive em um estado de participação mística com os pais e está exposta aos efeitos que estes geram” (Seminários sobre sonhos de crianças. Petrópolis: Vozes, 2011. p. 397).
                No tocante aos pais, conforme Jung (1875-1961), as “complicações” “involuntárias” das crianças expõem seus (dos pais) problemas não resolvidos, que até então, recusaram assimilar às suas consciências, deixados “em suspenso” como se pudessem adiá-los para um tempo que nunca chega, sem assumi-los como seus, contudo, se quiserem laços familiares mais fortes e saudáveis que empreendam um novo ciclo de vida a todos da casa e para as futuras gerações, principalmente quando a família passa por alguma dificuldade de relacionamento entre os seus membros, é hora de investir energia psíquica no sentido de discernir aquilo de que tanto fogem ou procuram esconder. “Nada exerce maior influência psíquica sobre o meio-ambiente da pessoa, sobretudo das crianças, do que a vida não vivida dos pais” (JUNG, C. G. O espírito na arte e na ciência. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 2).
Não são poucas as experiências não vividas a que os pais “encarregam” os filhos, atribuindo-lhes tudo o que não aceitam em si mesmos, como por exemplo: emoções reprimidas (culpas, ódios, ressentimentos, amor); segredos inconfessáveis (traições conjugais deliberadas, vinganças executadas); emoções frustradas (sucessos não assumidos por falsa modéstia); verdades não assumidas e reconhecidas, ainda que latentes (homossexualidade); desejos e esperanças reprimidos ou adiados que amargam o presente preso ao passado (ânsias por prestígios); dores ou frustrações não elaboradas (sentimentos de inferioridade, questionamentos interiores nunca vencidos).

Especialmente os pais precisam atentar aos “recados” que as crianças nos dão quanto ao nosso próprio mundo, para que não nos apossemos de suas vidas impedindo-lhes que façam suas próprias escolhas, mas sim, que vivam suas vidas próprias, mesmo que sejam melhores do que as nossas.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A real importância dos pais

As experiências pessoais que temos ou tivemos com os nossos pais, no sentido mais amplo possível, nos darão expectativas positivas ou negativas em relação a nós mesmos, às outras pessoas e a vida em geral. Quer dizer, dependendo de como nos relacionamos com o nosso pai, se se nos interessamos por ele, se damos atenção e dedicação que consideramos merecida, ou se nutrimos sentimentos negativos como ódio, rancor, temor ou desprezo, isto influencia, positiva ou negativamente, em nossa maneira de viver. Ou, como diz o médico homeopata e psicólogo analítico Edward Whitmont: “Eu reajo desse ou daquele modo porque isso e aquilo aconteceram entre mim, minha mãe e meu pai” (A busca do símbolo. São Paulo: Cultrix, 1994, p. 249).
            Enquanto crianças, de 0 a 5 anos de idade, os pais influenciam a nossa maneira de viver mediante a “identidade mágica” que temos acerca deles, quando os testamos, adaptando-nos às condições que nos forneciam e experimentando-os em todas as situações familiares e extrafamiliares; depois, até aos 45 anos, mais ou menos, compreendemos que tais influências muitas vezes nos resultaram em perspectivas distorcidas, porém, devido aos sofrimentos que nos causam, procuramos corrigi-las de diversos modos; e, numa terceira fase, dos 45 anos de idade em diante, buscamos por uma ideia pessoal acerca do significado do mistério da existência.
“O modo como os pais exerceram seus próprios impulsos de poder e restrições afetará o padrão do ego da criança. [...] A padronização do ego é modelada pelo progenitor a quem a criança está mais ligada, mas a influência do progenitor do mesmo sexo, quando não é dominante, continuará como uma característica da sombra (qualidades negativas que procuramos esconder). Por exemplo, um pai fraco pode paralisar a força de vontade do filho, muito embora o filho possa conscientemente rebelar-se contra essa fraqueza e ser um empreendedor (modelando assim seu ego conforme o padrão da mãe superativa, que muito provavelmente completará o quadro). Porém, a fraqueza do pai provavelmente aparecerá na tendência inconsciente do filho para tornar-se vítima de ataques de sentimento e de mulheres violentas”, conforme E. C. Whitmont (p. 221).
Neste sentido, para Whitmont, os pais são agentes na separação do ego do Self, isto é, impõe limites aos filhos para que os levem a compreender que as frustrações são importantes e necessárias, evitando assim, que se considerem “reis, rainhas ou princesas” do lar, da escola e do mundo, ao que chama de “inflação do ego”, a ponto de não reconhecerem nenhum senhor acima de si mesmos. Contudo, alerta: “A forma negativa dessa inflação do ego é a má vontade para ‘tocar a bola’ quando a vida não corresponde às nossas expectativas em nossos próprios termos. A inflação negativa surge como depressão e recusa de viver, isto é, recusa de jogar o jogo que não inventamos e cujas regras não podemos ditar” (p. 221).
            Esta é, de fato, a real importância dos nossos pais.

            Os filhos precisam de pais que os ajudem a se conscientizarem de que são responsáveis por suas atitudes e que sempre precisam se controlar, e até mesmo, por mudar a si próprios, para que não se vejam como “vítimas” nas situações que vivem, por confundirem fantasia com realidade.

domingo, 4 de agosto de 2013

Será que precisamos ser como nossos pais?

Tendo em vista o Dia dos Pais, a ser comemorado no próximo domingo, acredito que podemos nos preparar de forma mais consciente, sem nos deixarmos levar, tanto, pelas peças publicitárias.
Em muitas situações da vida sentimos e agimos como nossos pais, quer dizer, parece que enxergamos e interpretamos as nossas próprias circunstâncias, senão através do mesmo ponto de vista deles, muito próximos. Como a gaúcha Elis Regina (1945-1982), cantamos: “Apesar de termos / Feito tudo, tudo, / Nós ainda somos / Os mesmos e vivemos / Como os nossos pais / Nossos ídolos / Ainda são os mesmos”.
Não importa o quanto protestamos contra esta realidade, mas, as experiências vivenciadas que guardamos de nossos pais e as fantasias que elaboramos a respeito deles, estão integralmente agregadas em nossa alma, e nos influenciam tão fortemente, que “as aparências não enganam não”, como encerra a letra de “Como nossos pais”, composta pelo cearense Belchior (1946-).
Durante a nossa vida, nos servimos destas experiências e fantasias como “filtros”, isto é, mediamos as nossas experiências com o resto do mundo, inclusive com os nossos próprios pais, às vezes conscientemente, e, às vezes, somos inconscientes neste processo.
Na linguagem psicológica estamos tratando de “complexos”.
Conforme a psicologia analítica, complexos são: “Núcleos afetivos da personalidade, provocados por um embate doloroso ou significativo do indivíduo com uma demanda ou um acontecimento no meio ambiente, acontecimento para o qual ele não está preparado” (KAST, V. Pais e filhas. Mães e filhos. São Paulo: Loyola, 1997, p. 31).
            A importância deste assunto é crucial, tanto para as filhas quanto para os filhos, principalmente, se os pais acabam por desempenhar como os nossos avós na transmissão dos mesmos padrões limitadores que herdaram, se esquecendo de que podem enriquecer um mundo tão necessitado de portadores de novas mentes.
            “A reflexão sobre a imagem arquetípica do pai nos leva às energias criativas ou destrutivas. O sêmen insemina, seja o útero, o seminário ou a escola. Ele é um princípio ativador. Mesmo não sendo a própria vida, ele precisa ser vigoroso para poder criar. Ele precisa ser, de alguma forma, um espírito inspirador, pois o espírito é o princípio energético da vida. [...] Quando o indivíduo teve a graça de uma benção paterna, um exemplo paterno, ou um sacrifício paterno, ele tem o privilégio de se sentir valorizado, capacitado para as tarefas da vida, e parte de um círculo de afetos conectivos. Quando o sujeito não experimenta essas dádivas mediadas por um pai pessoal ou um substituto, ele se sente incapacitado, e poderá passar toda a sua vida em busca de uma autoridade sucedânea, de uma compensação exagerada através do complexo de poder, ou poderá viver uma vida de inabilidade inconsciente perante seus próprios poderes” (HOLLIS, J. Mitologemas: encarnações do mundo invisível. São Paulo: Paulus, 2005, pp. 55-56).

            Isto nos leva a refletir sobre a mensagem mais importante da canção “Como nossos pais”: “Você que ama o passado e que não vê / Que o novo sempre vem”, não importa a forma, mas sempre como uma paixão que encanta; como uma invenção que move o mundo como o vento impulsiona o cata-vento; como uma nova estação.