Quanto à participação da
família na formação da consciência, Jung afirma: “Quanto menos compreendermos o
que nossos pais e avós procuraram, tanto menos compreenderemos a nós mesmos”
(Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989, p. 210).
Se quisermos ser mais conscientes de nós mesmos precisamos
assimilar os padrões familiares antigos, os arquétipos parentais, isto é, tudo
aquilo que nossos avós e pais deixaram de fazer de suas vidas. Porém, se o
rejeitarmos, dirigimo-lo para as regiões sombrias da nossa personalidade que
nos pode “atacar” sem sermos previamente avisados, e ainda, se tornar
patológico causando destruição aos outros e a nós mesmos, como um lobo
disfarçado de ovelha e traiçoeiro.
Uma das coisas que nossos pais e
avós procuraram e procuram, por exemplo, é como possuir uma personalidade que
sabe lidar positivamente com a agressividade, ainda mais num mundo cada vez
mais competitivo no qual nos sentimos obrigados a dar importância ao sucesso e
a vencer os outros pelos excessos, em nome da satisfação imediata e sem medir
as consequências, mesmo que sejam um vazio de sentido.
Algumas questões, consciente ou inconscientemente, sempre perseguiram
nossos avós e pais, e a nós, também: Que destino dar à imaginação para o mal
inerente à natureza humana? Como não se tornar num instrumento do mal? Como se
pôr em termos às antipatias e inimizades em nossa vida cotidiana? Como lidar
com os ressentimentos, ódios, invejas, rancores, raivas, falsidades a começar
dentro da nossa própria família?
Para Carlos Amadeu Botelho Byington: “A agressividade é o
contra polo da afetividade” (A Agressividade Normal e Patológica: Um estudo da
Psicologia Simbólica Junguiana. Anais do 3º Congresso Nacional de Psicoterapia
Junguiana. São Paulo: Escola Paulista de Psicologia Avançada, 2008, p. 12).
Ainda para o psiquiatra paulista, educador, historiador e
criador da Psicologia Simbólica Junguiana: quando as crianças são agressivas
podem estar demonstrando uma forma de alterar, criativa e inteligentemente, o
mundo ao redor; que a agressividade patológica não se combate com a ideologia
da repressão policial que privilegia o encarceramento e não a educação dos
presos; que a agressividade como “função estruturante do ego” deve ser educada
e desenvolvida como qualquer outra, isto é, as crianças precisam perceber que
na vida existem limites e regras que precisam ser respeitadas para o seu
próprio bem e de todo o mundo sem serem castigadas, mas acolhidas e modificando
a relação com elas, para que possam aprender a serem saudavelmente agressivas;
a agressividade é neurótica quando não tem uma finalidade empreendedora, mas
provoca sofrimento, mal-estar, infelicidade e culpa, porque a pessoa não se dá
conta do que faz e frequentemente procura encontrar alguém para culpar da
adversidade enfrentada; a agressividade é psicopática quando a pessoa pratica o
mal conscientemente, sentindo prazer porque acha e sente que está fazendo algo certo;
e, a agressividade psicótica é quando a pessoa se comporta de maneira alienada
da realidade social, como os casos de crimes passionais homicida-suicida.
Compreender a si mesmo é uma tarefa imposta sobre os nossos
antepassados e a nós, implacavelmente.
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