As experiências pessoais que
temos ou tivemos com os nossos pais, no sentido mais amplo possível, nos darão expectativas
positivas ou negativas em relação a nós mesmos, às outras pessoas e a vida em
geral. Quer dizer, dependendo de como nos relacionamos com o nosso pai, se se nos
interessamos por ele, se damos atenção e dedicação que consideramos merecida,
ou se nutrimos sentimentos negativos como ódio, rancor, temor ou desprezo, isto
influencia, positiva ou negativamente, em nossa maneira de viver. Ou, como diz
o médico homeopata e psicólogo analítico Edward Whitmont: “Eu reajo desse ou
daquele modo porque isso e aquilo aconteceram entre mim, minha mãe e meu pai”
(A busca do símbolo. São Paulo: Cultrix, 1994, p. 249).
Enquanto
crianças, de 0 a 5 anos de idade, os pais influenciam a nossa maneira de viver
mediante a “identidade mágica” que temos acerca deles, quando os testamos,
adaptando-nos às condições que nos forneciam e experimentando-os em todas as
situações familiares e extrafamiliares; depois, até aos 45 anos, mais ou menos,
compreendemos que tais influências muitas vezes nos resultaram em perspectivas
distorcidas, porém, devido aos sofrimentos que nos causam, procuramos
corrigi-las de diversos modos; e, numa terceira fase, dos 45 anos de idade em
diante, buscamos por uma ideia pessoal acerca do significado do mistério da existência.
“O modo como os pais
exerceram seus próprios impulsos de poder e restrições afetará o padrão do ego
da criança. [...] A padronização do ego é modelada pelo progenitor a quem a
criança está mais ligada, mas a influência do progenitor do mesmo sexo, quando
não é dominante, continuará como uma característica da sombra (qualidades
negativas que procuramos esconder). Por exemplo, um pai fraco pode paralisar a
força de vontade do filho, muito embora o filho possa conscientemente
rebelar-se contra essa fraqueza e ser um empreendedor (modelando assim seu ego
conforme o padrão da mãe superativa, que muito provavelmente completará o quadro).
Porém, a fraqueza do pai provavelmente aparecerá na tendência inconsciente do
filho para tornar-se vítima de ataques de sentimento e de mulheres violentas”,
conforme E. C. Whitmont (p. 221).
Neste sentido, para Whitmont,
os pais são agentes na separação do ego do Self, isto é, impõe limites aos
filhos para que os levem a compreender que as frustrações são importantes e
necessárias, evitando assim, que se considerem “reis, rainhas ou princesas” do
lar, da escola e do mundo, ao que chama de “inflação do ego”, a ponto de não
reconhecerem nenhum senhor acima de si mesmos. Contudo, alerta: “A forma
negativa dessa inflação do ego é a má vontade para ‘tocar a bola’ quando a vida
não corresponde às nossas expectativas em nossos próprios termos. A inflação negativa
surge como depressão e recusa de viver, isto é, recusa de jogar o jogo que não
inventamos e cujas regras não podemos ditar” (p. 221).
Esta
é, de fato, a real importância dos nossos pais.
Os
filhos precisam de pais que os ajudem a se conscientizarem de que são
responsáveis por suas atitudes e que sempre precisam se controlar, e até mesmo,
por mudar a si próprios, para que não se vejam como “vítimas” nas situações que
vivem, por confundirem fantasia com realidade.
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