Tendo em vista o Dia dos Pais, a ser comemorado
no próximo domingo, acredito que podemos nos preparar de forma mais consciente,
sem nos deixarmos levar, tanto, pelas peças publicitárias.
Em muitas situações da vida
sentimos e agimos como nossos pais, quer dizer, parece que enxergamos e
interpretamos as nossas próprias circunstâncias, senão através do mesmo ponto
de vista deles, muito próximos. Como a gaúcha Elis Regina (1945-1982), cantamos:
“Apesar de termos / Feito tudo, tudo, / Nós ainda somos / Os mesmos e vivemos /
Como os nossos pais / Nossos ídolos / Ainda são os mesmos”.
Não importa o quanto
protestamos contra esta realidade, mas, as experiências vivenciadas que
guardamos de nossos pais e as fantasias que elaboramos a respeito deles, estão
integralmente agregadas em nossa alma, e nos influenciam tão fortemente, que
“as aparências não enganam não”, como encerra a letra de “Como nossos pais”,
composta pelo cearense Belchior (1946-).
Durante a nossa vida, nos
servimos destas experiências e fantasias como “filtros”, isto é, mediamos as
nossas experiências com o resto do mundo, inclusive com os nossos próprios pais,
às vezes conscientemente, e, às vezes, somos inconscientes neste processo.
Na linguagem psicológica
estamos tratando de “complexos”.
Conforme a psicologia
analítica, complexos são: “Núcleos afetivos da personalidade, provocados por um
embate doloroso ou significativo do indivíduo com uma demanda ou um acontecimento
no meio ambiente, acontecimento para o qual ele não está preparado” (KAST, V.
Pais e filhas. Mães e filhos. São Paulo: Loyola, 1997, p. 31).
A
importância deste assunto é crucial, tanto para as filhas quanto para os filhos,
principalmente, se os pais acabam por desempenhar como os nossos avós na
transmissão dos mesmos padrões limitadores que herdaram, se esquecendo de que
podem enriquecer um mundo tão necessitado de portadores de novas mentes.
“A
reflexão sobre a imagem arquetípica do pai nos leva às energias criativas ou
destrutivas. O sêmen insemina, seja o útero, o seminário ou a escola. Ele é um
princípio ativador. Mesmo não sendo a própria vida, ele precisa ser vigoroso
para poder criar. Ele precisa ser, de alguma forma, um espírito inspirador,
pois o espírito é o princípio energético da vida. [...] Quando o indivíduo teve
a graça de uma benção paterna, um exemplo paterno, ou um sacrifício paterno,
ele tem o privilégio de se sentir valorizado, capacitado para as tarefas da
vida, e parte de um círculo de afetos conectivos. Quando o sujeito não
experimenta essas dádivas mediadas por um pai pessoal ou um substituto, ele se
sente incapacitado, e poderá passar toda a sua vida em busca de uma autoridade
sucedânea, de uma compensação exagerada através do complexo de poder, ou poderá
viver uma vida de inabilidade inconsciente perante seus próprios poderes”
(HOLLIS, J. Mitologemas: encarnações do mundo invisível. São Paulo: Paulus,
2005, pp. 55-56).
Isto
nos leva a refletir sobre a mensagem mais importante da canção “Como nossos
pais”: “Você que ama o passado e que não vê / Que o novo sempre vem”, não
importa a forma, mas sempre como uma paixão que encanta; como uma invenção que
move o mundo como o vento impulsiona o cata-vento; como uma nova estação.
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