Você já perguntou para alguma criança o
que ela acha do modo como é tratada pelos adultos, principalmente, quando é
apanhada em algum comportamento inadequado?
Pergunte! Mas,
não saia de perto nem a deixe falando sozinha. Ouça tudo o que ela tem para
dizer. E, tenha coragem, por que vai ouvir verdades que só ela conhece.
Para Andrés
Felipe Bedoya, colombiano de oito anos de idade, adulto é: “Pessoa que em toda
coisa que fala, fala primeiro dela mesma”, em “Casa das estrelas: o universo
contado pelas crianças”, de Javier Naranjo, (http://www.bbc.co.uk/portuguese /noticias/2013/05/130518_dicionario_criancas_colombia_aw_cc.shtml).
Bedoya nos conta
uma verdade, longe de ser ingênua e/ou idealizada: criança é aquilo que
julgamos que ela é segundo os nossos padrões. Entretanto, se formos honestos,
verificaremos que muitas vezes, são padrões ultrapassados, e pior,
consideramo-los inquestionáveis. Provavelmente, se tivessem oportunidade, as
crianças diriam o mesmo que Ana Luisa, certa vez, aos cinco anos, disse: “Pai,
fale comigo. Eu preciso falar. Minha cabeça tá cheia de palavras” (LIMA FILHO,
A. P. O pai e a psique. São Paulo: Paulus, 2002, p.495). Quantos estão dispostos
a não enjeitar as “palavras”?
Cabe-nos
perceber, entretanto, que contínua, às vezes, desesperadamente, devido às
condições em que encontram a família, o país e a humanidade, as crianças nos
comunicam suas “verdades” através de palavras, desenhos, gestos,
comportamentos, omissões, os estágios do seu desenvolvimento como pessoa, como
um indivíduo que está em franco confronto com os distúrbios do mundo psíquico
dos pais, e com o inconsciente coletivo com que se depara em seus sonhos e
fantasias, nos quais podem se perder, na construção de uma identidade própria e
única: “Eu sou eu, e não você”.
“Esse processo
interno precisa de pessoas que o acompanhem, com as quais o indivíduo possa se
relacionar: pessoas que compreendam, confrontem, encorajem, façam demandas,
limitem, deem fundamento, etc” (JACOBY, M. Psicoterapia junguiana e a pesquisa
contemporânea com crianças: padrões básicos de intercâmbio emocional. São
Paulo: Paulus, 2010, p. 59).
Como as crianças
podem lidar melhor com suas angústias, sem comportamentos inadequados, por
exemplo, se não lhe oferecemos um ambiente acolhedor, facilitador, nos quais se
sintam pessoas e não objetos? Para quem, senão aos adultos, as crianças podem
expressar suas emoções subjetivas, como, por exemplo, quando se sentem
deprimidas ou chateadas, uma falta de autoestima, uma ansiedade que não sabem
explicar, um vazio interno muito grande, ou uma completa falta de sentido
percebido no mundo no qual exigimos existir? Como, podem lidar com a “segunda
pessoa” que as habita, isto é, como expressar as sombras pessoais e coletivas,
sem se perderem de si mesmas em seus instintos não-diferenciados pela educação?
Será que a nossa melhor resposta é responsabilizá-las pela nossa negligência,
poupando-as de frustrações e das limitações inerentes à natureza humana,
forçá-las a crescer a agir como nós, prescrever-lhes medicamentos?
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