“Polícia neles!” – assim muitos reagiram aos “rolezinhos”.
Por que chamar a polícia? Desejo por mais repressão? Entretanto é bom lembrar que há exatos 50 anos (1964), a polícia foi usada para sufocar alguns movimentos sociais que, na época, igualmente, eram interpretados como “barbárie, anarquia, rompimento com o capitalismo, confronto à ordem econômica e social da sociedade”.
Será que não podemos reagir de maneira socialmente mais responsável a esta questão, como também aos protestos programados que prometem perturbar a “cultura” do consumo, do “espetáculo” da Copa do Mundo e o “circo” das eleições?
Temos de enfrentar estas e outras situações nacionais que refletem em nosso cotidiano local com autocrítica e reflexão maduras.
Segundo Jessé Souza, sociólogo e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora: “O problema real não é nem da polícia nem das autoridades. É o apartheid social entre a classe média europeizada e as classes populares. Esse apartheid criou o tipo de polícia e a cultura da violência que temos”. E, adensando mais a questão, Souza nos lembra que a classe média detém e espera que as classes populares consumam os bens político-cultuais que produz, não decide mais as eleições majoritárias no Brasil e, promove uma pobreza moral e política de ideias porque: “desconhece que sem autoconfiança, autoestima e reconhecimento social, não existe comportamento econômico racional” (O role da ralé. O Estado de São Paulo: 19/01/14, p. E2).
A raiz do problema apontado por Souza é psicológica – a divisão entre pobres e ricos e a indiferença que gera a falta de compromissos efetivos com as condições de vida que tocam a todos nós – é a parte externa de uma realidade interna.
Trata-se do Complexo de Poder, conforme a psicologia de Carl Gustav Jung.
Complexo é uma “entidade autônoma dentro da psique” (A Natureza da Psique. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 57). Isto é, muitos dos nossos comportamentos podem ser controlados por uma energia psíquica que transborda do inconsciente, causando-nos uma desarmonia muito grande em nós e, consequentemente, com todos ao redor.
Os “sintomas mentais” do Complexo de Poder se caracterizam por: egocentrismo narcísico (para exercer o poder, as necessidades alheias tendem a ser ignoradas), autoritarismo, intolerância à contradição, competitividade, apego ao Poder, acúmulo de riqueza, fala com ar de comando, corrupção, inveja, baixa tolerância a frustração, ostentação, aversão aos símplices, ambição, delírio de grandeza, etc.
Consumir é uma das emoções que mais nos tem deixado inflados, verdadeiramente “possessos”. Ricos e pobres “ficam fora de si mesmos” quando o assunto é comprar. O consumismo, a que o sistema econômico sob o comando dos governos nos impõe, é uma das faces mais visíveis do Complexo de Poder. Consequência: fraco espírito de solidariedade e pouca responsabilidade político-social.
Polícia neles? Não. As Polícias têm muitas outras tarefas que precisam ser desempenhadas. Precisamos, sim, “policiar” ao nosso próprio Complexo de Poder.
“A regra psicológica diz que, quando uma situação interior não é conscientizada, ela acontece fora, como sina. Quer dizer, quando o indivíduo permanece não dividido e não se conscientiza de suas contradições internas, o mundo tem forçosamente de representar o conflito e ser rasgado em duas metades opostas”, Jung (DVD – Matter of heart).
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