A mãe, ou alguém que a substitua, é
para a criança não só a sua condição prévia física, mas também psíquica,
conforme Carl Gustav Jung (1875-1961), em “Os arquétipos e o inconsciente
coletivo. (Petrópolis: Vozes, 2000, p. 109). A mãe é a primeira fonte de alimento,
calor, proteção e ternura em todos os setores da vida da criança.
“O bebê vive psicologicamente dentro
da mãe durante seu primeiro ano de vida, como viveu fisicamente antes do
nascimento”, conforme o psicólogo analítico, escritor e um dos mais talentosos
alunos de Jung, Erich Neumann (1905-1960), em seu “O medo do feminino” (São
Paulo: Paulus, 2000, p. 221).
A mãe, então, tem uma posição tão
significativa, “transpessoal, arquetípica”, isto é, ela reúne em uma só pessoa
“o mundo e o eu” do filho, quer dizer, a mãe “engloba, contém e dirige a nossa vida”,
conforme Neumann.
Para este autor, se os animais
adquirem uma independência própria logo após o nascimento, o mesmo não acontece
com os seres humanos. Só depois do primeiro ano de vida adquirimos um senso de
estabilidade, liberdade e inteligência, isto é, independência, sentimento de
importância que tem no mundo, de alguém que existe e pode sobreviver sem a idealização
da mãe.
A mãe fornece os primeiros laços do
filho com ele próprio, e isto é fundamental para a sua (do filho) sobrevivência
como um ego promissor que se desenvolve diante das realidades que passa a
conhecer com segurança em si mesmo quando ela “falha”, por exemplo, se
ausentando e, além de compreendê-la aprende a atender a si mesmo, constrói um
“ego heroico”, isto é, assume os riscos, os perigos e os sofrimentos próprios,
descobre a própria individualidade.
Quando este processo é evitado,
preferindo-se permanecer no conforto dos braços da mãe a enfrentar as batalhas
pessoais, ou a mãe impede o desenvolvimento do filho, mantendo-o ligado a ela, motivada
por questões próprias não assumidas, favorece-se a ativação de processos
psíquicos terríveis, isto é, a situação externa desencadeia um processo
psíquico, no qual certos conteúdos se juntam e dispõem à ação, mas sob a
influência de uma energia que não é deles, mas dos próprios conteúdos, como:
cansaços e desistências frente às dificuldades, escapismos e/ou procrastinações;
medo do mundo externo e interno; ansiedade; vícios (dependências químicas,
jogos de azar, etc); psicoses; e, “coletivamente, isto pode ser expresso
externamente por uma guerra não evitada, ou uma ditadura não evitada”, segundo
Neumann (p. 233).
Uma “boa mãe” percebe quando o filho
quer ser ele mesmo, e não só permite como facilita este processo de libertação,
desprende-se do filho afastando-se para o seu progresso, guardando no coração a
experiência de não dominar a situação.
E, o pai ou o seu substituto, qual a
sua função? “A ausência de uma figura paterna tem efeito destruidor no
desenvolvimento do ego da criança, independentemente de se a causa dessa
ausência está numa fraqueza de caráter ou numa doença, de se ele é atraído para
fora de casa pelo trabalho ou por um caso extraconjugal, ou está “ausente” em
virtude de morte ou de guerra. O efeito sobre a criança é sempre negativo,
visto que a situação familiar especifica da espécie não é atendida” (Neumann,
p. 238).
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