Fantasiar ou
imaginar não goza de bom conceito, especialmente, quando refletimos quanto aos
avanços tecnológicos que nos parecem terem saído de mentes racionais
brilhantes. É que nossas fantasias carecem de “provas científicas”.
Entretanto, mesmo não sendo possível
“prová-las cientificamente”, fantasiar ou imaginar sempre fez bem a psicologia
humana e, isto deveria nos ser suficiente.
Não precisamos provar se nossas
fantasias (religiões, mitos, lendas, etc) são verdades absolutas, ou não. O que
podemos concluir é que aqueles que se voltam contra a fantasia, a imaginação,
se desesperam diante da morte, sentem-se desenraizados, desorientados, diante
da falta de sentido da sua existência.
Quando fantasiamos: inventamos,
diminuímos, distorcemos, superamos, extravasamos, fortalecemos, suportamos
melhor a realidade. A fantasia nos sensibiliza e nos põe em movimento, intuitiva
e criadoramente, a buscar por experiências de maiores significados, para soluções
que não vemos no momento.
Fantasiar ou imaginar quebra os
padrões do pensamento dominante, ainda que científico, mas que nos deixam
imóveis. Fantasiar ou imaginar nos coloca diante de novos conceitos que nos
colocam em um desenvolvimento mais dinâmico.
“Esse espetáculo da velhice seria
insuportável se não soubéssemos que nossa psique atinge uma região imune à
mudança temporal e à limitação espacial. Nessa forma de ser nosso nascimento é
uma morte, e nossa morte é um nascimento. Os pratos da balança se equilibram”
(JUNG, citado por VON FRANZ, M. L. Os sonhos e a morte: uma interpretação
junguiana. São Paulo: Cultrix, 1996, p. 178).
Viver é manter livre e selvagem a “região
imune à mudança temporal e à limitação espacial”, a que a velhice impõe tão
severamente, com a permissão de algumas pessoas. É ser “rico de invenção”, como
afirmou Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) acerca de Cora Coralina
(1889-1985), que somente aos 76 anos de idade lançou seu primeiro livro “Vintém
de Cobre”, que mesmo sendo idosa, escreveu: “Procuro superar todos os dias
minha própria personalidade renovada, despedaçando dentro de mim tudo que é
velho e morto. Venho do século passado e continuo nascendo diariamente”
(DEBÓFRIO, D. F. Cora Coralina: melhores poemas. 2ª Ed. São Paulo: Global, 2004,
p. 224).
Viver é saber que é preciso
manter-se no processo pessoal de crescimento, que procura harmonizar o
inconsciente com o consciente, ainda que por fora, pouca coisa contribua para
alcançar e chegar até ao fim.
Ou ainda, fantasiar e imaginar são
explicados pelo filho que disse à mãe como o seu pai ensinou-lhe a dormir: “Eu
me deito na cama e fecho os olhos, então imagino e começo a me sentir como se
estivesse dentro de uma banheira com água morna, meu corpo vai ficando mole e
pesado como se me esquecesse dele. E enquanto isso meus pensamentos são como
bolhas de sabão que saem de dentro da banheira, ficam por ali flutuando um
tempo e depois se vão, podendo ou não aparecer outra bolha de pensamento. Daí
durmo...” (AMORIM, L. P. C. A importância da função imaginativa. Anales del I
Congreso Latinoamericano de Psicologia Junguiana. Puenta Del Leste, Uruguay,
1998).
Você tem medo de viver? Fantasie ou imagine!
Viver é fazer “bolhas de sabão”.
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