terça-feira, 11 de dezembro de 2012

‘Tá nervoso?’ Fale, não se cale!


Não é novidade para ninguém que a depressão a que os professores estão sujeitos, muitas vezes causada pela irritação vivenciada no exercício do magistério, é uma realidade que precisa ser enfrentada com todas as nossas energias, ao menos para ser compreendida em sua exata medida, como também, o seu devido tratamento.
Lamentavelmente, estranha-se, contudo, que há aqueles que não admitem que a irritação seja uma das fontes geradoras do transtorno depressivo. Isto se verifica entre os responsáveis pela administração do processo de ensino-aprendizagem, quer de escolas públicas ou privadas, pois muitos de seus programas, resoluções e portarias se ocupam de meras questões burocráticas e, mais graves, pelas descabidas omissões, revelando uma verdadeira sabotagem ao próprio sistema de educação, gerando prejuízos não somente humanos, aos professores e funcionários das escolas, aos alunos a quem os programas se dirigem, em alguns casos irreversíveis, pois não são insignificantes os casos de suicídio, como também, financeiros, devido aos altos índices de absenteísmo e licenças médicas, a quem têm direito os pacientes.
Sabemos que não é possível viver sem que absolutamente nada nos irrite, mas participar de um ambiente no qual a irritação é constante, durante horas, pode tornar enfadonho a realização de qualquer trabalho, e em especial aquele que envolve uma relação interpessoal tão intensa, como o de ensinar.
Mas, como compreender quando a irritação chega à agressão física e/ou verbal entre os alunos e seus colegas, ou entre os mestres e alunos, de tal modo a prejudicar a relação aluno-aluno e professor-aluno, como a imprensa veicula com certa frequência, a ponto de provocar um distanciamento físico e emocional, porque ambos os lados ficam dominados pelo sentimento da raiva?
É preciso, antes de tudo, verificar os motivos, às vezes, inconscientes, que levam a esta situação.
Conforme o professor titular das cadeiras de medicina social e de fundamentos médicos de pedagogia terapêutica na Escola Superior Católica NW, de Münster (Alemanha), Thomas Hülshoff: “Do ponto de vista psicológico nos irritamos sempre que não conseguimos atingir um objetivo, satisfazer um desejo ou quando nossa autoestima é atacada” (Louco de raiva. Revista Viver Mente&Cérebro. São Paulo: Duetto Editorial, Nº 140, 2004, p. 68).
Quer dizer, por que nos agredimos: porque vemos frustradas as expectativas pessoais, ou as que foram estabelecidas pelos burocráticos; por que sentimos ameaçado o poder que presunçosamente acreditamos possuir sobre o conteúdo das aulas ou sobre as próprias pessoas; ou, por que queremos restabelecer a nossa autoestima, movidos por vingança?
Entretanto, Hülshoff adverte: quanto mais claro comunicarmos que estamos irritados com alguma coisa, menores as chances para os conflitos agressivos e/ou violentos.
Além de cumprir as demais obrigações, cabe aos professores mais esta tarefa: para não ficarmos deprimidos, precisamos ajudar aos alunos, aos colegas e, quem sabe, até aos responsáveis pelo cumprimento das obrigações burocráticas, e por fim, a  nós mesmos, a comunicar se estão irritados. ‘Tá nervoso?’ Fale, não se cale!

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