A
Comissão Nacional da Verdade (CNV), criada pela Lei nº 12528/2011, e instituída
em 16/05/12, tem estimulado a muitas pessoas e seus familiares a relatarem, na
maioria das vezes com muita emoção, os sofrimentos experimentados durante os
anos de ditadura militar entre os anos 1946-1988. Exemplo: depoimentos da
cineasta Lúcia Murat, e da historiadora Dulce Pandolfi. (Vale conferir em: http://www.territorioeldorado.limao.com.br/noticias/not269194.shtm).
Segundo John R.
van Eenwyk, da Universidade de Medicina de Washington e diretor do International Trauma Treatment
Program (ITTP): “O principal objetivo da
tortura é perturbar, senão destruir a continuidade da vida (entes queridos foram
mortos, culturas destruídas, relacionamentos danificados, meios de subsistência
eliminados), a tal ponto que a remediação ou é extremamente cara (em termos
financeiros, de tempo e esforços), ou simplesmente, impossível. A tortura,
efetivamente, elimina qualquer vestígio de confiança que existe nos
sobreviventes, em sua capacidade de controlar os impulsos da vida” (http://www.cgjungpage.org/index2.php?option=com_content&task
view&id=183&pop=1&page=0&Itemid=40).
É importante, para o
bem-estar psicossocial do País, considerar que o trabalho da CNV é uma
tentativa de restabelecer as pontes político-sociais destruídas pela força do
Estado contra milhares de cidadãos, como oportunidade de a psique/alma nacional
estabelecer símbolos de compensação contra as atrocidades cometidas em nome da
lei e/ou dos que comandavam as ações de repressão. Quer dizer: o legado da CNV
será um símbolo a mais para que tais práticas NUNCA MAIS encontrem lugar em
nossa, tão nova quanto sofrida, democracia.
Enquanto a consciência
procurava se adaptar à vida como se nada tivesse acontecido, o inconsciente aguardava
o momento mais propício - e nunca é tarde demais para rever e reaver a história
- para revelar o que muitos buscavam esquecer ou que, simplesmente, fosse
esquecido. E, isto aconteceu, por que: “O inconsciente contém todas as
combinações de fantasia que ainda não ultrapassaram o limiar de intensidade,
mas que, com o decorrer do tempo e em circunstâncias favoráveis, entrarão no
campo luminoso da consciência”, de acordo com C. G. Jung (1875-1961), em A
natureza da psique (Petrópolis: Vozes, 2000, p. 1).
A psique/alma busca
autorregular-se aos acontecimentos externos, e vice-versa, diante das
dificuldades que nos surgem, graças à capacidade irreprimível de fantasiar, ou
seja, de imaginar ativamente como a vida pode melhorar, com o propósito de
evitar males maiores como a depressão, ressentimentos, desprezo pela
criatividade, permanência na baixeza da natureza humana, ansiedade, medo,
culpa, perda de uma espiritualidade viva e que oferece sentido à vida,
desenvolvimento da energia vital, afetos extremados, como a violência, por
exemplo. Mais uma vez, conforme Jung: “A psique não apenas reage, ela dá sua
resposta própria às influências que atuam sobre ela” (Freud e psicanálise.
Petrópolis: Vozes, 1989, p. 278).
Tanto os sobreviventes quanto
os agentes da repressão, e/ou familiares de ambos, à maneira de cada um, têm
reagido emocionalmente aos terrores sofridos e perpetrados. Aqueles pela
humilhação sofrida resgatando a autoestima, os outros pelo reconhecimento de
terem participado em atos de violência contra os direitos humanos, em sinal de
autocrítica visando a integração do lado sombrio da sua psique.
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