Não existe ser humano absolutamente imune à
hostilidade, pois esta integra a base da nossa personalidade. Como impulso
agressivo pode concretizar-se como algo destrutivo, ou não. Trata-se de um comportamento
emocional que se manifesta por afetos de raiva, fúria, ódio, agressividade,
raiva, quer dizer, quando nos sentimos, física e mentalmente, subjugados.
Entretanto, quando manifestados, sinalizam que precisamos integrá-los à
consciência.
Os
estudos acadêmicos não apontam para uma descrição precisa destes afetos, talvez
porque demonstração deste fator inconsciente seja bastante variável, desde um
“simples” incômodo, ressentimento, impaciência ou irritação, até a um ataque
explosivo de ira ou raiva, que gera grandes prejuízos psicossomáticos como
hipertensão arterial, gastrite, esofagite, doenças cardíacas, depressão (como
abordamos neste espaço em novembro e dezembro de 2012 – disponível em:
psijung.blogspot.com), e do sistema nervoso autônomo, quando voltada para
dentro do indivíduo; mas, em pessoas feridas, mesmo “queridas”, como crianças e
idosos, familiares, amigos e vizinhos, namoradas e esposas e, infelizmente,
muitas vezes, em pessoas feridas e mortas, quando externalizada descontroladamente.
Muito
pouco pode ser feito contra um povo que se encontra em estado de enfurecimento,
“homens-feras”, como entende C. G. Jung (1875-1961), em “Aspectos do drama
contemporâneo” (Petrópolis: Vozes, 1988), ao analisar a vivência do povo alemão
durante o regime hitlerista, que levado por um instinto irracional, resultou
num rebaixamento cultural sem precedentes na história da humanidade.
Ao
olharmos para os últimos fenômenos sociais brasileiros, nas ruas e no campo, como
o emprego da força violenta e truculenta, conforme a opinião de alguns juristas,
acerca dos processos de reintegração de posse e desocupação de terras Terena em
Sidrolândia, MS, que resultou na morte do índio Oziel Gabriel (parente ligado a
uma família amiga), no último dia 30 de maio, e na aldeia Teles Pires, na
divisa do Estado do Pará e de Mato Grosso, com assassinato do índio Adenilson
Kirixi Munduruku, em um combate de garimpo ilegal, no ano passado, e pelas
manifestações do Movimento Passe Livre, que reivindicam maior transparência nos
ajustes dos preços dos bilhetes das empresas de transporte urbano, em várias
capitais do País, e tantos outros casos em nossas famílias, locais de trabalho
e cidade, vemo-nos “possuídos” ou subjugados - governantes, usuários e
proprietários das empresas envolvidas, indígenas, manifestantes e policiais
(Polícia Militar e Polícia Federal) - por forças sobre-humanas enraizadas em nossas
profundezas psíquicas, dispostas a tudo, sem medir as consequências, a ponto de
os meios de comunicação, nacionais e internacionais, empregarem uma linguagem
bélica militar, para descrever os acontecimentos, como: “campos de guerra”, “bombas”,
“batalha principal”, “Tropa de Choque”, “disparos de balas”, “barricadas”,
“confronto”, “cantos de guerra”, “bloqueio”, “reféns”, “vítimas”, ao se referir
aos locais das manifestações e aos envolvidos.
O
melhor caminho na solução de quaisquer conflitos, sem gerar consequências
desastrosas dos afetos descontrolados de fúria, ódio, raiva, agressividade, não
é pela repressão policial e política, no caso em questão, mas de todas as
partes envolvidas, integrá-los da maneira mais consciente e racional possível.
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