domingo, 16 de junho de 2013

A fúria humana no campo e nas ruas

          Não existe ser humano absolutamente imune à hostilidade, pois esta integra a base da nossa personalidade. Como impulso agressivo pode concretizar-se como algo destrutivo, ou não. Trata-se de um comportamento emocional que se manifesta por afetos de raiva, fúria, ódio, agressividade, raiva, quer dizer, quando nos sentimos, física e mentalmente, subjugados. Entretanto, quando manifestados, sinalizam que precisamos integrá-los à consciência.
            Os estudos acadêmicos não apontam para uma descrição precisa destes afetos, talvez porque demonstração deste fator inconsciente seja bastante variável, desde um “simples” incômodo, ressentimento, impaciência ou irritação, até a um ataque explosivo de ira ou raiva, que gera grandes prejuízos psicossomáticos como hipertensão arterial, gastrite, esofagite, doenças cardíacas, depressão (como abordamos neste espaço em novembro e dezembro de 2012 – disponível em: psijung.blogspot.com), e do sistema nervoso autônomo, quando voltada para dentro do indivíduo; mas, em pessoas feridas, mesmo “queridas”, como crianças e idosos, familiares, amigos e vizinhos, namoradas e esposas e, infelizmente, muitas vezes, em pessoas feridas e mortas, quando externalizada descontroladamente.
            Muito pouco pode ser feito contra um povo que se encontra em estado de enfurecimento, “homens-feras”, como entende C. G. Jung (1875-1961), em “Aspectos do drama contemporâneo” (Petrópolis: Vozes, 1988), ao analisar a vivência do povo alemão durante o regime hitlerista, que levado por um instinto irracional, resultou num rebaixamento cultural sem precedentes na história da humanidade.
            Ao olharmos para os últimos fenômenos sociais brasileiros, nas ruas e no campo, como o emprego da força violenta e truculenta, conforme a opinião de alguns juristas, acerca dos processos de reintegração de posse e desocupação de terras Terena em Sidrolândia, MS, que resultou na morte do índio Oziel Gabriel (parente ligado a uma família amiga), no último dia 30 de maio, e na aldeia Teles Pires, na divisa do Estado do Pará e de Mato Grosso, com assassinato do índio Adenilson Kirixi Munduruku, em um combate de garimpo ilegal, no ano passado, e pelas manifestações do Movimento Passe Livre, que reivindicam maior transparência nos ajustes dos preços dos bilhetes das empresas de transporte urbano, em várias capitais do País, e tantos outros casos em nossas famílias, locais de trabalho e cidade, vemo-nos “possuídos” ou subjugados - governantes, usuários e proprietários das empresas envolvidas, indígenas, manifestantes e policiais (Polícia Militar e Polícia Federal) - por forças sobre-humanas enraizadas em nossas profundezas psíquicas, dispostas a tudo, sem medir as consequências, a ponto de os meios de comunicação, nacionais e internacionais, empregarem uma linguagem bélica militar, para descrever os acontecimentos, como: “campos de guerra”, “bombas”, “batalha principal”, “Tropa de Choque”, “disparos de balas”, “barricadas”, “confronto”, “cantos de guerra”, “bloqueio”, “reféns”, “vítimas”, ao se referir aos locais das manifestações e aos envolvidos.
            O melhor caminho na solução de quaisquer conflitos, sem gerar consequências desastrosas dos afetos descontrolados de fúria, ódio, raiva, agressividade, não é pela repressão policial e política, no caso em questão, mas de todas as partes envolvidas, integrá-los da maneira mais consciente e racional possível.

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