No
princípio ficamos surpresos, perplexos e assustados. Depois, alguns reprimiram
e repudiaram. Mas, agora o espírito de simpatia às ideias, a solidariedade ao
movimento e o desejo de sair às ruas e juntar-se aos protestos por melhores
condições de vida, está cada vez mais forte. E, tudo indica que está longe de
esfriar. Com veemência, o povo brasileiro revela-se destemido.
É bom lembrar que as
exigências não ficaram apenas contra os aumentos das passagens dos meios de
transporte, mas que outras causas não foram esquecidas como: o combate aos
corruptos, o fim do mau uso do dinheiro público (o próprio governo admite que
as despesas com a Copa do Mundo, “por enquanto, estão em 28 bilhões de reais”),
a não aprovação da PEC 37 (que retira o Ministério Público das investigações em
casos de infrações penais), acessibilidade a um sistema de transporte mais
decente, e mais investimentos em serviços públicos, especialmente, educação e
saúde.
A
mensagem das ruas é muito clara: queremos participar dos processos que decidem
a nossa qualidade de vida, como cantamos com os Titãs: “A
gente não quer
só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade...”; que as manifestações precisam ser pacíficas, sem vandalismo nem violência, mas isto não significa a manutenção da ordem das coisas que aí está antes, precisam ser radicalmente alteradas; e, para o desespero da maioria da classe dos políticos, já sabemos em quem não vamos votar nas próximas eleições.
só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade...”; que as manifestações precisam ser pacíficas, sem vandalismo nem violência, mas isto não significa a manutenção da ordem das coisas que aí está antes, precisam ser radicalmente alteradas; e, para o desespero da maioria da classe dos políticos, já sabemos em quem não vamos votar nas próximas eleições.
Ainda
é muito cedo para afirmarmos que símbolo será produzido ao final de toda esta
movimentação social e de cidadania, que a psique coletiva está engendrando no
povo brasileiro.
Por enquanto, parece-me muito
com o que afirmam Antônio Carlos Jobim e Edu Lobo em “Vento bravo”: “Era um cerco bravo, era um palmeiral / Limite do escravo entre o bem e o
mal / Era a lei da coroa imperial / Calmaria negra de pantanal / Mas o
vento vira e do vendaval / Surge o vento bravo, o vento bravo / Era
argola, ferro, chibata e pau / Era a morte, o medo, o rancor e o mal /
Era a lei da Coroa Imperial / Calmaria negra de pantanal / Mas o
tempo muda e do temporal / Surge o vento bravo, o vento bravo / Como um
sangue novo / Como um grito no ar / Correnteza de rio / Que não
vai se acalmar / Vento virador no clarão do mar / Vem sem raça e cor,
quem viver verá / Vindo a viração vai se anunciar / Na sua voragem,
quem vai ficar / Quando a palma verde se avermelhar / É o vento
bravo / O vento bravo / Como um sangue novo / Como um grito no
ar / Correnteza de rio / Que não vai se acalmar / Que não vai se
acalmar”.
Como
não sabemos de onde o vento vem, nem para onde vai, é bom considerar que se
trata de um sopro, forte e cego para alguns, especialmente para os que o temem,
mas, segundo a sabedoria dos povos antigos, pode ser mensageiro divino, de boas
e novas transformações sociais, políticas, culturais, psíquicas e espirituais.
É preciso internalizar este
fato histórico se quisermos que os acontecimentos façam parte de nossa experiência,
pois somente um povo experiente pode organizar melhor suas reivindicações,
evitar os erros do passado, manter viva a vontade de cidadãos que rejeitam as
propostas daqueles que se julgam capazes de nos vestir, nos alimentar, nos
divertir, tornando-nos seus dependentes, enquanto buscam beneficiar-se da
situação.
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