“Mesmo
um grupo pequeno é regido por um espírito sugestivo de grupo que, sendo bom,
pode ter efeitos sociais benéficos, às custas no entanto da independência
mental e moral do indivíduo. O grupo enaltece o eu, isto é, a pessoa torna-se
mais corajosa, mais pretensiosa, mais segura, mais atrevida e imprudente, mas o
si-mesmo é minimizado e relegado ao plano de fundo em beneficio da média geral.
Por isso todos os fracos e inseguros querem pertencer a sociedades e
organizações, se possível a países com 80 milhões de habitantes. Aí sim o
indivíduo é grande porque é idêntico a todos os outros, mas perde seu si-mesmo
(isto é, a alma que é cobiçada e tomada pelo demônio!) e sem livre arbítrio
individual. Mas o grupo só imprensa o eu contra a parede quando este não mais
concorda com o grupo em suas opiniões. Por isso a tendência do indivíduo no
grupo é concordar o máximo possível com a opinião geral ou, então, impor sua
opinião ao grupo. A influência niveladora do grupo sobre o indivíduo é
compensada pelo fato de que um deles se identifica com o espírito do grupo e se
torna líder. Por isso haverá no grupo sempre conflitos de prestígio e poder que
se baseiam no egoísmo exacerbado da pessoa grupal” (JUNG, C. G. Cartas de C. G.
Jung. Volume II. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 387).
Desculpe-me
pela longa citação, mas não poderia omitir nenhuma palavra de tão sábia e atual
postura (carta de Jung para Hans A. Illing, de 1955), quanto ao processo de
adaptação social a que todos nós estamos sujeitos.
Desde
a infância nos adaptamos às normas coletivas, mas a adaptação social se torna
um grande problema quando nos dirigimos pela opinião do grupo, e não precisa
ser necessariamente a da maioria e permanecer neste nível, ainda que pudéssemos
nos diferenciar. Basta percebermos que estamos sozinhos ou acompanhados por um
pequeno grupo, que tendemos a nos ajustar à opinião majoritária. Fenômeno
recorrente no meio político, eclesiástico, educacional e científico.
Quando
você deixa de ser você mesmo para se orientar pelas opiniões de um grupo, você
prejudica as suas relações com as outras pessoas.
Por que?
Porque você adapta as
perspectivas das suas próprias condições e problemas às perspectivas das
condições e problemas de outras pessoas, ficando dependente delas.
Porque você abafa a voz
crítica interna, sujeitando-se a boatos, mexericos; entretanto, ainda que o que
se ouve seja verdadeiro, você pode optar pelo lado errado e contrário ao
movimento do si-mesmo (Self), isto é, ao poder transpessoal que transcende ao
que considera bom e melhor para você, perdendo a oportunidade de renovar sua
vida e trazer novo sentido à sua existência.
Porque você se aventura a
ficar fanático, compensando suas dúvidas por “certezas” que tomam o lugar do
Sagrado, incorrendo no perigo de blasfêmia.
Porque resignar-se, você
passa a duvidar de si mesmo, do quanto de vida verdadeira carrega dentro de si
mesmo.
Porque deixa de reconhecer,
com humildade, que o mundo não é só seu.
Porque toda vez que
“conflitos de prestígio e poder” estiverem presentes, você não possui mais a
energia transformadora do amor.
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