A realização da Jornada Mundial da Juventude,
no Rio de Janeiro, desde o dia 22 de Julho, nos leva a alguns questionamentos,
como por exemplo: Qual a relação entre religiosidade, espiritualidade ou a sua
ausência e qualidade de vida, especialmente, entre os jovens? Que dinâmica
psíquica envolve o crer, como também, o não crer, durante o período da
juventude? Experiências religiosas contribuem para a melhora da qualidade de
vida das pessoas?
Segundo
Geraldo José de Paiva, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo, e Wellington Zangari, psicanalista e doutor em Psicologia pelo mesmo
Instituto: “Tanto no ateu como no devoto agem os mesmos dinamismos
inconscientes e conscientes. Em ambos os casos, necessariamente, à base de
tudo, estão os desejos e carências infantis (alguns neuróticos, outros não).
Dependendo do itinerário de maturação de cada indivíduo, os “desejos”,
“ilusões” e “falhas” podem ou não ser psicologicamente superadas e integradas.
Se assim é, ao ateísmo como à devoção devem ser aplicadas as mesmas regras
hermenêuticas de análise e interpretação do comportamento” (A representação na
religião: perspectivas psicológicas. São Paulo: Loyola, 2004, p. 281).
Apesar
do tema “fenômeno religioso” ter sido ignorado durante muito tempo pela
psicologia, entretanto, na atualidade, o interesse em estudá-lo é cada vez mais
intenso, e não somente pelas diferentes correntes religiosas.
A
juventude, segundo o psiquiatra criador da Teoria do Desenvolvimento
Psicossocial na Psicologia, Erik Erikson (1902-1994), é o período no qual
buscamos por compreender a nós mesmos e a uma identidade pessoal que nos
garanta uma ampla convivência com os outros, processo que se dá em meio a
muitos conflitos íntimos (O ciclo de vida completo. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1998).
Neste
sentido, para muitos jovens: “A religião se consolida como uma das principais
formas de organização grupal nos tempos atuais”, conforme a psicóloga e
doutoranda em Psicologia Social pela USP, Camila Mendonça Torres (Religião e
Psique: Psicologia Social: Estudos de Religião e Protestantismo. São Paulo:
Reflexão, 2012, p. 189).
Imersos
numa realidade insensível ao Sagrado, muitos jovens têm na religião, um dos
poucos caminhos de experimentá-lo; cercados num contexto sócio histórico, mediado
pelo império do consumo, enxergam o Sagrado além dos limites dos “casulos” que
a religião institucionalizada insiste preservar, sem, contudo, a devida
percepção de que Dele estão vazios; rodeados pelo empirismo observável, que não
indicam perspectivas dignas de esperança, muitos jovens não perdem as
possibilidades de transformação espiritual, e experimentam uma vida mais
profunda e atenta aos mistérios da existência, sem cair na armadilha da
superficialidade estéril.
Deus
nasce da experiência subjetiva de cada um de nós, deriva Ele de causas externas
ou internas, e se assim é, se as tradições religiosas se se fecharem à
pluralidade da subjetividade humana, certamente serão rejeitadas por que
perderam a plausibilidade por reificarem o Sagrado, confundindo o Inefável com
o ícone, tornando-se representante do “poderoso” literalismo bíblico e/ou
teológico. Porém, se devidamente respeitarem o empreendimento criativo atuante
na subjetividade dos homens, as imagens fossilizadas pelas tradições religiosas
podem se encher de nova sacralidade, e levar, não só aos jovens, a se reaproximar
e receber a presença do divino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário