Eu sou diferente de você. Você é
diferente de mim.
Óbvio,
não?
Nem tanto, pois
são muitos e enormes os problemas que criamos e sofremos porque perdemos esta
dimensão da vida. Não toleramos as semelhanças nem as diferenças. Preferimos a
previsibilidade, a homogeneização, mas não que o outro seja mais um
protagonista.
A
presença do outro constitui um mundo ao qual pertenço, ainda que não seja o
meu, e que me constitui para mim mesmo e, também, para o outro. Ao comparar o
outro comigo, tendo a procurar excluir, de diversas maneiras, a possibilidade
de reconhecer as nossas diferenças. É por isso que os “poderosos” não acolhem a
diversidade, têm baixa tolerância à singularidade de opiniões, porque sentem
seu mundo ameaçado pela existência de que outro mundo é possível. Daí as
múltiplas formas de agressividade, na tentativa de excluir o outro.
No
fundo, a alteridade nos desafia quanto ao destino que precisamos dar a
agressividade. A alteridade exige sairmos de nós mesmos, a fim de nos vermos
através do outro. Quando não agimos assim nos tornamos agressivos,
interrompendo o rico processo de construção da alteridade.
A
obstrução desse processo mantém o indivíduo indiferenciado quanto a si mesmo,
interdita seu processo de individuação, isto é, dificulta a torná-lo a si
mesmo, inteiro, indivisível e distinto de outras pessoas ou do coletivo, que as
diferenças do e com o outro permite.
Afastar-se
do outro porque é diferente, impede o autoconhecimento, adia o contato com
fatores próprios necessários para ser mais sábio, um ser humano melhor, inibe a
ampliação da consciência, e mantém vivo um sistema de autoproteção que reprime
avançar à maturidade.
Conforme Carl
Gustav Jung (1875-1961): “Quanto mais forte for a normalização coletiva do
homem, tanto maior será a sua imoralidade individual” (Tipos psicológicos. 4ª
Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987, p. 527). Isto é, quanto maior a
rigidez no estabelecimento de valores e normas de convivência com o outro, das
crianças aos idosos, dos pobres aos ricos, dos crentes aos seculares, dos
mestres aos aprendizes, dos cumpridores de seus deveres aos criminosos, na
tentativa de eliminar as diferenças, e, infelizmente, através da agressividade,
nada se revela mais forte do que a nossa imoralidade. E, por que é imoral?
Por
que: “O agressivo possui uma personalidade narcisista. Nutre por si próprio um
sentimento de grandeza, exagerando sua própria importância. Tem excessiva
necessidade de ser admirado e aprovado, é arrogante, egocêntrico, evita
qualquer afeto, acha que todas as coisas lhe são devidas. Ele critica todos que
o cercam, mas não admite ser questionado ou censurado. Está sempre pronto a
apontar as falhas. É insensível, não sofre, não tem escrúpulos, explora, e não
tem empatia pelos outros. É invejoso e ávido de poder. Para o agressor o outro
é apenas “útil” e não merece ser reconhecido em sua alteridade”, segundo o
professor e supervisor do Núcleo de Psicologia Analítica da Universidade
Presbiteriana Mackenzie Paulo Afrânio Sant’Anna (3º Congresso Brasileiro de
Psicoterapia Junguiana, EPPA. Universidade Cruzeiro do Sul: São Paulo, 2008, p.
115).
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