O que está preto em nosso País, simbolizado
pelas bandeiras negras hasteadas no Rio de Janeiro, no último dia 7 de
setembro, não é difícil perceber: as péssimas condições de funcionamento dos
serviços públicos; o superfaturamento em obras; a impunidade a políticos comprovadamente
criminosos; programas econômicos que levam as pessoas a contraírem mais
dívidas; sistemas de transporte coletivo, público e privado, caros e sucateados;
ruas e avenidas esburacadas, com trânsito cada vez mais lento; desigualdade
social muito grande; execução de obras que atendem a interesses particulares e
o abandono, à própria sorte, de populações miseráveis, que servem como massa de
manobra em época de eleições; analfabetismo; negligência e indiferença para com
as crianças, idosos e outras minorias sociais; etc. A lista é grande!
Numa
sociedade democrática, as soluções passam pelas ações político-sociais. Quer
dizer, as responsabilidades precisam ser compartilhadas pelos representantes do
povo, e pelos cidadãos. Cabe aos cidadãos cobrar dos agentes públicos, ações
que atendam a coletividade. Contudo, cada um de per si precisa se lembrar que
todas as situações sociais se originam do fundo inconsciente que opera
subliminarmente.
Segundo a
perspectiva da psicologia analítica de Carl Gustav Jung (1875-1961), se quisermos
ter uma experiência de nós mesmos e da vida, e consequentemente, de uma
sociedade mais consciente de seus direitos e deveres, o inconsciente coletivo e
pessoal, através de sua linguagem simbólica, geralmente, apresentada em nossos
sonhos – atividade onírica –, é o nosso mais fiel guia e conselheiro. Cabe-nos
analisar, interpretar e enfrentar as realidades apresentadas pelo inconsciente,
e principalmente, quando nos faz senti-lo por meio de um estado negativo, como
se tem apresentado nestes últimos tempos, golpeando a nossos mais profundos
anseios sociais.
Conforme
James Hillman (1926-2011), psicólogo e analista junguiano estadunidense, “o preto
extingue o mundo colorido perceptivo” (Psicologia alquímica. Petrópolis: Vozes,
2011, p. 134).
A
realidade brasileira nos indica que estamos cercados de trevas, e isto não é
pessimismo, antes, reconhecimento necessário para nos por em movimento, para
construir uma sociedade melhor, pois nada pode ser considerado fixo entre os
humanos, nem mesmo a pretensa segurança que as riquezas produzidas podem
proporcionar.
Aquelas
bandeiras negras simbolizam que estamos passando por uma mudança de paradigmas,
daí o sentimento de ameaça e insegurança generalizado, por não sabermos o rumo
a que as situações podem nos levar. Mas, isto faz parte do processo, se
quisermos uma transformação real, em busca de novas metas.
“Cada
momento de enegrecimento é um arauto da mudança, de descoberta invisível e de
dissolução das ligações com tudo aquilo que foi tomado como verdade e
realidade, fato sólido ou virtude dogmática. Ele escurece e sofistica o olhar
de forma que ele pode enxergar através” (Hillman, p. 136).
E,
o que é possível “enxergar através” da situação que se nos apresenta?
Que
as estruturas sociais e políticas que nos impedem novas conquistas precisam ser
dissolvidas; que, por melhor que possa ser alcançado, não podemos nos satisfazer,
pois o inconsciente não para de agir e a golpear-nos, pois visa a nos levar
para mundos ainda melhores.
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