Alguns jornais destacaram, pejorativa e
negativamente, que no monumento a Zumbi dos Palmares, na Praça Onze, na cidade
do Rio de Janeiro, alguns integrantes do grupo Black Bloc, hastearam bandeiras
negras no lugar das do Brasil, do estado e do município do Rio, no último dia 7
de setembro.
Entretanto,
o jornalista Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, afirma que tais
coberturas se propõem a desmoralizar o coletivo de produções culturais como
“Fora do Eixo” e “Mídia Ninja”. Para Dines: “Os Ninja capazes de entender o
conceito de renovação (da mídia) poderão dar sentido e direção a uma mídia engessada
e baratinada (cultural e politicamente dos grandes grupos de comunicação do
País)” (www.observa- toriodaimprensa.com.br/news/view/hipolito_da_costa_era_ninja).
Porém, é
importante ressaltar: o hasteamento das bandeiras negras tem um significado simbólico,
não só para a mídia, mas para o País.
De
acordo com James Hillman (1926-2011), psicólogo e analista junguiano estadunidense,
para a psicologia dos primitivos (hindus e povos ao sul do Saara), as cores
(preto, branco e vermelho) governam o mundo, e: “Apresentam a realidade
fenomenal do mundo, o modo como ele se mostra e, como agentes operativos no
mundo, são princípios formativos primários” (Psicologia Alquímica. Petrópolis:
Vozes, 2011, p. 128).
Para
Hillman, desde o século XV, o preto é tomado como a cor do mal, da sujeira, da
imundice, do maligno, do sinistro, do desastroso, do mau. No grego antigo, e em
algumas línguas africanas, a cor preta era empregada como sinônimo de doença,
sofrimento, feitiçaria e má sorte. De lá pra cá, atribuímos à cor preta, uma
maldição especial, graças à capacidade ocular, por onde tomamos consciência do
mundo das coisas e dos outros, e formamos nossos valores. Parece que isto
explica a rejeição sociopolítica aos grupos de manifestantes mais ativos que os
meios de comunicação conservadores querem nos fazer ver para crer que lhes
faltam as virtudes morais, caso estivessem vestidos de branco, mas, com um
importante e sério agravante: a privatização do nosso olhar.
Não
é de hoje que a realidade brasileira, simbolicamente, é negra. Até chegamos a
dizer: “A coisa está preta”. Isto quer dizer, lamentavelmente, que somos um
povo exausto, seco, paralisado, deprimido e confuso, e não doente, sofrido,
infeliz, marcado para morrer.
Nem
a mídia conservadora, nem mesmo o grupo Black Bloc, podem nos fazer ver para
crer que estamos irremediavelmente perdidos, mas simplesmente, estão a nos
indicar que se as coisas estão “pretas”, é por que estamos diante de uma grande
escuridão que precisa ser enfrentada.
Longe de sermos
um povo fracassado, ou que nossos métodos de resolver os problemas estão
errados, as bandeiras pretas sinalizam que estamos em processo de realização de
um projeto novo, que estamos trabalhando para um Brasil diferente surgir além
daquilo que até agora era percebido como terra de que em se plantando tudo dá,
um gigante adormecido, país do futuro, gente hospitaleira e de paz.
Neste momento, é bom olhar para as nossas raízes
religiosas, outra forma de psicologia primitiva, quando nos ensina: “Por que olhas o
cisco no olho de teu irmão, e não percebes a trave que há no teu? Como
podes dizer a teu irmão: 'Irmão, deixa-me tirar o cisco no teu olho', quando
não vês a trave em teu próprio olho?” (Lucas 6.39-42).
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