Não são poucas as situações em que as pessoas, mas
especialmente as crianças, não conseguem controlar por uma vontade própria
consciente, os impulsos agressivos, principalmente porque elas ainda se
encontram no início dos estágios de aprendizagem consigo mesmas. Na realidade,
a consciência de que se é o maior e único problema a ser enfrentado na vida, só
é adquirida na passagem pelos diversos estágios da vida.
Quem não se sente como um “problema” a ser resolvido por si
mesmo, mas pelos pais, escolas, credos religiosos e sociedade ainda não alcançou
um nível maior de consciência, ou como afirma a psicologia analítica, uma noção
de que se é um indivíduo que está em constante processo de diferenciação do
grupo a que pertence, ou da coletividade.
Todos têm a oportunidade de adquirir uma consciência mais
ampliada, mas somente alguns poucos a experimentam porque a maioria se recusa a
arrepender-se, isto é, a mudar de mente, preferindo permanecer inconsciente.
Entretanto, este processo é contínuo, implacável e insistente, ainda mais
quando os incômodos emocionais acentuam-se, pois a vida se faz ao perceber que
deuses e demônios, luz e trevas, bem e mal precisam ser integrados na
experiência pessoal.
E, parece que muitos pais, escolas, credos religiosos e a
sociedade em geral não querem que percebamos que não somos seus principais
problemas. Um grande motivo para isso: acreditam que esta seja a única maneira
de manterem o poder e o controle que acreditam possuir sobre nós. Por isso não nos
tratam como indivíduos, mas como “ovelha negra da família”, “aluno problema,
futuros marginais”, “hereges que põem em perigo a sã doutrina” ou “necessitados
de dirigentes políticos”.
À medida que a consciência pessoal se amplia, no caso da
família, percebe-se que muitas das advertências parentais vinham carregadas das
suas frustrações, das suas vidas não vividas; no caso da escola, que as ordens
dos professores se definiam mais por suas inseguranças, idealismos e obsessões
de perfeição que eles mesmos não conseguiam alcançar; no caso dos líderes
religiosos, que não guardavam nossas almas, porque é mais fácil abandonar os
pecadores que cometem os mesmos pecados e não perdoar, pois se importavam mais
com a aparência exterior da prática religiosa e os moralismos vazios de
significado para a vida, mas supervalorizados pela instituição, numa grandiosa
distorção à mensagem que dizem acreditar; no caso da sociedade, em especial a
classe política, que seus programas propunham a enaltecer “obras” que atendem a
grupos, que se preocupa em omitir seus crimes, principalmente, contra os mais
pobres, que não está preocupada em corrigir nada, mas tão somente a se
proteger, sem perceber, entretanto, que, assim, nos pede que não mais votemos
nela.
Segundo a psicologia analítica, os afetos, sentimentos que
causam agitação psíquica ou outros distúrbios psicomotores, contribuem para a
formação e a ampliação da consciência porque “nos acontecem” (SAMUELS, A.
Dicionário crítico de análise junguiana. Rio de Janeiro: Imago, 1988, p. 20),
isto é, o afeto é um impulso que nos toma toda vez que alguma ferida psíquica é
tocada por alguém ou por alguma situação.
E, a agressividade é um destes afetos que implica numa das
coisas mais caras para cada um de nós: a imagem que temos de nós mesmos. Quer
dizer: a agressividade nos ajuda a perceber nossos valores positivos e
negativos, levando-nos a uma apreciação positiva ou negativa aos nossos
próprios olhos, e a buscar por algum merecimento, como também, possibilita, em
caso de se ver “deformado” por alguma atitude ou emoção, a buscar uma reparação
que visa a ampliar, ainda mais, a consciência.
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