“A fé que se tem no nosso mundo e no
poder do ser humano tornou-se – apesar de afirmações em contrário – a verdade
prática e, por enquanto, inabalável” (JUNG, C. G. Um mito moderno sobre coisas
vistas no céu. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 15).
Com isto, o psiquiatra suíço Carl
Gustav Jung (1875-1961), critica o espírito soberbo que guia a prática
científica quanto aos avanços tecnológicos alcançados, e desprezo acadêmico
sistemático e sistêmico quanto a outras formas de conhecimento acumulados
durante milênios da história humana.
A Cibercultura é parte de uma
realidade da qual parece não haver mais volta, devido a sua onipresente
influência sobre nós, definidos pelas contingências do mundo tangível. Experiências
pessoais e reais parecem ficar, cada vez mais, no passado, mesmo quando datam
de milhões de anos.
A utilização da tecnologia das
comunicações virtuais tem gerado novos sofrimentos psíquicos. Pelo mundo afora
encontramos núcleos de pesquisas quanto à psicologia e suas interfaces com a
informática, que estudam o agravamento do medo, da depressão, da paranoia, da
angústia, do ciúme, da síndrome do pânico, do transtorno bipolar, do TOC, da
TPM, entre outros, mesmo diante de tanto avanço tecnológico.
As facilidades oferecidas pelos
serviços virtuais – informações, acessos aos serviços públicos, privados e
bancários, compras on-line, sistemas de comunicação – já estão motivando o
aparecimento do fenômeno “Digital Detox”, uma espécie de “dieta digital,
desconexão, abandono da rede, um afastamento da tecnologia e das mídias
digitais [...] para restabelecer algum equilíbrio nas vidas dos usuários [...]
que desenvolvam atividades como aulas de culinária, pesca e leitura de um livro
em papel, conversar, ler e jogar jogos [...] a serem mais conscientes do uso da
tecnologia” (Masuma Ahuja. Precisa de um descanso da internet? Estadão:15/11/13,
p. B16).
Outro grave problema do mundo dos
websites: a fixação em tudo que é de ordem material. A tecnologia eletrônica
nos separou do calor humano e do sagrado. Somos vítimas da nossa fantasia de
que formamos uma espécie independente uns dos outros e da dimensão
transcendente, não porque inexistem, mas meramente porque resolvemos que
podemos viver sem eles.
Submetidos à exaustão das
informações em forma de imagens, permitimos nossa consciência livre e
imaginação criadora fique amordaçada a experiências sem sentido. Tanto no plano
coletivo quanto individual, o desafio é resgatar o sentido da vida, se abrir ao
prazer e à alegria do outro, sem o medo que o apego ao poder produz.
Temos
de enfrentar as condições a que o mundo WWW pode nos conduzir, marcado pelos
pensamentos obsessivos, caso não queiramos ser vencidos pelas partes que
insistimos mantê-las distantes de nossa vida – calor humano e a presença da
transcendência, da qual perdemos o apetite, por acreditar que todos os
mistérios foram desvendados com o advento do computador.
As
mídias nos querem fazer crer que somos “alguma coisa chapada, sem profundidade,
sem significado e cuja consciência se limita ao imediato, superficial e
consumível”, como afirma Maria da Graça Serpa, psicóloga, membro do Instituto
Junguiano do Rio Grande do Sul (O mito de Perseu e da Medusa e os processos de
petrificação. Cadernos Junguianos. v. 6, n. 6, agosto 2010. São Paulo: AJB,
2010).
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