sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A psique e o mundo virtual

            “A fé que se tem no nosso mundo e no poder do ser humano tornou-se – apesar de afirmações em contrário – a verdade prática e, por enquanto, inabalável” (JUNG, C. G. Um mito moderno sobre coisas vistas no céu. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 15).
            Com isto, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), critica o espírito soberbo que guia a prática científica quanto aos avanços tecnológicos alcançados, e desprezo acadêmico sistemático e sistêmico quanto a outras formas de conhecimento acumulados durante milênios da história humana.
            A Cibercultura é parte de uma realidade da qual parece não haver mais volta, devido a sua onipresente influência sobre nós, definidos pelas contingências do mundo tangível. Experiências pessoais e reais parecem ficar, cada vez mais, no passado, mesmo quando datam de milhões de anos.
            A utilização da tecnologia das comunicações virtuais tem gerado novos sofrimentos psíquicos. Pelo mundo afora encontramos núcleos de pesquisas quanto à psicologia e suas interfaces com a informática, que estudam o agravamento do medo, da depressão, da paranoia, da angústia, do ciúme, da síndrome do pânico, do transtorno bipolar, do TOC, da TPM, entre outros, mesmo diante de tanto avanço tecnológico.
            As facilidades oferecidas pelos serviços virtuais – informações, acessos aos serviços públicos, privados e bancários, compras on-line, sistemas de comunicação – já estão motivando o aparecimento do fenômeno “Digital Detox”, uma espécie de “dieta digital, desconexão, abandono da rede, um afastamento da tecnologia e das mídias digitais [...] para restabelecer algum equilíbrio nas vidas dos usuários [...] que desenvolvam atividades como aulas de culinária, pesca e leitura de um livro em papel, conversar, ler e jogar jogos [...] a serem mais conscientes do uso da tecnologia” (Masuma Ahuja. Precisa de um descanso da internet? Estadão:15/11/13, p. B16).
            Outro grave problema do mundo dos websites: a fixação em tudo que é de ordem material. A tecnologia eletrônica nos separou do calor humano e do sagrado. Somos vítimas da nossa fantasia de que formamos uma espécie independente uns dos outros e da dimensão transcendente, não porque inexistem, mas meramente porque resolvemos que podemos viver sem eles.
            Submetidos à exaustão das informações em forma de imagens, permitimos nossa consciência livre e imaginação criadora fique amordaçada a experiências sem sentido. Tanto no plano coletivo quanto individual, o desafio é resgatar o sentido da vida, se abrir ao prazer e à alegria do outro, sem o medo que o apego ao poder produz.
Temos de enfrentar as condições a que o mundo WWW pode nos conduzir, marcado pelos pensamentos obsessivos, caso não queiramos ser vencidos pelas partes que insistimos mantê-las distantes de nossa vida – calor humano e a presença da transcendência, da qual perdemos o apetite, por acreditar que todos os mistérios foram desvendados com o advento do computador.
            As mídias nos querem fazer crer que somos “alguma coisa chapada, sem profundidade, sem significado e cuja consciência se limita ao imediato, superficial e consumível”, como afirma Maria da Graça Serpa, psicóloga, membro do Instituto Junguiano do Rio Grande do Sul (O mito de Perseu e da Medusa e os processos de petrificação. Cadernos Junguianos. v. 6, n. 6, agosto 2010. São Paulo: AJB, 2010).

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