Em “A Pipa e a Flor” (São Paulo: Loyola,
2004), Rubem Alves nos brinda com uma parábola que trata da experiência humana
com as drogas.
A
Pipa, aos poucos, enfeitiçada pelos olhos da Flor, substitui a imensidão dos
céus pela altura dos muros que cercam o quintal; perde o desejo daquilo para o
que fora criada, submetendo-se às vontades, cada vez mais exigentes da
“florzinha”.
É
muito difícil manter a integridade física, moral, social, psicológica e
espiritual, diante do brilho das promessas que as drogas – álcool, cocaína,
cigarro, cerveja, crack, maconha – oferecem.
Entretanto,
o “encurtamento da linha”, os efeitos que o uso/abuso das drogas provoca à
vida, constitui-se numa oportunidade para alguns questionamentos.
O que
o “baseado”, o “copo”, a “garrafa”, o “cigarro”, a “seringa”, a “carreira”, a
“pedra” fala comigo – o que é que há em mim que me faz sentir ser tão parecido
com a droga? Que não sou forte o suficiente para assumir as consequências que
ela causa em mim e naqueles que estão perto de mim?
O
uso/abuso das drogas me colocou em contato com coisas a meu respeito que não estava
preparado, com um antídoto para enfrentar com responsabilidade ética e moral o
seu poder fascinante e perigoso, e me fez conhecer coisas a meu respeito que
não estava na hora de saber – que “coisas” são estas?
Entrei
num local interno/dentro de mim e tomei “algo” que não deveria tomar – o que é?
– e, o que fazer com isto? – qual o melhor destino que preciso dar a isto?
Entregar aos outros – familiares, amigos e sociedade – e deixar que eles façam
alguma coisa com aquilo que é meu e, que só eu posso cuidar? Por que não
assumir o cuidado comigo e com aquilo que saiu de mim, se estas coisas sou eu
mesmo?
Será
que o susto de ter as mãos cheias destas coisas não é suficiente para que eu
não continue trazendo de lá de dentro o que precisa ficar lá?
Por
que tornar como única opção o uso/abuso das drogas – não existem outras
dimensões em minha vida? Por que não aceitar as que existem? Como posso
perceber outras dimensões para viver?
Fugir
às dificuldades de assumir as frustrações, os limites, a baixa auto-estima, por
que não tomar estas situações como formas de assumir a vida como ela é, e não
como gostaria que ela fosse? Por que rejeitar a vida como ela é, se não é
possível transferir as responsabilidades para outros, porque eles também têm
suas frustrações, limitações e dificuldades?
Por
que penso “grande” a meu respeito – qual o meu real tamanho diante de mim, da
minha vida? Não sou grande o suficiente para não sofrer? Então, por que penso
que sou tão forte o suficiente para enfrentar a dependência química? Por que
sou tão fanático em acreditar que sou mais forte que as drogas? Por acaso, sou
“Deus”? Se sou, por que ser tão destrutivo assim, como posso me tornar uma
força benéfica, construtiva, libertária, agregadora?
Qual
é o meu objetivo quando pensamentos desastrosos me veem à mente? Se tive esses
pensamentos, qual a conclusão a que devo chegar? O que significa para mim o
fato de eu ter me metido nisso tudo, e chegar até a este ponto? Onde está a mão
de Deus em tudo isto, para o quê ela está apontando a meu respeito, que só
agora posso enxergar, apesar de todos os sofrimentos?
Quem vencerá a luta da vida: o egoísmo imoderado,
ou a ética com a própria vida? Qual o meu significado pessoal nesta vida?
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