Desde os
primeiros contatos com os adultos, as crianças testam se são ou não
correspondidas em suas diversas maneiras de estarem no mundo como seres vivos e
reais, capazes de provocar trocas interpessoais e subjetivas. É como se as
crianças tivessem um “dial”, através do qual percebem se estão ou não
sintonizados à vida, à sua existência. Não diferente com os adultos, afinal,
quase sempre “desconfiamos” se somos ou não aceitos no meio social em que
estamos ou que pretendemos participar. A diferença é que as crianças não fazem
escolhas, mas são postas nas situações que a natureza lhes impôs, no caso,
terem os pais que têm. Portanto, é responsabilidade dos pais ou dos cuidadores,
graças às suas vivências e maturidade afetiva, oferecerem um espectro mais
amplo de trocas interpessoais e subjetivas às crianças, se quiserem que os
pequenos vivam de modo mais “sintonizado” possível, segundo Mario Jacoby
(Psicoterapia junguiana e a pesquisa contemporânea com crianças: padrões
básicos de intercambio emocional. São Paulo: Paulus, 2010).
Adultos e crianças estão, a todo
tempo, procurando sintonizarem-se uns aos outros, desde os olhares e movimentos
dos braços em direção à mãe na tenra infância, e nas diversas tonalidades dos
choros das crianças e das vozes dos adultos, passando pelos gestos e/ou pelos
silêncios de ambos, em constante avaliação, se são ou não correspondidos
suficientemente.
Quanto mais “dessintonizado” for o
relacionamento entre as crianças e os adultos, especialmente com os seus pais
e/ou cuidadores, os problemas de ordem psíquica aparecem e se desenvolvem.
A pergunta que se impõe é: Como a
criança experimenta as dessintonias com os adultos?
Mesmo
precocemente a criança sente os perigos de ter pessoas se aproximando de suas
experiências subjetivas – se são portadoras de riquezas mentais com as quais podem
se relacionar com segurança, ou se representam ameaças que distorcem ou se
apropriam, indevidamente, das suas experiências internas.
As
crianças percebem se os adultos são ou não autênticos com elas, se podem ou não
confiar neles, e é assim que desenvolvem a confiança nos outros e em si mesmas.
Assim,
pais e/ou cuidadores precisam saber interpretar as necessidades sociais das
crianças que podem ou não serem atendidas, procurando evitar as mensagens
duplas na comunicação do que eles querem delas. Quer dizer: os adultos precisam
atentar quanto às reais intenções que as crianças têm em relação a eles e aos
outros, para que suas interferências sejam bem sucedidas.
Mensagens
duplas deixam as crianças desorientadas, pois não sabem qual a melhor escolha a
tomar, se há momentos em que se sentem aceitas e rejeitadas em outros, e muitas
vezes pelas mesmas atitudes, sem saberem os reais motivos, ficando sempre ao
sabor dos humores dos adultos.
Não é difícil prever que os distúrbios
psíquicos, neste contexto, são danosos. É como se uma experiência afetiva
alienígena se implantasse na estrutura mental da criança, levando-a a revelar-se
uma pessoa diferente daquilo que ela poderia ser, se precisou ser corrigida e
não foi, como também, se bastava ser estimulada naquilo que não tinha tanta
importância, mas que foi reprimida.
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